COSTUMES BÍBLICOS: novembro 2018


O DIA-A-DIA MINISTERIAL DE JESUS E DOS DISCÍPULOS


O DIA-A-DIA MINISTERIAL DE JESUS E DOS DISCÍPULOS
Com a volta dos peregrinos da Festa da Páscoa, começava uma nova fase do ano: o tempo da colheita. Ao som de cânticos, os ceifeiros agitavam as foices, cortavam a cevada e o trigo e os levavam para o pátio. As uvas começavam a amadurecer; os figos iam amolecendo e já podiam ser comidos, mas era necessário protegê-los dos ladrões e dos animais.
Quem não dormia no campo, para vigiar os montes de trigo, ficava de guarda, junto às vinhas. Os trabalhadores não cessavam de proferir exclamações de júbilo. Mas na metade do dia silenciavam por causa do calor e do mormaço. Ao entardecer, porém, o vento do ocidente trazia nova vida a todos e ao campo. A paisagem, ressequida, assumia um colorido cada vez mais cinzento e amarelado, quase esbranquiçado.
Durante essas semanas, como nos dois "silenciosos" meses do inverno, a vida pública descansa. O mesmo acontecia com as atividades praticadas por Jesus, que lhes dava um intervalo forçado todos os anos. Desta vez, porém, foi uma pausa determinada por outras circunstâncias que não as climáticas.
Considerado do ponto de vista de Jesus, o milagre da multiplicação dos pães foi uma última tentativa. O povo da Galileia não era susceptível a uma concepção mais elevada da missão messiânica. Os fatos demonstravam isso infelizmente. Por esse motivo, daí em diante, Jesus procurou evitar todo ajuntamento maior das multidões. Ele já não permanecia em um lugar, como até então fazia em Cafarnaum, por um espaço maior de tempo. Ao operar um milagre, fugia das aglomerações do povo.
Sua peregrinações seguiram um plano ziguezague inteiramente imprevisto. Os meses mais quentes do último verão que ele passou na Galileia foram empreendidos em viagens até as regiões dos gentios. Fez travessias aparentemente sem um objetivo especial pelo lago em outras excursões, entre as quais a subida ao monte da transfiguração.
Esquivando-se Jesus do contato das multidões, dedicou-se ainda mais à instrução e educação dos discípulos. Suas viagens às regiões dos gentios seriam, neste particular, de suma importância. Ao refugiar-se nessas áreas, Jesus ficou a sós; os fariseus não queriam expor-se ao perigo de contrair alguma impureza levítica, tendo de tratar com os gentios, e o povo simples geralmente não se apartava para muito longe de sua terra natal.
Assim foi que Jesus e seus discípulos atravessaram os limites da Palestina, seguindo para o norte, a partir do lago de Genesaré e pelo vale do Jordão. Os apóstolos que Jesus tinha conquistado junto ao lago, quando ainda ocupados com a pescaria, agora caminhavam com o Mestre pelas montanhas e podiam avistar lá embaixo, na planície, o rio, ora esgueirando-se por estreitas gargantas, ora correndo por campos pantanosos. À frente deles, erguia-se o Hermom que, na maior força do verão, ainda reluziam tanto as faixas de neve quanto as "costelas" de sua gigantesca encosta.
As águas, que iam sumindo na terra, por canais e furos subterrâneos, prorrompiam nos sopés das montanhas em grandes fontes que pareciam brotar das entranhas da terra. Junto às três maiores fontes de água, o tetrarca Filipe construíra uma cidade, e, para anular a influência judaica, o imperador romano dera a ela o nome de Cesareia de Filipo. Já seu pai, Herodes, mandara levantar um templo em honra ao deus Pã. Em todas as cercanias, o ar ressoava pelo ruído das águas que caíam nas grotas.
Os discípulos viviam como os galileus e os antigos negociantes de peixe. Eram espontâneos em seu contato com os gentios, mas não deixavam, entretanto, de estranhar a quantidade de templos e de estátuas de divindades gentias. Por suas vestes e fisionomia, os israelitas podiam ser imediatamente reconhecidos. E sabiam o que se dizia deles: "Esses homens que vêm aí não são ricos, pois sequer possuem animais para montar! Mas mendigos também não são".
De todos os lados, detrás das árvores e vinhas, dos centros das casas e esquinas, das janelas escuras, abertas nas paredes amareladas, muitos olhos os observavam.

