COSTUMES BÍBLICOS: janeiro 2022


A Incrível História do Salmo 23

Enquanto a maioria dos estudiosos conhecem o Salmo do Pastor, há alguém, um único em numeroso grupo que conhecia, o Pastor do Salmo!
Talvez seja este o problema de muitos em nosso tempo. Eles até têm uma boa quantidade de informações técnicas sobre Deus. Mas pouco ou nenhum relacionamento com Ele. E por isso encontram-se tão perdidos.
Leiamos o que o Salmo 23 diz:

O SENHOR é o meu pastor: nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice trasborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida: e habitarei na casa do Senhor por longos dias.
Estabelecida a existência história de Davi, falta-nos agora conhecer o ambiente cultural em que ele viveu como pastor de ovelhas antes de assumir o trono sobre Israel. Foi nesse tempo, segundo a opinião de muitos, que Davi escreveu o Salmo 23.
O trabalho de um pastor de ovelhas no Oriente Médio é tremendamente interessante. Práticas típicas dos tempos bíblicos são ainda utilizadas hoje por grupos minoritários como beduínos e famílias de origem árabes. Devido ao clima seco da região desértica, as pastagens de ovelhas são feitas geralmente longe do curral nas poucas regiões de oásis onde há água e um puco de vegetação para alimentar o rebanho. As águas do En-Gedi diversas vezes citadas na Bíblia, são manancial que surgem em pleno deserto da Judeia e que serviu muitas vezes de paragem para de pastores nos dias de Davi. Um verdadeiro oásis no meio do nada. Isso significa que muitas vezes, especialmente naquele tempo, o pastor teria que preparar cedo o seu rebanho para atravessar o deserto em busca de um local com as características do En-Gedi aonde ele e o seu rebanho deveriam passar o dia. Essa travessia poderia durar horas e deveria ser feita todos os dias. As ovelhas deveriam sair bem cedo, na verdade, de madrugada. Um pouco antes do amanhecer. Isto é, antes do Sol se tornasse forte demais impossibilitando a travessia. Repetindo então, temos: o oásis, o curral e entre ambos o deserto a ser enfrentado diariamente.
Devido a sua natureza coletiva, as ovelhas não se dão bem com criações de isolamento. Elas vivem melhor em rebanho junto a companhia de outras ovelhas. Atravessar o deserto com esses animais, nem sempre é uma tarefa fácil devido a certas peculiaridades próprias das ovelhas que dificultam o processo. Como vocês sabem, as ovelhas são animais mamíferos com o peso médio de 50 kg na fase adulta podendo fornecer de 4 a 12 kg de lã a cada tosquia. Mas é aonde pára essa descrição técnica que inicia as peculiaridades vistas pelo pastor.
É comum ver no oriente médio, duas pessoas cuidando do rebanho. As vezes um jovem e um ancião,  uma moça e um rapazinho adolescente ou então uma criança. O motivo para esse comportamento está no fato de que a ovelha geralmente é um animal de que não aceita bem a troca de proprietário. Ela se acostuma tanto com o anterior, que fica deprimida com a sua ausência (ref. Jo 16.22). Recusando inclusive, a água ou comida que lhes seria dada pelo novo pastor que ainda lhe é um estranho. Por isso é costume vender ovelhas adultas, caso o pastor não esteja junto, para um matadouro. E nunca para outro pastor com o qual elas teriam dificuldades de se adaptar por melhor que sejam tratadas.
Para remediar esta situação, caso haja a necessidade do pastor de ovelhas se ausentar do rebanho por um tempo ou até mesmo definitivamente em caso de morte, a estratégia é colocar um segundo co-pastor frente do rebanho. Então as ovelhas, nesse caso, estariam acostumadas com esse e assim poderiam superar a ausência do primeiro. Como você vê, a relação pastor-ovelha, é bem mais forte do que poderíamos imaginar. Daí a beleza de sermos considerados, poeticamente, ovelhas que podem chamar o seu Deus, o Deus Altíssimo de O meu Pastor. Aquele que garante que nada me faltará. Aliás, uma breve análise na língua hebraica, o idioma original desse Salmo nos revela uma interessante surpresa. Quando o texto original diz Adonai Elohim está usando um título pra Deus, um pronome de tratamento, uma forma de chamá-Lo cujo sentido deveria ser vertido por Senhor o meu Pastor. E o complemento: nada me faltará, não tem originalmente o sentido de, terei tudo o que desejo conforme poderia se deduzir da tradução em português; mas sim de, de nada terei falta ainda que eu não tenha tudo.
