COSTUMES BÍBLICOS: junho 2018


Discípulos e Apóstolos

DISCÍPULOS E APÓSTOLOS
Embora todos os seguidores de Jesus tenham sido considerados discípulos, porque o reconheceram como Mestre, seguindo seus ensinamentos, havia pessoas de diferentes graus de proximidade com o Mestre, de aprendizagem e de responsabilidade.
Havia uma grande massa de partidários de Cristo, de discípulos dele na acepção mais ampla desta palavra, como vemos em Atos 6.2, onde é dito que havia uma multidão de discípulos que morava em Jerusalém. Porém, existiam seguidores, cujo número era muito menos numeroso e mais estritamente unido a Jesus, que também eram chamados de discípulos; entre eles: Pedro, André, Tiago, João , Felipe, Natanael, Tomé, Mateus, Tiago, Simão, o zelote, Judas Iscariotes (Mt 10.2-4) - que os evangelistas chamam de apóstolos, seu primeiro e mais usado título, conservado depois de sua eleição; posteriormente, os 72 discípulos discípulos (Lc 10.1-24), os 120 discípulos que se reuniram no cenáculo depois da ascensão de Jesus (At 1.15), e os 500 discípulos, a quem o divino Ressuscitado se manifestou na Galileia (1Co 15.6). Todos estes discípulos formaram em torno de Jesus, até o fim da sua vida terrena, três círculos concêntricos, que o rodearão com suas fiéis homenagens.
Marcos e Lucas expõe em termos simples, porém graves e solenes, a comovedora cena da eleição dos apóstolos. Marcos observou: [Jesus] E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus.E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos (Lc 6:12,13).
Mateus não mencionou sobre os apóstolos nenhum fato de sua vocação, senão muito depois, por ocasião da missão que o Mestre lhes confiara de ir levar as boas novas por toda a Galileia: E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem e para curarem toda enfermidade e todo mal (Mt 10.1).
A maneira de cada evangelista falar sobre esta ocasião supõe que formavam, há tempo, um corpo distinto. O lugar em que Marcos e Lucas se referem à eleição está em melhor correspondência com a ordem cronológica. esta designação, cuja importância já temos ponderado, o Senhor a fez imediatamente antes de pronunciar o Sermão do Monte.
Muito se alegra a nossa piedade ao saber exatamente qual foi o monte em que aconteceram estes dois fatos; mas, ainda que a indiquem com a designação monte, ou seja, um lugar elevado por excelência, que supõe ser de todos conhecido, nenhum dos evangelistas nomeia o monte. Do conjunto dos três relatos, podemos inferir apenas que este não estava muito longe da margem ocidental do lago de Genesaré.
Pois bem, precisamente no maciço montanhoso que se estende ao longo do lago de Tiberíades, há uma colina de singular figura, de 346 metros de elevação sobre o nível do mar Mediterrâneo, à qual os árabes dão o nome de Karn ou Kurun-Hattin, Chifres de Hattin, que muito bem pode ser a montanha das bem-aventuranças.
Montanhas do Djalon
Seu cume, que na parte sul se eleva entre 50 e 60 metros sobre o nível do caminho, alcança, pelo lado norte, a altura de cerca de 200 metros sobre o vale. Desta fenda, divisa-se um panorama agradável. Em frente, estão as tranquilas águas do lago, em cuja superfície se refletem as colinas próximas. Do outro lado, as montanhas do Djalon, descendo até suas margens e fechando o horizonte.
À direita, na direção sul, há uma planície baixa, e mais longe, o monte Tabor, cujo cume, no meio de outras montanhas, parece a corcova de um dromedário. À esquerda, na direção norte, ergue-se o monte Hermon, com sua cabeça coberta de neve.
No cume dessa graciosa colina, há uma meseta, de uma centena de metros de comprimento e termina, em seus dois extremos, por duas pedras finas e pontiagudas que, vistas de longe, parecem dois chifres; daí o seu nome atual.