AS INSTRUÇÕES ÀS TESTEMUNHAS DO CORDEIRO - APOCALIPSE 1 AO 3


O servo de Deus (Ap 1.1-10).

Método cronológico.

João, o apóstolo amado, recebe e transmite uma mensagem especial.
A. A fonte da mensagem (Ap 1.1).

  1. Dada pelo Pai ao Filho.
  2. Dada pelo Filho a um anjo (possivelmente Gabriel ou Miguel).
  3. Dada pelo anjo ao apóstolo.
B. A benção da mensagem (Ap 1.3).
C. A razão da mensagem (Ap 1.3): o tempo está próximo.
Aqui, a palavra usada não é chronos (o termo comumente usado para o tempo do relógio), mas sim kairos, que se refere a uma estação fixa. Esta estação fixa é aquela descrita por Daniel em 9.24-27. Um dia, um grupo de judeus, depois de comparar Daniel e Apocalipse, chegará à conclusão de que esta estação fixa, determinada, na verdade, está às portas.
Além disso, Deus está desejoso de mostrar aos Seus servos as coisas que brevemente devem acontecer (de acordo com a forma de Deus registra o tempo (Ap 1.1).(Veja também Rm 16.20; 2Pe 3.9)
A palavra brevemente também pode significar "rapidamente". Deus deseja abrir a cortina do futuro para que os Seus santos possam ver o que está adiante (Dn 2.28; Am 3.7; Mt 11.25; Lc 8.10).
D. Os recipientes da mensagem (Ap 1.4).
E. O tema da mensagem: a Pessoa e Obra de Jesus Cristo.
  1. Sua obra passada - a redenção (Ap 1.5). Nos ama está no presente, continua nos amando. Nos lavou está no tempo aorista, nos lavou de uma vez por todas.
  2. Sua obra presente - a santificação (Ap 1.6).
  3. Sua obra  futura - a glorificação (Ap 1.7; veja também Dn 7.13,14; Mt 24.30; At 1.9).
F. A doxologia da mensagem (Ap 1.6).
G. O local da mensagem (Ap 1.9).
João agora explica por que ele estava em uma ilha. Ele ficara exilado lá aproximadamente entre 86 e 96 d.C. Patmos era uma ilha escarpada e vulcânica na costa da Ásia Menor. Ela tinha cerca de 16km de comprimento por 9,6km de largura. É provável que João tenha sido enviado para lá pelo imperador romano Domiciano. Domiciano era o irmão de Tito (que destruiu a cidade de Jerusalém). Portanto, Deus consentiu que um pagão destruísse Sua cidade terrena, mas usaria o irmão dele para permitir que a nova Jerusalém celestial fosse revelada ao homem pela primeira vez. A obra da graça é verdadeiramente maravilhosa e misteriosa!
João alude ao fato de que estava passando por tribulação.
H. O momento da mensagem (Ap 1.10; veja também Ap 4.2; 17.3; 21.10).
I. O método da mensagem (Ap 1.10).
O toque da trombeta é ouvido diversas vezes neste livro (veja Ap 4.1; 8.2,7,8,10,12; 9.1,13; 11.15).

O Filho de Deus (Ap 1.11-20).