Voltando a falar da ovinocultura oriental, outra coisa bastante marcante as ovelhas de um modo geral, é o seu constante senso de medo, de terror. Elas praticamente não possuem elementos naturais de auto defesa como garras, dentes afiados ou venenos. Logo é provavelmente em virtude disso, que elas tem medo praticamente de qualquer coisa. Nalgum casos, até do seu próprio reflexo na água. O barulho das correntezas também pode assustá-las. E é por isso que após a estafante travessia pelo deserto, o pastor deve conduzi-las às águas de descanso, isto é, águas que descansam e ao mesmo tempo, águas que sejam tranquilas para não assustá-las a ponto de impedir que saciam a sua sede. Que curioso! Imagine um animal que mesmo na frente de um manancial de água, morre de sede apenas porque tem medo! Pois este é o comportamento muito semelhante ao de todos nós. Exatamente. É semelhante ao comportamento humano. Afinal de contas, quantas pessoas há que perde a oportunidade de amor, carinho, vitória da vida apenas porque tem medo. Medo de amar, medo de servir, medo de se arriscar. Medo de Deus. São como ovelhas. Ovelhas sedentas, porém medrosas. Se tornam infelizes de tanto querer ser felizes.
Certo beduíno uma vez explicou que nalguma ocasiões, o pastor tem de pegar água com as próprias mãos e trazer até a boca da ovelha, para que a mesma possa beber e não morrer de sede! Isso aumenta ainda mais o sentido do pastor aplicado a Deus. Quando é dito que Ele nos leva à águas tranquilas e refrigera a nossa alma mesmo em meio aos nossos infernos existenciais. Mesmo em meio aos nossos temores.
Imagine agora a aparente monotonia de um dia de atividade pastoril do Oriente Médio! Os típicos pastores palestinos, a sua tarefa é vigiar as ovelhas. Não deixando que nenhum mal lhes aconteça e cuidando para que não passem necessidade. As roupas de um pastor, não são as mais bonitas que uma pessoa pode ter. E o sol escaldante do deserto castiga-lhes a pele todos os dias. Ele sabe que essa será novamente a sua rotina na manhã seguinte. Mas o pastor não se importa. Ele gosta do que faz e ama o seu rebanho.
Esse comportamento ilustra muito bem algumas comparações que Cristo faz a Sua Pessoa e a figura de um pastor de ovelhas. Através desse contexto, amplia-se mais o sentido profundo das palavras de Cristo que certa vez declarou na Bíblia: "Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor da a vida por suas ovelhas. (Jo 10.11)
Cristo com certeza conviveu com muitos pastores de ovelhas numa sociedade que era predominantemente artesã e pastoril. O povo que o ouvia, compreendeu de modo bem claro a comparação que Ele fez ao equiparar o Seu amor pela humanidade ao de um pastor pelo seu rebanho.
Chega finalmente a tardinha e é hora de todos voltarem para o curral. O ideal é sair no momento em que não se pegue o escaldante sol do dia, nem o gelado vento da noite, que, pasmem, permeia as madrugadas do deserto obrigando todos a se agasalharem muito bem.
Foi talvez imaginando o caminho de volta ao aprisco, que Davi compôs "ele me guia pelas veredas da justiça por amor do seu nome". Isto quer dizer que Ele  me leva por caminhos retos, não tortuosos. Com Ele, estamos seguros de estarmos voltando para casa. Estar de volta para o lar.
O Deserto da Judeia
Mas o texto abre espaço para a possibilidade de provações ao longo do caminho. Noutras palavras, a companhia do bom pastor, oferece conforto e segurança. Mas não garante uma paisagem constantemente tranquila. Existe a possibilidade de andar pelo vale da sombra da morte. Alguns comentaristas supõe que o vale da sombra da morte descrito no Salmo, seria um lugar real, geograficamente parecido com este da foto ao lado.