Antes do século XIII não se encontravam vestígios da tradição que situa nesse monte a cena da eleição dos apóstolos e do sermão do Mestre. Talvez a raridade de sua forma, que se divisa desde longe, tenha sugerido esta identificação. Tal hipótese nada tem de inverossímil, dado que este lugar é, ao mesmo tempo, solitário, conforme Jesus desejava, e de fácil acesso, o que explica a presença da numerosa multidão que até ali seguiu Jesus (Mt 4.25; Lc 6.17).
Detalhes sobre a eleição dos Doze
Voltemos aos preciosos pormenores que Marcos e Lucas nos conservaram sobre a eleição dos apóstolos. Jesus, querendo dar a este ato toda a solenidade que ele merecia, subiu uma tarde ao monte, com um número considerável de discípulos, e juntos passaram a noite naquele lugar. Mas, enquanto os discípulos se entregavam ao sono, Jesus dedicou aquele tempo a uma fervorosa oração: E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus. E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos (Lucas 6:12,13).
Jesus passou a noite em oração, falando com o Pai celestial. Certamente perguntou-lhe se estava de acordo com a escolha que faria e pediu-lhe graça para aqueles a quem confiaria uma responsabilidade tão imensa e tão sublime. Aquela foi uma das súplicas mais sérias que o Filho de Deus fez durante a sua vida pública.
Pela manhã, Jesus chamou e reuniu os discípulos que havia levado consigo para a montanha. Em seguida, perante aquela assembléia tão respeitável, que para nós representa o início da Igreja Primitiva (Igreja Cristã), ele foi proclamando um por um os doze eleitos. Estes, saindo dentre os demais, colocaram-se mais perto de Jesus, felizes e nobremente orgulhosos por terem sido investidos de uma responsabilidade tão honrosa.
Marcos acrescentou um significativo detalhe: Jesus chamou para si os que quis (Mc 3.13), os que julgou mais aptos para as funções que lhes confiaria, os que havia encomendado ao Seu Pai em sua longa oração. Jesus os elegeu segundo a sua própria vontade, como um ato de seu livre-arbítrio, conforme, tempos depois, ele recordaria aos apóstolos: Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai Ele vos conceda (Jo 15.16). A mesma coisa expressaria ao dizer ao Seu Divino Pai: Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra (Jo 17.6).
A regra que Jesus seguiu para a eleição dos doze apóstolos, sem dúvida, foi a mais rigorosa. Ele não aceitava como discípulo seu qualquer um que se oferecesse, que desejasse acompanhá-lo continuamente; apenas aqueles que ele mesmo chamasse (Mt 4.19-21; 8.18-22; Mc 5.18-26; Lc 10.1-16), porque era conveniente que o Rei e Messias nomeasse dessa maneira seus futuros ministros.
Jesus deu aos doze o nome de apóstolos; título muito significativo, pois significa enviados, mensageiros, embaixadores. Contudo, esse termo só é encontrado dez vezes nos evangelhos (em Mateus, uma vez: 10.2; em Marcos, uma: 6.30; em Lucas, seis: 6.13;9.10;11.49;17.5;22.14;24.10; em João, uma: 13.16 [o é termo traduzido como enviados na versão arc]).Conforme já observamos, Jesus costumava chamar os apóstolos de discípulos em sentido particular. Porém, depois da ascensão do Salvador, o termo apóstolo foi usado com mais frequência. A palavra é empregada cerca de 30 vezes em Atos e nas epístolas de Paulo. Lendo os Textos Sagrados, concluímos que foi Jesus pessoalmente quem deu aos recém-eleitos o glorioso título de apóstolos no momento da eleição; e a importância da missão deles era tal que passou a ser usado para designar especialmente os 12 discípulos mais próximos ao Mestre.
 