A. A Sua declaração (Ap 1.11).
B. A Sua descrição (Ap 1.12-16).

  1. Ele estava segurando sete estrelas no meio de sete castiçais de ouro.
  2. Ele estava vestido de uma veste que ia até os pés.
  3. O Seu peito estava cingido com um cinto de ouro.
  4. A Sua cabeça e o Seu cabelo eram brancos como a lã branca ou como a neve.
  5. Seus olhos eram como chamas de fogo (Hb 4.13).
  6. Seus pés eram semelhantes a latão reluzente.
  7. Sua voz era como a voz de muitas águas (Sl 29.3-9).
  8. Da Sua boca, saía uma aguda espada de dois fios (Hb 4.12).
  9. Seu rosto era como o sol que resplandece com toda a sua força (Mt 17.2).
C. A Sua libertação (Ap 1.17,18).
O efeito dessa visão deslumbrante sobre João não foi nada menos do que paralisante. João havia andado com Jesus durante três anos. Ele havia testemunhado Seus milagres e ouvido Seus sermões. Ele havia se recostado em Seu peito no cenáculo e visto o Senhor morrer na cruz. Finalmente, Ele havia se alegrado com a Sua ressurreição e presenciado a Sua ascensão. Mas tudo isso acontecera cerca de 60 anos antes. Agora, ele vê o Redentor resplandecente em todo  o Seu fulgor ofuscante e cai aos Seus pés como um morto. Mas o Senhor amoroso de João agiu rapidamente da forma meiga como o apóstolo tantas vezes O havia visto atuar. Ele estendeu a mão e tocou o necessitado (cf. Mt 8.14,15; 9.27-29; 17.7; Lc 5.12,13; 7.14; 22.51; Jo 9.6).
Jesus tranquiliza João, dizendo Eu estou vivo! O verdadeiro símbolo do cristianismo não é a cruz, mas sim, a sepultura vazia.
Além disso, Jesus assegura João, dizendo: [Eu] tenho as chaves da morte e do inferno.
D. A Sua definição (Ap 1.19,20).
Agora, Jesus interpreta para João o significado das sete estrelas e dos castiçais que o apóstolo vê na Sua destra.
  1. As sete estrelas eram os anjos das sete igrejas. Com relação à palavra anjos, J.Vernon McGee escreve: Anjos podem ser tanto humanos como divinos - a palavra aqui é mensageiro. Este termo poderia referir-se a um membro do exército angelical do céu ou a um líder ou mestre da congregação. (Reveling through Revelation.p.17)
  2. Os sete castiçais eram sete igrejas específicas. Ao ouvir isso, João entendeu por que ele havia visto Jesus vestido daquela maneira. Cristo agora aparece como o nosso Sumo Sacerdote. Os castiçais de ouro referem-se à Sua atual obra no céu, mantendo as lâmpadas acesas. Arão acendia os candeeiros no tabernáculo, apagava-os com espevitadeiras, enchia-os de azeite e aparava seus pavios. Hoje, Cristo faz isso com Suas lâmpadas atuais, que são as igrejas locais.
Até a próxima!
Fica na paz!

