COSTUMES BÍBLICOS: A Sinagoga de Cafarnaum


A Sinagoga de Cafarnaum

Sinagoga de Cafarnaum
(foto 1 interior da sinagoga)
Começando por...
Uma etapa ministerial quase completa do Salvador, no princípio do seu ministério em Cafarnaum e em outras cidades da Galileia, é descrita por Marcos e Lucas e, em parte, por Mateus (Mt 8.14-17; Mc 1.21-39; Lc 4.31-44). Foi um período laborioso de oração, pregação e realização de boas obras. Graças a essas quatro breves narrações, cheias de vida e suficientemente detalhadas, podemos imaginar como era a vida de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo naquela fase.
Era um dia de Sábado pela manhã, e ele foi à sinagoga de Cafarnaum. Depois do estudo religioso, retirou-se com seus quatro discípulos para a casa de Simão Pedro, onde permaneceram durante as primeiras horas da tarde. Quando o Sol se pôs, Jesus curou todos os enfermos que lhe vieram da cidade. No dia seguinte, muito cedo, vemos ele orando às margens do lago, e dali começou sua primeira viagem missionária.
Nenhum dos evangelhos sinópticos indica o lugar exato em que ocorreu o episódio que terminou com a convocação dos seus primeiros discípulos. Mas deve ter sido bem próximo de Cafarnaum, pois Marcos fala, logo em seguida, de Jesus entrando nessa cidade em companhia dos discípulos que acabara de convocar. O dia seguinte era Sábado. O Mestre e seus discípulos foram à sinagoga participar do culto matutino.

AS SINAGOGAS NA PALESTINA

Conforme já falamos, as sinagogas tinham grande importância para o judaísmo. Na época de Jesus, não havia na Palestina nenhum lugar habitado pelos judeus que não tivesse a sua própria sinagoga. Eram construídas com a suntuosidade proporcionada pela riqueza de cada cidade ou povoação e, quando possível, era erguida de tal maneira que, quando a pessoa orava, olhava para Jerusalém.
Nos fundos da sinagoga, havia uma espécie de armário, provido de uma cortina, o tebah, ou arca, onde os livros sagrados eram guardados. No meio do salão, tinha uma plataforma, onde se encontravam a cadeira do presidente da sinagoga e os livros mais respeitáveis da assembleia. Era nesta mesma tribuna que ficava o púlpito. Os demais móveis eram as lâmpadas, as caixas para as ofertas e as estantes para se guardar as trombetas e outros objetos usados no culto.
Os fiéis se sentavam diante do púlpito; os homens de um lado, e as mulheres do outro, separados por um corredor. Em ocasiões especiais, as mulheres ficavam nas galerias. As reuniões eram celebradas várias vezes por semana, mas principalmente nos dia de Sábado e de festas.
Em nossos dias, foram descobertos preciosos restos de algumas sinagogas na Galileia setentrional e, de modo mais interessante para nós, na própria Cafarnaum. Estudando as esplêndidas ruínas da sinagoga de Cafarnaum, ficou comprovado que ela media cinquenta e quatro metros de comprimento por dezoito de largura. Por meio de outro portal, entrava-se em uma grande nave, rodeada por uma galeria pelos lados leste, norte e oeste.
Ainda permanecem em seus devidos lugares muitas das bases das dezesseis colunas que sustentavam o teto dessa sinagoga. Os restos do acabamento e do friso, adornados com profusões de esculturas, e os enormes materiais de pedra amarela que jazem no solo, impressionam muito qualquer espectador. Conforme o parecer de muitos estudiosos, não é improvável que esses restos sejam aqueles daquela sinagoga que o centurião romano havia construído por sua própria conta e despesas, para testemunhar o grau de estima que tinha por Israel e pela religião dos judeus (Lc 7.4,5).
As sinagogas destinavam-se tanto à realização do culto propriamente dito como ao ensino religioso. Eis por que Jesus falava frequentemente nelas, e nesse ambiente fez várias de suas mais importantes pregações (Lc 4.16,17; Jo 6.59). Ali, sobretudo aos Sábados, Jesus tinha certeza de que falaria diante de um público numeroso, normalmente bem disposto a ouvir, reunido para honrar e invocar a Deus.
Mesmo sem ter o título do doutor, Jesus podia pregar facilmente nas sinagogas, pois os judeus, neste ponto, concediam grande liberdade a qualquer pessoa que tivesse algo a transmitir. Todo israelita bem conceituado e suficientemente instruído obtinha facilmente do líder da sinagoga a licença necessária. Os estrangeiros que ocasionalmente assistiam à reunião costumavam ser convidados para falar aos irmãos algumas palavras de edificação (At 13.14-15). E os apóstolos, a exemplo de seu Mestre, aproveitavam-se amplamente desse costume para semear o grão do evangelho.
Jesus ocupou, pois, naquele dia, o púlpito da sinagoga de Cafarnaum. Os escritores sagrados não nos dizem qual foi o tema de sua pregação, mas, com uma linguagem expressiva, destacam a impressão que os ouvintes sentiram. "Grande foi a admiração", dizem Marcos e Lucas. Jesus ensinava "com autoridade" e "não como os escribas", acrescenta Marcos, como que comparando a pregação de Jesus com a pregação daqueles homens que falavam com frequência ali.
Sinagoga de Gamla-Israel
Século 1 d.C.
Que diferença entre os métodos de ensinamento de Jesus e os daqueles homens! De um lado, o divino Legislador, que interpretava suas próprias leis, o Verbo encarnado, a Sabedoria incriada que falava diretamente às almas para instruí-las,convencê-las, consolá-las e incentivá-las ao bem. Do outro, os frios legalistas, homens com características impessoais, de uma tradição muitas vezes puramente humana e de nenhum valor, que, em vez de vivificarem os textos sagrados que pretendiam explicar, afogavam-nos debaixo da massa de seus comentários minuciosos, precedidos quase sempre de trivial fórmula: "O rabi tal diz isto", ou "O rabi tal disse aquilo".
Apesar de já ter transcorrido mais de vinte séculos, a doutrina do Salvador continua sendo espírito e vida nos escritos sagrados que nos foram transmitidos. A dos escribas e fariseus, reproduzida pelo Talmud em todas as formas, não ilumina as mentes e muito menos toca os corações; ao contrário, é necessário coragem para ler algumas páginas seguidamente. [O Talmud é o resultado da junção de tratados de sábios judeus sobre a tradição oral e sua interpretação.]