Caminhos íngremes, e apertados em meio as rochas que oferece muitos riscos para a vida do rebanho desde o ataque de animais que ficavam nos penhascos até mesmo a queda em meio ao terreno bastante escorregadio. Por isso o nome "vale da sombra da morte". Isto é, os vales em que há constante riscos de morte.
Mas, se esse trajeto era inevitável, para poder voltar então pra casa, por que não enfrentá-lo? E como fazer pra que animais tão medrosos como as ovelhas, atravessassem uma região tão difícil e tão perigosa como esta? Bem, neste ponto, alguns pastores desenvolveram uma técnica de adestramento, bastante curiosa; bastante inusitada. Eles cantam ou tocam para que as ovelhas ao som de sua voz, se acalmem. Elas então formam uma fila indiana, exatamente como essa da foto ao lado, e passam através do lugar perigoso. Isto não é incrível?!
Elas simplesmente reconhece a voz do seu pastor, e, tal fenômeno nos faz lembrar aquela outra comparação feita por Cristo ao dizer certa vez: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem" (Jo 10.27).
E se uma ovelha caísse? Como o pastor poderia resgatá-la? Bom, para isto, ele contava com um instrumento chamado cajado. Que normalmente se aparece como esse da foto, relacionada ao Antigo Oriente Médio. O que poucos sabem, é que o cajado poderia ter três funções; e duas delas estão relacionadas no Salmo. Daí a expressão: "a tua vara e o teu cajado". O cajado normalmente usado, era pra tocar o rebanho. Principalmente quando uma ou outra ovelha, começava a sair do grupo, dispersando-se. Aí, a sua função entrava como vara. O pastor batia na ovelha desobediente, fazendo-a voltar para o grupo. Devido ao fato de muitas ovelhas caírem em buracos de difícil acesso, a ponta teria a forma de um gancho [como na foto ao lado]. Literalmente, então, o pastor pescava a sua ovelha quando o seu corpo era machucado e estava fora do alcance da extensão do seu braço. Mas esta mesma ponta, guardava, muitas vezes, um segredo. Havia um encaixe embutido que a fazia se transformar rapidamente numa lança mortal que o pastor usaria em casos de perigo para o rebanho. Principalmente num ataque de um predador. Ao lado disso, é claro, havia um estilingue, ou funda, usado também, por muitos garotos palestinos até hoje na região do Oriente Médio. Como você ver, o mesmo instrumento tinha uma função protetora; a lança, salvadora; o cajado, e disciplinar; a vara. O mesmo Deus Pastor que acolhe e protege, também castiga aos que ama. Não para fazê-los sofrer, mas, para aprimorá-los. Sabendo que muitas vezes, a dor é o que nos ensina em certos momentos, que, de outro modo, não aprenderíamos. Essa afinal, é a dinâmica de nossa vida. Se sofrermos demais, não suportaremos. Mas se sofremos de menos, nunca saberemos quão mau é o mau e não desejaremos nos livrar dele. Por isso que Deus de maneira infinitamente sábia, administra a dosagem de varas, lanças e cajados em nossa caminhada pelo vale da sombra da morte, até chegarmos novamente ao lar que Ele prometeu. E por falar em lar, é emocionante ver a cena de um rebanho chegando ao aprisco. Elas parecem saber de algum modo, que estão chegando em casa. Que o deserto ficou para trás. Ali, o pastor costuma dar-lhes uma última refeição, que supri as suas energias, aquelas gastas na travessia do deserto. E elas estarão prontas pra dormir. Mas antes disso, o último trabalho deve ser feito. Uma recontagem das ovelhas. Todo pastor do Oriente Médio, conta várias vezes as suas ovelhas durante o dia. Sempre com o objetivo de verificar se não está faltando nenhuma. As condições adversas do lugar, somadas a falta de cercas, tornam o deserto, um local traiçoeiro para o rebanho, com possibilidade de extravio do grupo. Daí as constantes contagens e recontagens do rebanho. Aliás, Jesus também, lançou certa vez, mão desse costume, para contar a história ou parábola, de um pastor que tinha 100 ovelhas, e ao perceber que uma lhes faltava, deixou todas as outras no aprisco e voltou estrada a fora,, para encontrar aquela que havia ficado para trás no deserto. Ao encontrá-la, qual não foi a sua felicidade em festejar o achado do animal e comemorar com todos! Da mesma maneira, Ele nos diz que somos preciosos pra Deus. Poderia ser apenas uma ovelha. Porém, para Ele, ela era tão preciosa. Se tornava mais do que uma, ela era única em meio ao seu rebanho. Como o Próprio Cristo nos ensinou, tal parábola, ilustra o amor de Deus pelos seres humanos. Apesar de possuir bilhões e bilhões de filhos em todas as épocas e mundos, Ele nos trata como se fossemos os únicos de todo Universo. E comemora nossos acertos e conversões como se fossemos o mais precioso tesouro do Seu baú de riquezas!
