O Mar da Galileia, também dito Mar de Tiberíades ou Lago de Genesaré (em língua hebraica: ים כנרת, Kinneret) |
O LAGO GENESARÉ
O lago de Genesaré está a 208 metros abaixo do nível do mar Mediterrâneo, que não fica muito distante. A sua bacia é a grande escavação ao norte do vale do Jordão, assim como o mar Morto é a escavação ao sul. Os ventos tempestuosos do mar penetram pela terra adentro. Além dessas ventanias, sopram outras, próprias do lugar, em consequência da grande diferença de temperatura entre o planalto e a bacia do lago. Às vezes, as grandes nuvens brancas que se levantam ao ocidente se movimentam e projetam sombras sobre a planície de Jezreel e o planalto, mas evaporam ao atingir o ar por sobre essas escavações.
À noite, a temperatura cai consideravelmente no planalto, mas não junto ao lago; daí as tempestades próprias da região. O céu costuma estar inteiramente sem nuvens. A lua cheia projeta tanta claridade que toda a natureza conserva suas linhas bem nítidas. Nas montanhas, ao redor do lago, podem-se avistar, nessas noites frias, as embarcações em perigo e apreciar a luta que travam. Jesus, na segunda vez em que acalmou a tempestade, viu que o vento lhes era contrário.
As ventanias do ocidente, despencando do alto com total violência, não caem tanto nas margens, mas diretamente no lago. O quadro típico é o seguinte: nas margens ocidentais, em Tiberíades, a tempestade passa por cima, a grande altura; as águas, às vezes, agitam-se levemente. Mais adiante, em lugares mais distantes, o lago sofre agitadíssima tempestade: as correntes de ar arremessam-se, muitas vezes, em redemoinho sobre as águas. São justamente essas ondas que se encontram relacionadas às duas tempestades que foram de suma importância na vida de Jesus.
Na primeira vez, os apóstolos navegaram da praia do leste para o oeste, quando, em alto-mar, na zona perigosa, foram apanhados por uma delas. Lucas empregou a expressão apropriada: sobreveio uma tempestade de vento no lago (Lc 8.23).
Na segunda tempestade, o lugar e suas circunstâncias tiveram maior influência no desenrolar dos acontecimentos. Desta vez, os discípulos estavam indo do lado oriental do lago para Cafarnaum quando a tempestade os surpreendeu. Cruzando a embarcação - não se fala de velas -, adiantaram-se um pouco. Não conseguiram, no entanto, atravessar a zona propriamente tormentosa no meio do lago sem correr nenhum perigo. Então ficaram parados.
Enganar-se-ia, porém, quem, como às vezes acontece, pensasse, baseando-se neste fato, que no lago de Genesaré muitos pescadores encontram a morte. A verdade é que durante muitas gerações não ocorreu um único caso fatal. As tempestades desabam repentinamente, mas não são inesperadas. Para as grandes tempestades vindas do Mediterrâneo, existe uma espécie de estação meteorológica.
A ressaca dos abrolhos nas praias da Síria é comum no lago de Genesaré. Existe ali uma reentrância natural, uma grande caverna na praia, que se chama Ras-en-Nacura e significa a grande caixa. É a designação que dão a uma espaçosa gruta na praia em cujo recinto ecoa o ruído da ressaca. É como se fosse o som de um instrumento de música produzido por um aparelho de ressonância.
O surdo murmurar das ondas transplanta-se pelas vibrações da terra até o lago. Os pescadores ouvem-no e exclamam: "A grande caixa está rugindo". E, por meio desse sinal, baseiam sua afirmação de que, em 24 horas, virá a tempestade. Então, diante disso, não se arriscam a entrar em alto-mar.
As tormentas que assaltam o lago, vindas do alto do Hermom, são quase sempre acompanhadas de tensões atmosféricas: são anunciadas por relâmpagos que despontam ao norte. As tempestades locais, não menos perigosas, não são precedidas de semelhantes sinais, mas costumam desencadear-se em horas determinadas, geralmente no período entre meio-dia e meia-noite.
Tal como no tempo de Jesus, ainda hoje os pescadores, com suas embarcações, não se afastam da praia durante estas horas de perigo. Além disso, seus pequenos barcos são construídos de modo tal que, ainda que não naveguem depressa, não viram tão facilmente. Quanto à descrição da tempestade, a Bíblia não relata, talvez como gostaríamos, que as embarcações estavam quase virando, e, sim, inundadas.
Uma pergunta curiosa:
Por que a cidade às margens do Kineret, no norte de Israel, é chamada de Tiberíades?(*)
Tiberíades , ou como é conhecido em hebraico, Tiveryah (טבריה), foi construída por Herodes e recebeu o nome do imperador romano Tibério.
No entanto, tudo acontece pela providência divina, e assim, como acontece com outros nomes hebraicos, o nome da cidade deve estar intrinsecamente relacionado à sua natureza. Isso é especialmente verdade no que diz respeito a Tiveryah , uma das quatro cidades sagradas de Israel e a última sede do Sinédrio , a suprema corte judaica da antiga Terra de Israel.
Na verdade, dois sábios do Talmud nos dão uma compreensão mais profunda do nome de Tiveryah.
Um sábio, Rabi Jeremiah , ensinou que o nome tem a ver com sua localização geográfica. Tiveryah, situada no centro da Terra de Israel, está relacionada à palavra hebraica para umbigo, tabur (טבור).
O outro sábio, Rabba bar Nahmeini , conhecido em todo o Talmud como Rabbah, citou uma tradição de que o nome "Tiveryah" significa as palavras hebraicas para "sua visão é boa", " tovah re'iyatah " (טובה ראייתה).
Existem várias explicações de por que a visão de Tiveryah é boa. Uma é porque ele está situado nas margens do Kinneret, cercado por pomares e jardins, e é incrivelmente bonito. A segunda é que, além de sua beleza física, a cidade já foi sede de grande erudição judaica e, portanto, também era bela no sentido espiritual. [Veja mais sobre Tiberíades, AQUI]
(* Esse texto é parte de um artigo publicado por Chabad.org - editado aqui por Costumes Bíblicos)