O culto ao Imperador e o Apocalipse

O CULTO AO IMPERADOR
A idéia de dar ao Imperador romano o tratamento dispensado a uma divindade surgiu entre a população do Oriente, agradecida a Roma por ter reunido "todos os povos do Império" (Lc 2.1) sob um único governo e sistema econômico. Durante a "Paz Romana", a partir de 31 a.C., cessaram, em grande parte, as guerras civis, os piratas foram banidos do mar, e o comércio pôde florescer.
Em 29 a.C., as elites da Ásia Menor, em sinal de gratidão, pediram permissão a Otaviano (o novo líder mundial, que viria a ser conhecido como César Augusto) para que pudessem cultuá-lo como se fora uma divindade, na cidade de Pérgamo. Otaviano autorizou esse novo culto em honra tanto a Roma (a deusa Roma) quanto a Augusto (o imperador). João de Patmos, ao escrever o Apocalipse, se refere a Pérgamo como o lugar onde fica o "trono de Satanás" (Ap 2.13).
A partir deste pequeno precedente desenvolveu-se o costume de honrar o Imperador como deus, prática difundida em todo o Império. Após a morte de César Augusto, 14 d.C., o senado de Roma declarou que ele era divino, permitindo a Tibério (14-37 d.C.), filho adotivo e sucessor de Augusto, denominar-se "filho de um deus".
Este e outros títulos, como "salvador do mundo", atributos a imperadores do primeiro século, são os mesmos que os cristãos deram a Jesus. É comum encontrar em moedas do primeiro século a declaração de que o Imperador no poder era DIVUS ("divino"). Calígula (37-41 d.C.)tinha planos de colocar uma estátua sua no templo de Jerusalém, mas morreu antes de concluir o projeto. Domiciano (81-96 d.C.) gostava que seus súditos se dirigissem a ele como Dominus et Deus Noster ("nosso Senhor e Deus).
É possível que, ao escrever o Apocalipse, João de Patmos estivesse preocupado com esse culto ao Imperador. Muitos eruditos entendem que "a besta que emerge do mar" (Ap 13.1-10) é uma referência ao Império romano com suas "sete cabeças" (sucessão de sete imperadores), cada qual trazendo "nomes de blasfêmia" (títulos de deificação).
A seguinte inscrição, datada de 3 a.C. é procedente de uma cidade da Ásia Menor situada ao norte da região onde ficavam as sete igrejas do Apocalipse, reflete o sentimento de gratidão, típico das elites provinciais daquele tempo, que ajudou a desenvolver o culto ao Imperador:
"No terceiro ano a partir do décimo segundo consulado do Imperador César Augusto, filho de um deus... o seguinte juramento foi feito pelos habitantes de Paflagônia e pelos comerciantes romanos que moram entre eles: Juro por Júpiter; Terra, Sol, por todos os deuses e deusas, e pelo próprio Augusto, que serei leal a César Augusto e a seus filhos e descendentes durante toda a minha vida, em palavras, ações, e pensamentos, considerando amigos os que eles consideram amigos... que na defesa dos interesses deles não pouparei corpo, nem alma, nem vida, nem filhos..." 
A segunda besta (Ap 13.11-18) pode representar a vasta corporação de sacerdotes a serviço do culto ao Imperador, muitos dos quais tinham posição de liderança na política e no comércio da parte oriental do Império. Esse grupo de sacerdotes "faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta" (Ap 13.12).
A observação de que "ninguém podia comprar ou vender, a não ser que tivesse esse sinal (da besta)" (Ap 13.17) pode ser uma referência ao fato de que a participação nesse culto ao Imperador era quase que obrigatória para quem, no final do primeiro século, queria fazer negócios com associações comerciais e instituições financeiras. Tudo indica que os cristãos, que afirmavam lealdade exclusiva a Jesus, se viam empobrecidos e sem poder político num contexto daqueles (veja Ap 2.9; 3.8).

CESAR AUGUSTO, O Homem que mandava no Mundo quando Jesus nasceu

Se dos três filhos de Herodes entre os quais se dividiu o reino passarmos aos imperadores romanos, sob cuja jurisdição exerceram aquelas funções semi-régias, notaremos que os evangelistas só nomearam dois: Augusto, o primeiro que foi investido de tão elevada dignidade, e seu sucessor, Tibério. De fato, no reinado de ambos transcorreu toda a vida de Jesus.
Na Bíblia, é mencionado uma única vez Augusto (Lc 2.1), por ocasião do nascimento do Salvador em Belém. Ele gozava naquela época de ilimitado poder nos imensos territórios que os romanos haviam subjugado um após outro.
Augusto havia organizado aquele império, composto de povos muito diversos, de maneira tão hábil que lhe infundiu notável unidade e o mantinha sob sua obediência por meio de funcionários enérgicos que o representavam em todas as partes. Tem-se feito com frequência e com justiça esta observação: reinava então a paz depois de prolongadas guerras. Tão certo era que reinava a paz, que o Senado havia decretado, entre os anos 13 e 9 a.C., que fosse construído no Campo de Marte o altar da paz, cujas ruínas foram descobertas recentemente. Augusto poderia, pois, parecer o verdadeiro "príncipe da paz"; mas enquanto o império fundado por Augusto desapareceu há muito tempo, o reino fundado pelo Messias nascido em Belém, o verdadeiro Príncipe da Paz, tem duração eterna.