Ter um pastor que nos cuida, é mais do que ter um pensamento positivo ou um otimismo mental. É sentir-se, literalmente amparado. Protegido por alguém que verdadeiramente nos ama. E como isso nos faz bem a alma e refrigera o nosso ser, ao atravessarmos o caótico deserto dessa existência!
Afinal, Ele nos fornece oásis que alivia nossa travessia e garantem que todo sofrimento, por mais duro que seja, será passageiro. Pois um dia habitaremos para sempre na casa que Ele mesmo, preparou para nós! Não será apenas por um tempo, mas será para todo sempre! NÓS AO LADO DO BOM PASTOR!
Creio que você, a partir de agora, não lerá mais da mesma forma este Salmo!
(Tema escrito sob o comentário de Dr.Rodrigo Silva-arqueólogo/Escrito, editado e modificado aqui por Costumes Bíblicos)

A Sinagoga de Cafarnaum

Sinagoga de Cafarnaum
(foto 1 interior da sinagoga)
Começando por...
Uma etapa ministerial quase completa do Salvador, no princípio do seu ministério em Cafarnaum e em outras cidades da Galileia, é descrita por Marcos e Lucas e, em parte, por Mateus (Mt 8.14-17; Mc 1.21-39; Lc 4.31-44). Foi um período laborioso de oração, pregação e realização de boas obras. Graças a essas quatro breves narrações, cheias de vida e suficientemente detalhadas, podemos imaginar como era a vida de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo naquela fase.
Era um dia de Sábado pela manhã, e ele foi à sinagoga de Cafarnaum. Depois do estudo religioso, retirou-se com seus quatro discípulos para a casa de Simão Pedro, onde permaneceram durante as primeiras horas da tarde. Quando o Sol se pôs, Jesus curou todos os enfermos que lhe vieram da cidade. No dia seguinte, muito cedo, vemos ele orando às margens do lago, e dali começou sua primeira viagem missionária.
Nenhum dos evangelhos sinópticos indica o lugar exato em que ocorreu o episódio que terminou com a convocação dos seus primeiros discípulos. Mas deve ter sido bem próximo de Cafarnaum, pois Marcos fala, logo em seguida, de Jesus entrando nessa cidade em companhia dos discípulos que acabara de convocar. O dia seguinte era Sábado. O Mestre e seus discípulos foram à sinagoga participar do culto matutino.

AS SINAGOGAS NA PALESTINA

Conforme já falamos, as sinagogas tinham grande importância para o judaísmo. Na época de Jesus, não havia na Palestina nenhum lugar habitado pelos judeus que não tivesse a sua própria sinagoga. Eram construídas com a suntuosidade proporcionada pela riqueza de cada cidade ou povoação e, quando possível, era erguida de tal maneira que, quando a pessoa orava, olhava para Jerusalém.
Nos fundos da sinagoga, havia uma espécie de armário, provido de uma cortina, o tebah, ou arca, onde os livros sagrados eram guardados. No meio do salão, tinha uma plataforma, onde se encontravam a cadeira do presidente da sinagoga e os livros mais respeitáveis da assembleia. Era nesta mesma tribuna que ficava o púlpito. Os demais móveis eram as lâmpadas, as caixas para as ofertas e as estantes para se guardar as trombetas e outros objetos usados no culto.
Os fiéis se sentavam diante do púlpito; os homens de um lado, e as mulheres do outro, separados por um corredor. Em ocasiões especiais, as mulheres ficavam nas galerias. As reuniões eram celebradas várias vezes por semana, mas principalmente nos dia de Sábado e de festas.
