COSTUMES BÍBLICOS: Os Salmos em seu contexto


Os Salmos em seu contexto

Os Salmos em seu contexto
Duas perspectivas têm sido bastante úteis no estudo atual dos salmos:
uma investigação sobre seu uso original;
e uma consideração sobre como os compiladores da coleção final viam os salmos.
Contexto festivo
Pelo que parece, o uso original dos salmos estava enraizado principalmente nas grandes festas de peregrinação. E das três peregrinações anuais (Páscoa/Pães sem Fermento, em março/abril; Festa das Semanas ou Pentecostes, em maio/junho; Festa dos Tabernáculos/das Barracas, em setembro/outubro), a última era especialmente apropriada para a criação de salmos.
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Salmos
Esta grande estação festiva de certa forma combinava os antecedentes do Ano Novo, do dia de expiação e da Festa das Cabanas do calendário judaico posterior. Por sua importância, podia ser chamada simplesmente de "a festa" ou "a festa do Senhor" (Lv 23.29; Jz 21.19; 1Rs 8.2,65).
Após seis meses de estiagem e sol escaldante, esta celebração de setembro/outubro era realmente uma época de "ano novo". Esperava-se o início da estação chuvosa, quando se podia dar início à aragem do solo e ao plantio. Mas as chuvas às vezes não vinham e o que imperava era a fome. Portanto, era, de fato, uma época para se reunir em oração e louvar ao Senhor pela vida (confira Zc 14.16-17).
Alguns salmos refletem a própria experiência da peregrinação (84; 122). Era uma jornada de comunhão e anseio por renovação na presença do Senhor. No início da festa era abordada a necessidade de purificação e expiação, e alguns salmos podem ter se originado das cerimônias que expressavam a fragilidade humana e a copiosa redenção de Deus (130; 51).
O próprio santuário era purificado e sua função de casa de Deus era reafirmada (87; 93; 132). Procissões com a arca em direção ao deserto oriental e de volta ao templo expressavam o poder que o Senhor tem de subjugar o caos (24; 29; 46; 48; 68). Era como a vitória sobre o caos no princípio da criação (74.12-17), e também como o início da ligação do Senhor com seu povo (50.5). Proclamava-se que ele agora de fato reinava, tendo afirmado sua supremacia, sua glória divina (47; 93; 95--99). Com a grande renovação vinha, também, uma visão de perfeição, o reino definitivo de Deus.
A renovada presença de Deus era festejada com gritos de alegria, música e dança, mas logo em seguida vinha a palavra que ele tinha a dirigir a seu povo através de uma voz profética. Aqui, a desejada mensagem de paz (85.8-11) podia, às vezes, dar lugar a advertências duras ou irônicas (50; 81; 95; Is 6). As orações por chuva e boa safra eram acompanhadas por cerimônias bem elaboradas - água era derramada sobre o altar no pátio, ramos verdes eram carregados, tochas eram erguidas, campos eram aspergidos. Vários salmos refletem a esperança de tais bençãos (65; 126--128; 133).
De 1000 a 587 a.C., os reis da linhagem de Davi convocavam e presidiam essa festa. Era a época adequada para sua primeira instalação (ou entronização) e para renovações subsequentes. Sabia-se que o único rei verdadeiro era Deus, cuja realeza era mediada através do seu servo escolhido Davi e sua dinastia. Este ideal era expresso em cerimônias dramáticas (evidenciadas em 2; 18; 21; 72; 89; 110; 118). Humildade, justiça, cuidado pelos pobres, fé -- com tais qualidades, declaravam os salmos e as cerimônias, o Servo real do Senhor seria vitorioso e todo o mundo seria salvo.
Indivíduos em dificuldades
Durante o resto do ano havia várias ocasiões para uso de salmos no templo. Além das ofertas matutinas e vespertinas e outros dias santos estabelecidos, havia ocasiões de crise na vida do rei, da nação (44; 79; 80; 83) e de indivíduos.
Acredita-se que cerca de 20 salmos pertencem a situações de julgamento no santuário, uma espécie de teste sagrado quando a evidência normal era insuficiente (1Rs 8.3-32). Nestes salmos, a pessoa protesta inocência, pede justiça e denuncia difamadores e outros adversários (3--5; 7; 17; 26; etc.). Os finais que expressam confiança são considerados reflexos de um veredicto favorável ao requerente.
Outros pensam que estes e muitos outros salmos são orações de fugitivos pedindo asilo ou salvo-conduto, o que explicaria as orações por refúgio e abrigo sob a proteção de Deus. No entanto, não há evidência de que os salmos eram cantados nesses contextos jurídicos ou adaptados de inscrições deixadas no templo por tais requerentes. 
Uma teoria mais duradoura relacionada com muitos samos de súplica individual é que Davi ou um descente orava (ás vezes num altar externo) quando ameaçado por inimigos no campo de batalha, por rebeldes, doenças e assim por diante. Também é possível que o rei estivesse se preparando para dormir no santuário, à espera de uma visão e palavras de afirmação (17; 63; etc.). Estes salmos geralmente têm características reais e envolvem as pessoas; uma interpretação real se aproximaria da tradição de que o próprio Davi compôs esses salmos.
Piedade em tempos posteriores
Um contexto um tanto diferente foi sugerindo para alguns salmos considerados de origem mais recente (1; 19; 34; 37; 49; 111--112; etc.) e que parecem refletir o contexto de reuniões de estudos. O ensino e o debate podiam ser concluídos com um salmo de ação de graças ou que fizesse um resumo dos ensinamentos. Assim, ensinava-se o caminho da sabedoria e a felicidade derivada da devolução à palavra ou lei do Senho. É possível que em tais reuniões tenha se desenvolvido a semente da crença na ressurreição (49; 73).
Organização
Deixando de lado os contextos originais, o que os salmos significavam para aqueles que compilaram o livro? Suas convicções foram recentemente estudadas à luz da organização do livro de Salmos. Parece que relacionavam os salmos especialmente com  o reino messiânico, a tarefa diária da oração e meditação, e a atividade abrangente do louvor.
Assim sendo, colocaram o Sl 2 no início do maior grupo associado com Davi (3--41), para indicar que o personagem real agora havia sido absorvido pela esperança do rei perfeito que haveria de vir, o Messias. Os salmos sempre estiveram ligados à profecia (1Cr 25.1-3), mas agora este aspecto passou a receber destaque, como também viria a acontecer no período do NT.
A colocação do Sl 1 no início de toda a coleção também deve ter um significado profundo. Ali, o salmo exalta a "felicidade absoluta" da pessoa que rejeita influências malignas e se entrega de corpo e alma ao ensinamento do Senhor, sua palavra e vontade, uma comunhão permanente que (como parece ficar implícito) a coleção seguinte de salmos pode alimentar e fortalecer.
E então a coleção foi fechada de forma maravilhosa com o Sl 150, que mantém viva a alegria visionária da grande festa em todas as gerações, especialmente para nós, já que o reino se manifestou na obra de Cristo. Diante da revelação de Deus, todos no céu e na terra cantam louvores. Os dançarinos e músicos no centro representam a alegria pulsante, não apenas da humanidade, mas de cada ser vivo envolvido pela vontade do Criador de que tudo termine bem. Portanto, os compiladores indicadores indicam que este é, afinal de contas, o propósito de sua coleção de salmos.


Um comentário:

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E peço isto: que o vosso amor cresça mais e mais em ciência e em todo o conhecimento,
Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo;
Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11

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