Emaús é uma cidade mencionada no
Evangelho de Lucas do Novo Testamento.
Lucas relata que Jesus apareceu,
depois de sua morte e ressurreição,
diante de dois de seus discípulos
enquanto eles estavam caminhando
na estrada para Emaús.
Nós só sabemos que Emaús estava 
ligada por uma estrada com Jerusalém.
O termo apóstolo tem, sem dúvida, um sentido simbólico, e é comumente admitido que, ao escolher doze apóstolos, nem mais nem menos, a intenção de Jesus foi unir visivelmente a Nova Aliança com a Antiga. Jesus elegeu doze apóstolos em memória dos doze patriarcas que haviam fundado as doze tribos, das quais se originou o povo de Deus. A similaridade é tanta que levou Jesus a fazer alusão aos doze que hão de julgar as tribos de Israel (Mt 19.28; Lc 22.30; Ap 21.12). Sem dúvida, por conta do sentido espiritual desse número, Pedro se sentiu obrigado, depois da ascensão de Cristo, a preencher sem demora o lugar deixado por Judas Iscariotes (At 1.21) no colégio apostólico.

A RELAÇÃO DOS NOMES DOS APÓSTOLOS

Depois destes pormenores sobre a eleição dos doze apóstolos, vejamos como os evangelhos sinópticos citam os nomes deles em três listas (Mt 5.2-4; Mc 3.16-19; Lc 6.14-16). Estas foram completadas com outra semelhante do livro de Atos (At 1.13). O quarto evangelho não nos dá a lista completa dos apóstolos, mas nomeia-os individualmente em distintas ocasiões: Pedro, André, João, e talvez seu irmão Filipe, Natanael (ou Bartolomeu), Tomé, Judas (ou Tadeu) e Judas Iscariotes.

A seguir, a relação conforme os sinópticos:

Mateus cita: Simão, André, Tiago, filho de Zebedeu, e João, Filipe, Bartolomeu, Tomé e Mateus.
Marcos cita: Simão e Tiago, filho de Zebedeu, João, e André, Filipe, Bartolomeu, Mateus e Tomé.
Lucas cita: Simão e André, Tiago e João, Filipe e Bartolomeu, Mateus e Tomé.
Atos cita: Simão, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Pedro, Bartolomeu, Mateus.

Em outra lista:

Mateus cita: Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão e Judas Iscariotes.
Marcos cita: Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão e Judas Iscariotes.
Lucas cita: Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelote, Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes.
Atos cita: Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelote, Judas, filho de Tiago.

Examinando estas quatro listas, percebemos que cada uma delas se subdivide em três grupos - três "quadrigas", conforme costumava dizer os antigos -, contendo sempre nomes idênticos. Pedro, André, Tiago, o Maior, e seu irmão João formam o primeiro grupo. Filipe, Bartolomeu, Tomé e Mateus, o segundo. Tiago, o Menor, Simão, o cananita ou zelote, Judas, ou Tadeu, e Judas Iscariotes, o terceiro. Mas é sempre o mesmo apóstolo que encabeça cada grupo: Simão Pedro no primeiro, Filipe no segundo, e Tiago, o Menor, no terceiro, mesmo que os outros não ocupem regularmente o mesmo lugar em seu grupo respectivo.
Além disso, nas listas do segundo e do terceiro evangelhos estão unidos de dois em dois pela conjunção e, talvez segundo uma classificação do próprio Jesus, quando enviou os doze para pregar pela primeira vez (em Marcos 6.7, é dito expressamente que Jesus os enviou de dois em dois).
Também parece que os nomes estão colocados de acordo com certa ordem de precedência: primeiro o nome dos apóstolos mais célebres, e depois o dos outros. Constantemente, o nome de Pedro é mencionado em primeiro lugar e, por último, o de Judas Iscariotes, sempre com o acréscimo destas observações infamantes: que havia de traí-lo; o que traía; o que o traíra; que o traiu; que foi o traidor.
Considerável foi a parte concedida por Jesus, na formação do corpo apostólico, aos laços de parentesco: Pedro e André eram irmãos; bem como Tiago, o Maior, e João; e provavelmente Tiago, o Menor, e Judas. Além disso, não teriam sido levados à dignidade de apóstolos alguns membros da família do próprio Jesus? Esta questão foi e ainda continua sendo muito debatida. Sem querer tecer muitos pormenores, indicaremos os principais motivos que nos inclinam a uma resposta afirmativa.

Primeiro:

Paulo, em sua epístola aos fiéis da Galácia, ao falar da visita que fez a Pedro em Jerusalém depois de sua conversão, disse: E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor (Gl 1.19). Na mesma epístola, Paulo considera o mesmo Tiago, com Cefas e João (Gl 2.9), como uma das colunas fundamentais da Igreja - o que equivale a considerá-lo entre os membros do colégio apostólico. O historiador judeu Flávio Josefo também se refere a Tiago, o Menor, como o irmão de Jesus.