JESUS E AS AUTORIDADES DA JUDEIA (*CURIOSIDADE DO HEBRAICO BÍBLICO)

A autoridade que Jesus demonstrou na ação profética de limpeza do Templo estava mais uma vez destacando a questão básica que foi implicitamente colocada – “ Quem é e quem deve estar no comando do povo de Deus, Israel? ” A resposta do Evangelho, previsivelmente, é o Rei Jesus. O evangelho de João 2, versículos 23-25, não deve ser separado dos versículos anteriores 13-22, que descrevem a mesma coisa – Jerusalém durante a Páscoa. Devemos ver o versículo 23 continuando o que foi iniciado em Jerusalém alguns versículos anteriores. Em grego, “Jesus, por sua vez, não se confiava a eles, porque conhecia a todos”, poderia e deveria (por causa do contexto geral) ser traduzido: “Jesus, por sua vez, não acreditava neles, porque os conhecia. tudo." (João 2:24) Com este pequeno ajuste de tradução, o que vem antes e o que segue no relato do Evangelho se encaixa muito melhor, especialmente com a continuação do versículo 25 (“não precisava de ninguém para dar testemunho”).
Esse tipo de fórmula, “mostre-nos/diga -nos ” ( 18 “Que sinal você nos mostra para fazer essas coisas?”), será levantada novamente pelos Ioudaioi (geralmente traduzidos como "judeus") em várias ocasiões. Em cada ocasião, o ponto era que eles estavam formalmente encarregados da vida religiosa no antigo Israel sob ocupação romana. A resposta de Jesus não poderia ter sido mais explícita do que o que ele diz em 2:19: “Destruí este templo, e em três dias o reerguerei”. As autoridades não poderiam estar mais desvalorizadas. Este era o caso, quer eles entendessem ou não como entenderam (2:20), ou como deveriam (2:21). Sem se preocupar em explicar o que ele realmente quis dizer, Jesus negou a autoridade dos Ioudaioi .
Um dos exemplos mais claros dessa dinâmica “mostre-nos/eu recuso” é encontrado em João, capítulo 10. Os Ioudaioi desafiaram Jesus a apresentar sua candidatura ao messianismo a eles – a liderança de Jerusalém. Jesus recusou, dizendo que seu Pai e seus próprios atos eram suficientes para provar sua autoridade, rejeitando assim a autoridade deles:
Os Ioudaioi se reuniram ao redor dele, dizendo: 'Por quanto tempo você vai nos manter em suspense? Se você é o Ungido, diga-nos claramente.' Jesus respondeu: 'Eu lhe disse, mas você não acredita. Os milagres que faço em nome de meu Pai falam por mim, mas vocês não acreditam porque não são minhas ovelhas.' (João 10:24-27)
Este texto é mais frequentemente lido como um exemplo da falta geral de clareza de Jesus ao declarar sua messianidade . No entanto, acho que isso é injustificável. Não se deve ler o pedido dos Ioudaioi : “Até quando nos manterão em suspense ? Se você é o Ungido, diga-nos claramente ” , mas sim: “Por quanto tempo você nos manterá em suspense? Se você é o Ungido, diga -nos claramente.” Do ponto de vista dos Ioudaioi,sua autoridade para validar a candidatura de Jesus ao messianismo não estava sendo honrada. Jesus atraiu grandes multidões que o seguiram. Os cegos viram, os coxos andaram, os leprosos foram curados, os surdos ouviram e os mortos voltaram à vida. (Mat. 11:2-5; Is. 29:17-21) A identidade de Jesus como Messias era evidente, mas ele não se declarou como tal às autoridades de Jerusalém. Este foi o raciocínio por trás de sua demanda. (Quanto tempo você vai nos manter em suspense?) Jesus, no entanto, afirmou consistentemente que seus milagres e, portanto, o testemunho de seu Pai sobre sua messianidade, foram suficientes para estabelecê-lo como o Servo Messiânico de Deus. (João 10:25-42) Ele se recusou a reconhecer a autoridade dos governantes de Jerusalém sobre ele e, por extensão, sobre todo o Israel. Jesus era aquele a quem o Deus da aliança de Israel havia confiado tal autoridade e, portanto, submeter-se à autoridade ilegítima, ou pelo menos de nível inferior dos Ioudaioi, estava fora de questão. (Mat. 26:63-64)
Vemos que os Ioudaioi assumiram que tinham o direito de aprovar ou desaprovar Jesus, e já estavam engajados no processo de julgá-lo. Eles o desafiaram naquela época, e mais explicitamente depois, a provar quem ele era. Jesus recusou.
(*Este texto é parte de um artigo publicado em Israel Bible Center pelo Dr.Eli Lizorkin-Eyzenberg na categoria de "Evangelhos Judaicos" - Editado aqui por Costumes Bíblicos)

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