Em nossos dias, foram descobertos preciosos restos de algumas sinagogas na Galileia setentrional e, de modo mais interessante para nós, na própria Cafarnaum. Estudando as esplêndidas ruínas da sinagoga de Cafarnaum, ficou comprovado que ela media cinquenta e quatro metros de comprimento por dezoito de largura. Por meio de outro portal, entrava-se em uma grande nave, rodeada por uma galeria pelos lados leste, norte e oeste.
Ainda permanecem em seus devidos lugares muitas das bases das dezesseis colunas que sustentavam o teto dessa sinagoga. Os restos do acabamento e do friso, adornados com profusões de esculturas, e os enormes materiais de pedra amarela que jazem no solo, impressionam muito qualquer espectador. Conforme o parecer de muitos estudiosos, não é improvável que esses restos sejam aqueles daquela sinagoga que o centurião romano havia construído por sua própria conta e despesas, para testemunhar o grau de estima que tinha por Israel e pela religião dos judeus (Lc 7.4,5).
As sinagogas destinavam-se tanto à realização do culto propriamente dito como ao ensino religioso. Eis por que Jesus falava frequentemente nelas, e nesse ambiente fez várias de suas mais importantes pregações (Lc 4.16,17; Jo 6.59). Ali, sobretudo aos Sábados, Jesus tinha certeza de que falaria diante de um público numeroso, normalmente bem disposto a ouvir, reunido para honrar e invocar a Deus.
Mesmo sem ter o título do doutor, Jesus podia pregar facilmente nas sinagogas, pois os judeus, neste ponto, concediam grande liberdade a qualquer pessoa que tivesse algo a transmitir. Todo israelita bem conceituado e suficientemente instruído obtinha facilmente do líder da sinagoga a licença necessária. Os estrangeiros que ocasionalmente assistiam à reunião costumavam ser convidados para falar aos irmãos algumas palavras de edificação (At 13.14-15). E os apóstolos, a exemplo de seu Mestre, aproveitavam-se amplamente desse costume para semear o grão do evangelho.
Jesus ocupou, pois, naquele dia, o púlpito da sinagoga de Cafarnaum. Os escritores sagrados não nos dizem qual foi o tema de sua pregação, mas, com uma linguagem expressiva, destacam a impressão que os ouvintes sentiram. "Grande foi a admiração", dizem Marcos e Lucas. Jesus ensinava "com autoridade" e "não como os escribas", acrescenta Marcos, como que comparando a pregação de Jesus com a pregação daqueles homens que falavam com frequência ali.
Sinagoga de Gamla-Israel
Século 1 d.C.
Que diferença entre os métodos de ensinamento de Jesus e os daqueles homens! De um lado, o divino Legislador, que interpretava suas próprias leis, o Verbo encarnado, a Sabedoria incriada que falava diretamente às almas para instruí-las,convencê-las, consolá-las e incentivá-las ao bem. Do outro, os frios legalistas, homens com características impessoais, de uma tradição muitas vezes puramente humana e de nenhum valor, que, em vez de vivificarem os textos sagrados que pretendiam explicar, afogavam-nos debaixo da massa de seus comentários minuciosos, precedidos quase sempre de trivial fórmula: "O rabi tal diz isto", ou "O rabi tal disse aquilo".
Apesar de já ter transcorrido mais de vinte séculos, a doutrina do Salvador continua sendo espírito e vida nos escritos sagrados que nos foram transmitidos. A dos escribas e fariseus, reproduzida pelo Talmud em todas as formas, não ilumina as mentes e muito menos toca os corações; ao contrário, é necessário coragem para ler algumas páginas seguidamente. [O Talmud é o resultado da junção de tratados de sábios judeus sobre a tradição oral e sua interpretação.]