Segundo:

Por outro lado, no princípio de sua epístola universal, Judas se declara irmão de Tiago, de onde se conclui que ele também era da família do Salvador. E, com efeito, a lista dos irmãos de Jesus, transmitida por Mateus e Marcos (Mt 13.55; Mc 6.3), contém os nomes de Tiago (Jacó) e de Judas (ou Judá). É bem verdade que estes nomes, que lembram os nomes dos ilustres patriarcas, eram muito frequentes entre os judeus, e poderiam muito bem ser achados em famílias sem qualquer laço de parentesco.
Contudo, é verdade que, conforme outros textos evangélicos (Jo 7.5; Mc 3.21), os irmãos do Salvador não criam na missão na época em que Jesus escolheu os doze apóstolos. Mas esta afirmação, ainda que verdadeira, não se refere a todos os irmãos de Jesus, pelo que pode muito bem ser que alguns fizessem parte do grupo dos doze. Devido a estas dificuldades - e também porque Lucas (At 1.14) e Paulo (1Co 9.5) parecem estabelecer uma distinção entre os apóstolos e os irmãos de Jesus -, não poucos comentaristas vacilam ou recusam francamente admitir a identidade. Contudo, nós a temos por extremamente provável.
Ao percorrermos essas listas dos apóstolos, concluímos quão pouco sabemos, fora o que nos dizem os livros do Novo Testamento, sobre a história desses eleitos de Cristo. Excederíamos os limites de nosso plano se quiséssemos dar um resumo, ainda que sucinto, dos fatos autênticos a respeito de cada um deles, transmitidos pelos antigos escritores. Apresentaremos aqui só alguns detalhes relevantes.
Citado sempre no início de cada lista, a condição de Pedro, chocante por seus altos e baixos, é retratada em vários episódios da vida do Salvador. O apóstolo Pedro era um homem resoluto e, ao mesmo tempo, vacilante; era audaz e tímido, impulsivo e generoso; enfim, um galileu até os tutanos. Tanto seu ardor como sua dignidade costumavam levá-lo a tomar a frente, para falar ou para agir, e mais de uma vez seria porta-voz do corpo apostólico. Pedro professou ardente amor por seu Mestre; contudo, depois de ter tentado temerariamente defendê-lo com a espada, negá-lo-ia covardemente. Mas, depois, esforçar-se-ia para reparar sua falta durante o resto de sua vida.
A André, irmão de Pedro e discípulo de João Batista, coube a glória insigne de seguir a Jesus primeiro junto com João, o discípulo amado (Jo 1.35-40). Ainda que a fama de André tenha ficado ofuscada pela de Pedro, ele pôde confirmar a significação do seu nome grego, que lembra virilidade e vigor, por seus trabalhos e por sua morte. É estranho que André não pertencesse ao pequeno grupo composto por Pedro, Tiago, o Maior, e João, ao qual o pregador João Crisóstomo chamou graciosamente de a companhia dos íntimos entre os íntimos.
Marcos nos informa que Jesus, sem dúvida, algum tempo depois, chamou os dois filhos de Zebedeu e de Salomé de Boanerges, que significa filhos do trovão - maneira muito própria dos orientais de fazer uma delicada alusão ao temperamento ardente e ao zelo empreendedor dos dois irmãos (Mc 9.38; 10.37; Lc 9.54; 1Jo 2.22; 3.8) ou, talvez, à eloquência arrebatadora deles.
Ao nome de Tiago, é normal acrescentar o epíteto o Maior, para distingui-lo do seu homônimo, Tiago, o Menor, talvez irmão de Jesus. Foi aquele que teve a glória de ser o primeiro apóstolo a ter seu sangue derramado pela causa de Jesus Cristo (At 12.2).
João, irmão mais novo de Tiago, o Maior, o discípulo amado, foi a quem o divino Salvador confiou o cuidado de Maria, sua Mãe. João organizou a Igreja em Éfeso (depois que Paulo esteve lá) e, dos doze apóstolos, foi o que viveu mais tempo, morrendo no final do século primeiro de nossa era. Ele não é admirado somente por ser apóstolo e amigo do Salvador, mas também por ser o autor do quarto evangelho, de três epístolas universais e do Apocalipse.
Conforme dissemos, costuma admitir-se, desde a Idade Média, que Bartolomeu é Natanael, aquele bom israelita a quem Filipe, seu amigo, conduziu a Jesus no começo da vida pública deste; aquele que, incrédulo no princípio, logo foi conquistado pelo divino Mestre (Jo 1.45-51). Esta identificação se fundamenta em várias razões.
Posto que quatro dos cinco personagens mencionados no final do primeiro capítulo de João chegaram a ser apóstolos, não há motivo algum para que somente Natanael ficasse excluído. E que outro, senão o de apóstolo poderia ser aquele superior ofício que o próprio Jesus, na passagem citada, disse ter reservado para Natanael? Nas quatro listas dos apóstolos, o nome de bartolomeu está junto ao de Filipe, assim como ao de Natanael no episódio que acabamos de mencionar. Além disso, no fim do quarto evangelho (Jo 21.2), Natanael figura de novo em um grupo de apóstolos, provavelmente porque era um dos doze. Finalmente, o nome Bartolomeu, em aramaico Bar-Tolmai, filho de Tolmai, um nome de família, deveria ser o nome real de Natanael.
Ruínas de Persépolis. 
Os antigos impérios passaram;
 o império de Jesus nos corações

