COSTUMES BÍBLICOS: abril 2023


Jesus e os Fariseus

Convergência entre os Mestres
Fala-se de contendas, mas se esquece de que Jesus tinha inclusive amigos fariseus como José de Arimatéia e Nicodemos, As narrativas bíblicas também mencionam em pelo menos três ocasiões, por Lucas, que Jesus é convidado para comer na casa de fariseus (Lc 7.36; 11.37; 14.1). Existe inclusive um episódio em que Jesus foi avisado pelos fariseus que Herodes Antipas pretendia matá-lo (Lc 13.31).
Pode-se constatar inúmeras semelhanças entre os ensinamentos dos fariseus e os de Jesus. Os pensamentos são muito próximos e se faz nítida a convergência de ideias sempre no intuito de seguir a Torá com empenho e zelo. "Os próprios ensinamentos de Jesus se assemelham mais ao farisaísmo primitivo do que a qualquer outra escola de pensamento" (Winter, 1998, p.236).

Afinal, Jesus não veio abolir nem a lei e nem os profetas que os fariseus ensinavam, mas veio dar cumprimento a eles (Mt 5.17). "Sim, é verdade! Digo a vocês: até que os céus e a terra passem, nem mesmo um yud ou traço da Torá passará - não até que todas as coisas que precisam acontecer tenham ocorrido" (Mt 5.18). Está escrito de forma muito clara: "Maldito aquele que não confirmar as palavras desta Lei (Torá), para cumpri-las. E todo o povo dirá: Amém" (Dt 27.26).
Yud/Hebraico: Significado:
Uma mão; 
impulsionar;;
Formato. Um ponto suspenso,
com uma ponta projetando-se
 para cima
e um apêndice seguindo para baixo;
Décima letra do alfabeto hebraico.

Jesus, Mestre na interpretação da Lei

Quando questionado sobre qual o maior mandamento, Jesus responde com o Shemá Israel que é a confissão de fé monoteísta:

שָׁמַע יִשׂרָ•אֵל יְהוָה אֱלֹהִים יְהוָה אֶחָד
 
"Shemá Israel! Adonai Elohenu! Adonai Echad!"

"Ouve Israel! O Senhor nosso Deus! é o Único Senhor!"