Interpretando o Novo Testamento

"Ao terminar sua refeição em um restaurante chinês, a filha de sete anos de idade abriu o seu biscoito da sorte e leu: 'Mantenha seus pés no chão mesmo que seus inimigos o lisonjeiem'. Com muita curiosidade, ela perguntou o que isto queria dizer. Seu pai lhe explicou a frase: 'Manter os pés no chão' é uma expressão (na verdade, uma expressão idiomática) que significa ter um entendimento realista de suas próprias ideias, ações e decisões. Ela olhou para ele, mais confusa do que nunca, e disse: 'Mas eu ainda preciso manter os meus pés no chão, certo'? Ela não entendia como as expressões idiomáticas funcionavam. Ela ainda imaginava que existira um significado mais "literal". As pessoas podem equivocar-se com a Bíblia da mesma forma. Um exemplo é João 17.12 onde Judas é chamado de "filho da perdição". Será que isto significa que o pai de Judas era chamado de "Destruição"? Não, isto é uma expressão idiomática no Novo Testamento que se refere ao caráter ou ao destino de alguém. Então, João 17.12 significa que Judas está destinado à destruição. Quando lemos a Bíblia temos de perguntar: O que o autor original estava querendo comunicar?

A IMPORTÂNCIA DA INTERPRETAÇÃO CORRETA

Grande parte da Bíblia pode ser interpretada literalmente sem nenhum problema. Entretanto, a abordagem descrita neste capítulo, a abordagem histórico-gramatical, é uma forma muito melhor de abordar a Escritura. Isto é, os leitores da Bíblia precisam entender a gramática e o contexto histórico do texto a fim de entender corretamente e aplicar com confiança qualquer passagem.
Em 2 Timóteo 2.15, o apóstolo Paulo disse: Procura apresentar-te a deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Paulo manda Timóteo ser diligente, uma palavra que se refere a examinar completamente tudo o que você fizer. Timóteo é instruído a ser diligente em ensinar e lidar com a Escritura. Os céticos já disseram: "Você pode fazer a Bíblia dizer qualquer coisa que queira". Será este o princípio para interpretar-se a Palavra de Deus? Não! Então, quais são os passos para entender-se a Bíblia? Como os cristãos podem aplicar para a vida deles hoje a passagem de um livro que foi concluído há quase dois mil anos? estas perguntas e outras serão respondidas neste capítulo.
Um conceito mandatório que precisa ser assimilado é que a Bíblia não pode ser lida adequadamente sem ser interpretada. Toda palavra lida recebe uma definição. Cada sentença é entendida em relação às sentenças que a acompanham. Essas decisões sobre o significado, que geralmente acontecem subconscientemente, são de fato interpretações porque as pessoas filtram o que leem de acordo com suas pressuposições. Cada leitor é influenciado por sua visão do mundo, das doutrinas, tradições, criação, e cultura. As pessoas não simplesmente leem e entendem, porque quando uma declaração é lida, ela é interpretada. A questão não é se os cristãos devem interpretar a Bíblia (porque todos o fazem); a questão é se os cristãos interpretam a Bíblia corretamente.

OS CONCEITOS PARA A INTERPRETAÇÃO

Dois conceitos universais para ter em mente ao ler sua Bíblia são: (1) contexto e (2) regra de interpretação. Com estes dois conceitos em sua "caixa de ferramentas interpretativas" você se resguardará das interpretações retrógradas ou mesmos heréticas.