 aumenta dia a dia
Também antes temos visto que, conforme antiquíssima tradição, e apesar da opinião contrária de alguns comentaristas do passado, como Orígenes, por exemplo, Levi e Mateus são a mesma pessoa. O primeiro evangelho é obra sua, o evangelho do Messias.
João (Jo 11.16; 20.24; 21.2) informou várias vezes a tradução grega do nome do apóstolo Tomé: em hebraico, Tôm; em aramaico Toma, que significa Dídimo, gêmeo - sem dúvida em referência à circunstância de seu nascimento. O temperamento de Tomé era análogo ao temperamento de Pedro: embora fosse ardente e generoso (Jo 11.16), tinha também seus momentos de fraqueza (Jo 20.24-29).
Vários apóstolos tinham nomes homônimos, sendo necessário distingui-los por cognomes. Por isso, vemos Tiago, o Maior, e Tiago, o Menor. Nas quatro listas que vemos nos evangelhos, este último é chamado também de Tiago, filho de Alfeu. Segundo muitos intérpretes, o nome de Alfeu, em sua forma hebraica meio dissimulada, é o mesmo de Cleopas, mencionado por Lucas e João (Lc 24.18; Jo 19.25) por ocasião da Paixão e da ressurreição do Salvador. Anteriormente, apontamos a opinião, quase comum na Igreja latina, de que o apóstolo Judas, conforme o chama Lucas, era irmão de Tiago, o Menor, e parente próximo de Jesus.
Simão, o zelote, tinha sido, como parece por este epíteto, membro do partido dos zelotes galileus, que já existia no tempo de Jesus na Palestina, ainda que em forma moderada e muito diferente daquela que depois passou a ser, quando a guerra contra os romanos estourou: a facção mais violenta de todas. Hoje, seriam classificados de nacionalistas.
O epíteto Iscariotes, além da nota infamante o que traiu Jesus, serve para distinguir os dois apóstolos Judas, e é considerado, quase de forma unânime, como o equivalente ao hebraico Isch Kriot, homem de Keriot, uma alusão geográfica (Jo 6.71). Esta aldeia não era a Queriote de Moabe (Jr 48.24,41), a leste do mar Morto, mas a da Judeia setentrional (Js 15.25). Parece que Judas foi o único dos doze que não era galileu.

Uma biografia reduzida dos apóstolos

Simão, ou Pedro, filho de Jonas (Jo 1.42) e natural de Betsaida, era pescador e escreveu as duas epístolas que levam o seu nome, ou seja, 1 e 2 Pedro.
Tiago, um dos Boanerges, também chamado de Tiago, o Maior, era filho de Zebedeu e irmão de João. Nasceu em Betsaida e era pescador.
Tomé, ou Dídimo, que quer dizer gêmeo, possivelmente era irmão de Mateus. Nasceu na Galileia.
Tiago, o Menor, provavelmente era irmão de Jesus. Nasceu na Galileia e escreveu a carta que leva o seu nome, ou seja, a epístola de Tiago.
Mateus, ou Levi, também conhecido como o publicano, era filho de Alfeu e possivelmente irmão de Tomé. Nasceu em Cafarnaum, era cobrador de impostos e escreveu o evangelho que leva o seu nome.
João, o outro Boanerges, era filho de Zebedeu e irmão de Tiago, o Maior. Nasceu em Betsaida, era pescador e escreveu o quarto evangelho, três epístolas que levam o seu nome e o livro de Apocalipse.
Judas, o Tadeu, era filho de Alfeu e de Maria. Nasceu na Galileia e escreveu uma epístola.
Simão, o zelote, nasceu na Galileia.
Judas Iscariotes era filho de Simão Iscariotes e nasceu em Queriote.
André era irmão de Pedro e filho de Jonas. Nasceu em Betsaida e era pescador.
Filipe possivelmente era irmão de Bartolomeu. Nasceu em Betsaida e era domador de cavalos.
Bartolomeu, ou Natanael, possivelmente era irmão de Filipe e filho de Tomé. Nasceu em Caná da Galileia.