Jesus é interpelado: "Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma, e de todo o teu entendimento" (Mt 22.36-37). Reafirmando com clareza a fé de Israel "Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças" (Dt 6.4-5).
A convergência de pensamentos entre o Mestre Jesus e os mestres fariseus fica ainda mais clara se observarmos as diversas passagens citadas pelos evangelhos, que encontram seus paralelos no Talmud e em outros textos da tradição judaica, como por exemplo:
Segundo Jesus: "Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5.7)
Rabino Gamaliel diz: 'E Ele vos mostrará misericórdia e terá compaixão de ti e te multiplicará' (Dt 13.18), nos ensina que quem tem compaixão das criaturas de Deus receberá compaixão do Céu, e quem não tiver compaixão das criaturas de Deus não receba compaixão do céu. (Talmud, Shabat 151b)
Jesus diz: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esse" (Mc 12.31).
Hillel disse: E você amará seu semelhante como você - esse é um grande princípio na Torá. Pois você não deveria dizer: 'Desde que fui desprezado, deixe meu amigo ser desprezado'.
Tankhuma disse: 'Se você fez isso (desprezar o seu amigo), saiba a quem você despreza, (para) à semelhança de Elohim Ele o fez'. (Bereshit Rabbah 24)
A tradição farisaica e a tradição cristã, caminham muito próximas, pois o cristianismo herdou parte da doutrina judaica, especificamente farisaica. Alguns pontos deixam isso claro. Os fariseus acreditam na imortalidade da alma, na ressurreição dos mortos, no livre arbítrio do ser humano, no castigo eterno dos ímpios, pois o destino dos homens está nas mãos de Elohim (soberania do Eterno).
Tanto Jesus como os fariseus ensinam a humildade, o amor ao próximo, o *amor aos inimigos [*ato difícil, mas não impossível], às boas obras e a caridade. Ambos se dedicando mais aos pobres e necessitados, oprimidos pelo poderio romano. Jesus também demonstra o que é próprio da piedade farisaica, isto é, a confiança na misericórdia divina e a certeza de que o arrependimento conduz ao perdão.
O fato é que Jesus é um Judeu zeloso pela Torá, e de forma ortodoxa defende a prática de seus ensinamentos, o que não diverge dos fariseus.
§Toda a atividade dos fariseus consistia em proteger e propagar a Torá e não hesitavam em denunciar publicamente aqueles que a transgrediam. Esforçavam-se, também, para suscitar em toda parte locais de estudo e oração, a fim de santificar o povo através da observância escrita da Lei. E procuravam dar o exemplo. Para os fariseus, só mesmo o valor moral dos fiéis da Torá é que poderia salvar Israel. Sob este aspecto, os fariseus jamais se opuseram a Jesus, pois nele reconheciam um verdadeiro fiel.§ (EPHRAIM, 1998, p.137)
A Oração Pai Nosso
(em hebraico Avinu), a mais importante oração cristã, é claramente uma composição a partir de orações da liturgia judaica e de textos da tradição judaica. Isso não poderia ser diferente, uma vez que Jesus é um Judeu piedoso e profundo conhecedor da Torá escrita e oral. Veja abaixo como a oração do Pai Nosso é uma composição, feita por Jesus, a partir das muitas orações da liturgia judaica. Por essa razão pode-se dizer que essa oração é comum a cristãos e judeus.
Observe:
"Pai Nosso que está nos céus".
Pai nosso que estás nos céus. (Mishina Yoma, invocação comum)
"Santificado seja teu nome".
Que teu nome seja altamente santificado no mundo que tu criaste segundo tua vontade. (Qaddish, Qedushah e Shemone Esré (18 bênçãos) na oração cotidiana, cf. também Ez 38.23)
"Venha teu reino".
Que venha em breve e que seja reconhecido pelo mundo inteiro o teu reino e tua senhoria a fim de que teu nome seja louvado para sempre. (Qaddish)
"Que seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu".
Que seja feita a tua vontade no céu como na terra, dá a tranquilidade do espírito àqueles que te temem, e no resto, aja segundo tua vontade. (Tosephta Berakhot 3.7; Bali Berakhot 29b; cf. também 1Sam 3.18 e 1Mac 3.60)
"O pão nosso cotidiano, dá-nos hoje".
Faça-nos o pão que tu nos concedes cada dia. (Mekhilta sobre Êx 16.4; Beza 16a)
"E perdoa nossas dívidas assim como nós perdoamos nossos devedores".
Perdoa, nosso Pai, nossos pecados como nós perdoamos todos aqueles que nos fizeram sofrer. (Shemone Esre; no fim da Mishah Yoma; Tosephta Taanit 1.8; Babli Taanit 16a)
"E não nos deixes cair em tentação".
Não nos deixes cair em tentação. (Siddur: oração cotidiana; Berakhot 16b.17a.60b; Sanhedrin 107a)
"Mas livra-nos do mal".
Mas afasta-nos de todo mal. [Porque teu é o reino, o poder e a glória pelos séculos dos séculos.] Porque a grandeza e a glória, a vitória e a majestade são tuas assim como todas as coisas no céu e sobre a terra. A ti o reino e tu é o Senhor de todo ser vivente por todos os séculos. (1Cr 29.11)

OS ENSINAMENTOS DE JESUS E ENOQUE(*)

O Segundo Livro de Enoque não foi realmente escrito pelo Enoque que conhecemos do Gênesis, mas oferece uma janela única para o mundo antigo na época de Jesus. 2 Enoque nunca foi incluído entre os cânones bíblicos do judaísmo ou do cristianismo, mas suas palavras ressoam com os ensinamentos da Bíblia. O texto se originou em algum momento durante os primeiros três séculos EC e tem paralelos interessantes com o Novo Testamento. Por exemplo, compare o ensino de Jesus sobre juramentos e seu “sim” significando “sim” (Mateus 5:33-37) com as ideias de Enoque abaixo. Compare também o que Enoque diz com o comentário de Jesus de que “os mansos herdam a terra” (Mateus 5:5) ou sobre suportar perseguições imerecidas por amor de Deus (Mateus 5:11-12). A ética expressa no Sermão da Montanha é notavelmente semelhante à ética judaica expressa em 2 Enoque. 
Leia e compare você mesmo…