JESUS E AS AUTORIDADES DA JUDEIA (*CURIOSIDADE DO HEBRAICO BÍBLICO)

A autoridade que Jesus demonstrou na ação profética de limpeza do Templo estava mais uma vez destacando a questão básica que foi implicitamente colocada – “ Quem é e quem deve estar no comando do povo de Deus, Israel? ” A resposta do Evangelho, previsivelmente, é o Rei Jesus. O evangelho de João 2, versículos 23-25, não deve ser separado dos versículos anteriores 13-22, que descrevem a mesma coisa – Jerusalém durante a Páscoa. Devemos ver o versículo 23 continuando o que foi iniciado em Jerusalém alguns versículos anteriores. Em grego, “Jesus, por sua vez, não se confiava a eles, porque conhecia a todos”, poderia e deveria (por causa do contexto geral) ser traduzido: “Jesus, por sua vez, não acreditava neles, porque os conhecia. tudo." (João 2:24) Com este pequeno ajuste de tradução, o que vem antes e o que segue no relato do Evangelho se encaixa muito melhor, especialmente com a continuação do versículo 25 (“não precisava de ninguém para dar testemunho”).
Esse tipo de fórmula, “mostre-nos/diga -nos ” ( 18 “Que sinal você nos mostra para fazer essas coisas?”), será levantada novamente pelos Ioudaioi (geralmente traduzidos como "judeus") em várias ocasiões. Em cada ocasião, o ponto era que eles estavam formalmente encarregados da vida religiosa no antigo Israel sob ocupação romana. A resposta de Jesus não poderia ter sido mais explícita do que o que ele diz em 2:19: “Destruí este templo, e em três dias o reerguerei”. As autoridades não poderiam estar mais desvalorizadas. Este era o caso, quer eles entendessem ou não como entenderam (2:20), ou como deveriam (2:21). Sem se preocupar em explicar o que ele realmente quis dizer, Jesus negou a autoridade dos Ioudaioi .
Um dos exemplos mais claros dessa dinâmica “mostre-nos/eu recuso” é encontrado em João, capítulo 10. Os Ioudaioi desafiaram Jesus a apresentar sua candidatura ao messianismo a eles – a liderança de Jerusalém. Jesus recusou, dizendo que seu Pai e seus próprios atos eram suficientes para provar sua autoridade, rejeitando assim a autoridade deles:
Os Ioudaioi se reuniram ao redor dele, dizendo: 'Por quanto tempo você vai nos manter em suspense? Se você é o Ungido, diga-nos claramente.' Jesus respondeu: 'Eu lhe disse, mas você não acredita. Os milagres que faço em nome de meu Pai falam por mim, mas vocês não acreditam porque não são minhas ovelhas.' (João 10:24-27)
Este texto é mais frequentemente lido como um exemplo da falta geral de clareza de Jesus ao declarar sua messianidade . No entanto, acho que isso é injustificável. Não se deve ler o pedido dos Ioudaioi : “Até quando nos manterão em suspense ? Se você é o Ungido, diga-nos claramente ” , mas sim: “Por quanto tempo você nos manterá em suspense? Se você é o Ungido, diga -nos claramente.” Do ponto de vista dos Ioudaioi,sua autoridade para validar a candidatura de Jesus ao messianismo não estava sendo honrada. Jesus atraiu grandes multidões que o seguiram. Os cegos viram, os coxos andaram, os leprosos foram curados, os surdos ouviram e os mortos voltaram à vida. (Mat. 11:2-5; Is. 29:17-21) A identidade de Jesus como Messias era evidente, mas ele não se declarou como tal às autoridades de Jerusalém. Este foi o raciocínio por trás de sua demanda. (Quanto tempo você vai nos manter em suspense?) Jesus, no entanto, afirmou consistentemente que seus milagres e, portanto, o testemunho de seu Pai sobre sua messianidade, foram suficientes para estabelecê-lo como o Servo Messiânico de Deus. (João 10:25-42) Ele se recusou a reconhecer a autoridade dos governantes de Jerusalém sobre ele e, por extensão, sobre todo o Israel. Jesus era aquele a quem o Deus da aliança de Israel havia confiado tal autoridade e, portanto, submeter-se à autoridade ilegítima, ou pelo menos de nível inferior dos Ioudaioi, estava fora de questão. (Mat. 26:63-64)
Vemos que os Ioudaioi assumiram que tinham o direito de aprovar ou desaprovar Jesus, e já estavam engajados no processo de julgá-lo. Eles o desafiaram naquela época, e mais explicitamente depois, a provar quem ele era. Jesus recusou.
(*Este texto é parte de um artigo publicado em Israel Bible Center pelo Dr.Eli Lizorkin-Eyzenberg na categoria de "Evangelhos Judaicos" - Editado aqui por Costumes Bíblicos)

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