Judas Iscariotes, o traidor

O fato de haver um traidor entre os apóstolos de Jesus levanta um problema de natureza psicológica e, ao mesmo tempo, teológica, que não podemos deixar passar em branco. Como explicar que Jesus tenha elegido para apóstolo um homem como Judas? Como explicar que um apóstolo chegasse a trair semelhante Mestre? Há nisso, certamente, um profundo e doloroso mistério, ao qual se tem dado, principalmente de um século para cá, estranhíssimas interpretações, sobretudo no terreno racionalista.
Uns chegaram a dizer que a intenção de Judas era beneficiar Jesus, entregando-o aos seus inimigos. Outros são de opinião extremamente contrária, negando a Judas todo e qualquer sentimento humano, considerando-o hostil a Jesus desde o primeiro momento. Não devemos julgá-lo precipitadamente, segundo ideias preconcebidas em um ou em outro sentido, senão à luz de documentos imparciais, como o são nossos quatro evangelhos. (Para se resolver devidamente esse problema relacionado a Judas, seria bom estudar todos os textos evangélicos que falam do traidor, a saber: as listas dos apóstolos [Mt 10.2-4; Mc 3.16-19; Lc 6.14-16] e de outros autores.)
O temperamento do traidor era, com efeito, muito complexo. Desde o momento em que o Salvador lhe deu destacada honra de elegê-lo como seu apóstolo, não se pode duvidar de que Judas tinha todas as qualidades requeridas para cumprir dignamente essa função. será que ele tinha defeitos e preconceitos? Nenhum dos doze, conforme veremos em seguida, estava inteiramente isento disso. Por outro lado, será que a companhia de Jesus não lhe fornecia excelentes meios para vencer esses defeitos? Sim, mas infelizmente Judas deixou que a ambição, a inveja e a avareza se arraigassem e crescessem em seu coração, dominando-o, e foram justamente esses sentimentos - sobretudo a avareza, que torna o homem egoísta e até violento - que o levaram a cometer o crime mais horrível nos anais da história.
Doze meses antes da morte de Jesus, quando Judas viu frustadas as brilhantes esperanças que havia concebido com seu título de apóstolo, ao convencer-se de que Jesus não seria condescendente com as orgulhosas ambições do messianismo nacional dos judeus, e quando foi testemunha da deserção de muitos discípulos, a apostasia de Judas tornou-se algo decisivo no fundo de sua alma (Jo 6.64-66).
Contudo, Jesus o amava como aos demais apóstolos, e até tinha dado a ele singular prova de confiança, tornando-o tesoureiro do grupo (Jo 12.6; 13.29). Em diversas ocasiões, o Mestre o advertiu clara e energicamente, ainda que sempre com suma delicadeza, acerca do perigo moral que ele corria, mostrando-lhe que nada ignorava dos seus negros desígnios (Jo 6.70,71; 13.21-30); se bem que tenha feito isso com palavras veladas, para não despertar as suspeitas de seus colegas. Mas tudo foi em vão. O coração de Judas se endureceu cada vez mais, até o momento em que se dirigiu aos membros do Sinédrio para lhes fazer sua horrível proposta: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregareis? (Mt 26.15).
Leia mais sobre
Mesmo quando a situação chegou a esse ponto, Jesus tentou suscitar em Judas melhores sentimentos, fazendo um supremo esforço para despertar-lhe a consciência (Mt 26.20-25; Jo 13.27), mas sem conseguir comovê-lo.
Finalmente, Judas teve de ser abandonado a si mesmo, e Jesus deixou que o discípulo executasse seu crime. Para salvá-lo, teria sido necessário quebrar as condições que Deus estabeleceu para a salvação da humanidade. E isto Jesus não podia moralmente fazer.
Por último, o problema da queda de Judas não é mais do que uma parte de outro problema geral: o de conciliar a presciência divina com a liberdade humana; o problema da predestinação e do livre-arbítrio. Judas está entre os apóstolos como esteve a serpente no paraíso terrestre; Caim, no seio da primeira família humana; Cam, na arca; e o mal sempre e em todas as partes, junto ao bem. Judas fazia parte do colégio apostólico (o grupo dos doze apóstolos) para servir de instrumento à execução dos decretos providenciais relativos ao Messias. Apressemo-nos em acrescentar que este instrumento agiu com absoluta liberdade e, mais ainda, assistido constantemente de graças especialíssimas, cujo auxílio teria podido evitar sua ignominiosa traição... Mas se Judas de tudo abusou, de quem foi a culpa?