Capítulo 49: 1. Eu juro a vocês, meus filhos, mas não juro por nenhum juramento, nem pelo céu nem pela terra, nem por qualquer outra criatura que Deus criou. 2. O Senhor disse: Não há juramento em mim, nem injustiça, mas apenas verdade. 3. Se não há verdade nos homens, que eles jurem pelas palavras: Sim, sim, ou então, Não, não. 4. E eu juro a você, sim, sim, que não houve uma pessoa no ventre de sua mãe, como antes, mesmo para cada um há um lugar preparado para a tranquilidade dessa alma, e uma medida é fixada quanto se pretende ter para que um homem possa ser testado neste mundo. 5. Sim, filhos, não se enganem, pois já foi previamente preparado um lugar para a alma de cada pessoa.

Capítulo 50: 1. Eu coloquei a obra de cada homem por escrito e ninguém nascido na terra pode permanecer oculto nem suas obras permanecer ocultas. 2. Eu vejo todas as coisas. 3. Agora, meus filhos, passem o número de seus dias com paciência e mansidão, para que herdem a vida eterna. 4. Suportar por causa do Senhor toda ferida, toda injúria, toda palavra maligna e ataque. 5. Se coisas terríveis acontecerem com você, não procure fazer essas coisas nem ao próximo nem ao seu inimigo, porque o Senhor será o seu vingador no dia do grande julgamento, para que não haja vingança aqui entre os homens. 6. Quem gasta ouro ou prata por causa de seu irmão, ele receberá um grande tesouro no mundo vindouro por seu esforço. 7. Não pergunte coisas a viúvas, órfãos ou estranhos, ou a ira de Deus pode cair sobre você.

Capítulo 51: 1. Estenda suas mãos para os pobres de acordo com suas forças. 2. Não esconda sua prata na terra. 3. Ajude os fiéis na aflição, e a aflição não o encontrará no tempo de sua angústia. 4. E todo jugo doloroso e cruel que vem sobre você suporta tudo por causa do Senhor, e assim você encontrará sua recompensa no dia do julgamento. 5. É bom entrar de manhã, ao meio-dia e à tarde na morada do Senhor, para glória do teu criador. 6. Porque toda coisa que respira o glorifica, e toda criatura visível (física) e invisível (espiritual) lhe devolve o louvor. (2 Enoque 49-51)(*Esse texto é parte de um artigo publicado em Israel Bible Center)
logo,
Jesus é verdadeiramente para os cristãos, o Rabi. É o Mestre e não qualquer mestre, é o Mestre dos mestres profundo conhecedor da Torá, assim como os mestres fariseus, ele é em quase tudo semelhante aos sábios do movimento farisaico. Todavia, para os cristãos, supera os sábios de seu tempo. Porque para seus seguidores Ele, Jesus, é o Deus encarnado. Chamado Rabi por seus discípulos, seu comportamento demonstra isso, Ele anda no meio do povo e prega de preferência aos mais humildes, ensinando-lhes a Torá assim como faz qualquer outro Rabi ou Mestre fariseu, ser acompanhado por discípulos que seguem seus ensinamentos e os replicam é outra das características que denotam essas semelhanças.
A propósito, segundo o Talmud, os mestres fariseus formavam uma classe composta pelos mais diversos personagens da sociedade, bem como de diversas profissões. Existiam sapateiros, pescadores, carpinteiros, etc. Interessante lembrar que Jesus era filho de carpinteiro e também carpinteiro (Mc 6.3). E seus ensinamentos são profundamente judaicos! (Parte desse texto foi extraído do livro "Jesus, o Mestre entre os Sábios" de Marivan Soares Ramos)

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