LEIA TAMBÉM:
As Quatro Narrativas
do Evangelho

https://www.costumesbiblicos.com/2018/03/os-doze-discipulos-de-jesus.html
OS DOZE DISCÍPULOS

As Diferentes
Características dos Quatro
Evangelhos

                                                                               

JESUS, o bom Pastor

JESUS, O BOM PASTOR
O amor do Salvador para com os homens e sua abnegação, que chegaria até o sacrifício vicário, revelam-se nessa alegoria. O quadro é fiel nos mínimos aspectos dos costumes pastoris do antigo Oriente. Tudo nele é de luminosa claridade: o Pastor supremo, os outros pastores que obedecem às suas ordens, os pastores mercenários, os ladrões, os lobos que devastam o rebanho, as ovelhas - todos esses personagens são fáceis de identificarmos, de modo que uma simples leitura basta para interpretar a alegoria. Por fim, dessa vez Jesus pode falar sem que seus adversários o interrompam. Haverá, pois, paz e doçura nessa nova cena.
Lembremos também, antes de citar e explicar brevemente esse formoso texto, que a imagem aqui desenvolvida aparece com frequência nos escritos do Antigo Testamento, onde algumas vezes se comparam os dirigentes de Israel a pastores, sejam bons, sejam maus; outras vezes, o próprio Deus é representado como o Pastor supremo da nação teocrática.

Em várias passagens dos evangelhos, Jesus nos é apresentado como Pastor. Pedro o chama de sumo pastor (1Pe 5.4); o escritor de Hebreus diz que Jesus é o grande pastor das ovelhas (Hb 13.20); João, no Apocalipse, mostra-nos Jesus conduzindo os povos ao modo de um pastor (Ap 7.17). Também vários pais da Igreja reproduzem esse símbolo, que a arte cristã dos primeiros séculos usou em seus quadros, em suas esculturas e em diversos monumentos.
A alegoria do bom Pastor consta de duas partes, entre as quais o evangelista insere uma breve fórmula explicativa. A primeira descreve a condição e o proceder de um pastor vigilante, dedicado por inteiro ao seu rebanho:
Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora.
E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.
Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. (João 10:1-5)
Na Palestina, as ovelhas são, muitas vezes, a parte mais considerável do gado. À noite, elas são recolhidas ao rebanho em redis, construídos no campo com muro de pedra ou simplesmente com uma palha de madeira, segundo o uso em todo o Oriente bíblico. No fundo, só há uma cobertura onde podem guarnecer-se as ovelhas. Um guardião vela durante a noite para defender o aprisco das feras e dos ladrões. Pela manhã, cada pastor vai encarregar-se de suas ovelhas e conduzi-las aos pastos. Qualquer que quiser entrar de noite no redil com boas intenções entra, naturalmente, pela porta que o porteiro lhe abre; mas os que vão roubar ou mesmo degolar as ovelhas, tentam penetrar no recinto sem fazer barulho.
Com essa viva descrição, Jesus alude à antiga prática oriental de dar a cada ovelha o nome de sua cor, tamanho ou de qualquer outra particularidade. Quando o pastor conduz suas ovelhas a pastar, põe-se não atrás delas, segundo acontece no Ocidente, mas à frente delas, e vai chamando-as por seus nomes. Elas o seguem com docilidade e, mesmo quando vários rebanhos estão misturados em um só aprisco durante a noite, cada um deles se separa dos outros ao ouvir a voz de seu pastor!! [Lembrei-me de que o SENHOR tinha o costume, também, de dar nomes aos seus discípulos, segundo suas particularidades e ou características e personalidades! Como no caso de Simão à quem chamou de Pedro (Mc 3.16) e os irmãos João e Tiago, filhos de Zebedeu, à quem chamou de Boanerges, filhos do trovão!! (Mc 3.17)Incrível, não?]
O evangelista interrompe por um momento a alegoria para advertir que Jesus se referia aos fariseus, então presentes no auditório. Jesus disse-lhes esta parábolas, mas eles não entenderam o que era que lhes dizia (Jo 10.6). Não é de estranhar que os fariseus não entendessem o sentido dela. Como haveriam de reconhecer-se como ladrões vulgares que assaltavam o redil? Jesus prosseguiu aplicando, especialmente a si mesmo, uma determinada circunstância da alegoria:
Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.
Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. (João 10:7-10)

FOTO: Colina de Aijalom, onde havia um bosque no qual Jônatas encontrou mel e quebrou o voto de seu pai Saul, sendo quase morto por este (1Sm 14.24-52). Jesus é o mel que suaviza os vales e adoça a amargura da nossa vida. 
Jesus é a porta das ovelhas, aquela por onde os pastores que estão sob suas ordens entram legitimamente no redil para cuidar do rebanho. Já os salteadores e os ladrões penetram no aprisco por caminhos tortuosos, procurando dissimular sua presença vão até lá com más intenções: para roubar, matar e destruir o rebanho. O bom Pastor, muito pelo contrário, veio do céu à terra, posto que é o Filho de Deus que se fez homem, expressamente para comunicar às suas ovelhas a verdadeira vida, uma vida bem-aventurada, a vida no que tem de mais elevado, em toda a sua plenitude.
Jesus, completando o quadro, ao assinalar a diferença que há entre o pastor verdadeiro e o simples mercenário, destaca duas qualidades principais que um pastor precisa ter para ser digno de tal nome: o espírito de sacrifício, levado até as últimas consequências, e um conhecimento íntimo de suas ovelhas:
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.
Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.
Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.
Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor. (João 10:11-16)
Pela segunda vez, o Salvador declara - e com quanta verdade e amor - que ele é o bom Pastor por excelência. Disso dá uma prova peremptória (Dicio: que permite): ele, não contente em prestar a suas ovelhas carinhosos cuidados, daria finalmente sua vida por elas; enquanto o mercenário, egoísta e covarde, fugiria ao surgir o perigo, desamparando-as indefesas, à mercê dos lobos.
O mútuo conhecimento que se estabelece entre as ovelhas e o bom Pastor é tão íntimo que Jesus compara-o às estreitas relações, de ordem superior, que há entre ele e seu Pai. Depois, dirigindo seu olhar para o porvir e para as mais longínquas regiões, Jesus contempla outras inumeráveis ovelhas dispersas pelo mundo gentio [eu e você] e manifesta o ardente desejo de seu coração de dar-lhes a vida e a salvação.
Como conclusão dessa sublime alegoria, Jesus indica o motivo por que está disposto a sacrificar-se por seu rebanho: com essa doação generosa e completa de si mesmo, obedeceria às ordens de seu Pai e salvaria a humanidade.
Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la.
Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai. (João 10:17,18)
O Pai ama o Filho desde toda a eternidade. Porém, desde a encarnação de Cristo, ama-o com renovado amor por seu espírito de sacrifício!
Outras duas circunstâncias são dignas de nota: primeiro, a inteira liberalidade com que o Salvador daria a sua vida pela salvação do mundo, conformando-se assim plenamente ao plano divino; depois, sua ressurreição, pela qual sairia vitoriosamente de seu túmulo para desfrutar de vida nova e muito mais gloriosa.
Como consequência desse discurso, surgiu uma discussão entre os ouvintes de Jesus, que os separou em dois campos opostos. Uns diziam: Tem demônio e está fora de si; por que o ouvis? (Jo 10.20). Estes pertenciam ao grupo hostil ao Senhor Jesus. Eles viam com desgosto a atenção que se dava às suas palavras e a influência que estas exerciam no povo. Mas outros replicavam, com muita razão: estas palavras não são de endemoninhado; pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos? (Jo 10.21). O raciocínio destes últimos, que se apoiava ao mesmo tempo na pregação e nos milagres do Salvador, era corretíssimo. Certamente, não ficaram apenas nessa afirmação, mas também tomaram francamente o partido de Jesus, reconhecendo-o como Messias. Aleluia!

Postagem em destaque

Abraão

Quem foi Abraão? O primeiro patriarca da Bíblia Conforme registrado na Bíblia, Abraão (ou Avraham , אברהם), o hebreu, foi guiado...