Contexto

Há dois tipos de contexto quando interpretamos a Escritura: (1) o contexto literário, que se refere às palavras, sentenças e parágrafos próximos; e (2) o contexto histórico, que se refere à situação cultural e histórica do autor e do público alvo original. Por exemplo, o contexto literário de João 3.16 é: (1) o parágrafo (Jo 3.16-21), (2) o discurso (Jo 3.1-21), (3) a seção do Evangelho de João em que o mesmo se encontra (Jo 1.19--4.54), e (4) todo o Evangelho de João. Você poderia visualizar isto assim:
O contexto histórico inclui a cultura, a língua, os costumes, o período de tempo, a situação e o pacto do autor original e dos leitores. Muitos recursos adicionais estão disponíveis para ajudá-lo a entender o contexto histórico.
O refrão "o contexto é o tudo" deveria ser repetido até que ressoasse em sua mente. Nenhum princípio de interpretação da Bíblia é mais importante do que o contexto. A maioria dos erros de interpretação pode ser resolvida estudando-se o contexto mais cuidadosamente. O velho adágio: "você pode fazer a Bíblia dizer qualquer coisa que quiser que ela diga" só é verdadeiro se você ignorar o contexto literário. A forma mais comum em que isto se dá é na prova textual.
A prova textual inadequada é uma praga que impede a boa interpretação. Prova textual se refere à citação de um versículo da Bíblia sem preocupação com o contexto literário. Às vezes a prova textual é feita corretamente. Por exemplo, se um pregador afirmasse que "qualquer que crer em Jesus terá a vida eterna. como diz em João 3.16", ele estaria fazendo uma prova textual de João 3.16. Já que a afirmação está correta, este é um exemplo de prova textual adequada. Esta prática se torna perigosa se alguém não conhece o contexto literário da passagem. Mas, suponha que um jogador de futebol diga: "Eu sei que Deus me ajudará a ser o melhor jogador de futebol porque Filipenses 4.13 diz que eu posso tudo naquele que me fortalece". O contexto de Filipenses é de ser fortalecido pela perseguição. Em Filipenses 1.27-29, Paulo diz:
Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação, e isto de Deus. Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele.
Estes versículos retratam os filipenses sofrendo perseguições. Isto não deveria ser nenhuma surpresa já que Paulo fora preso e açoitado quando estava em Filipos (veja At 16) e estava na prisão quando escreveu esta carta. Enquanto que muitos indicadores comprovam este argumento, no versículo imediatamente anterior ao versículo 4.13, Paulo descreve alguns sofrimentos pelos quais havia passado. Após este versículo 13, Paulo menciona a sua "aflição". Todas estas pistas contextuais indicam que Paulo não estava fazendo uma declaração generalizada de que Deus ajudaria os cristãos a fazer qualquer coisa que quisessem.

A analogia da fé

Uma popular confissão de fé resume bem este conceito: "A infalível regra de interpretação é que a Escritura interpreta a si mesma: e, portanto, quando há um questionamento sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer parte da Escritura (que não é múltipla, mas única), ela deve ser pesquisada e conhecida em outros lugares que falam mais claramente" (The Westminster Confession of Faith, chap.1,IX). A primeira declaração explica que a Escritura deve ser usada para interpretar a Escritura. A Bíblia nunca irá contradizer a Bíblia. Além disto, cada texto tem apenas uma interpretação correta, porém aplicações. Quando um versículo não estivar claro, deve-se procurar entender este versículo pela leitura dos versículos do mesmo tópico que estejam mais claros. Por exemplo, Hebreus 6.1-6 geralmente é citado como uma passagem que demonstra que alguém pode ser salvo e depois perder a salvação. Esses versículos são difíceis de entender por si sós: Será que eles estão descrevendo os cristãos, ou apenas aqueles que aparentam ser cristãos? As descrições parecem tão positivas (eles foram iluminados, experimentaram do dom celestial, foram companheiros com o Espírito Santo etc.), mas o texto não diz explicitamente que eles são de fato cristãos. Já que esta é uma passagem obscura, uma comparação com outras passagens que tratam deste assunto será necessária para um esclarecimento. Ler João 6.39; 10.28,29; e 1João 2.19, passagens que são muito mais claras sobre esta questão, ajudará esclarecer o significado de Hebreus 6.1-6.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTERPRETAÇÃO

Interpretar uma passagem da Bíblia envolve uma leitura consciente do texto. Os leitores cuidadosos irão querer ler uma passagem repetidas vezes, meticulosamente, descobrindo como cada sentença e cada parágrafo acrescentam ao significado da passagem que estão estudando. Uma leitura rápida da passagem reforçará a crença anterior dos leitores sobre a mesma. Mas quando eles se engajam em um exame mais profundo,diligentemente estudando a Palavra de Deus, irão verdadeiramente poder entender a Sua Palavra e conhecer a Deus mais intimamente.
Observando as partes de uma passagem bíblica
Tanto os detalhes quanto o quadro geral da passagem devem ser analisados. O processo começa com a observação. Anote o maior número de observações possíveis sobre a passagem. Howard Hendricks já dizia: "A caneta é uma alavanca mental". Os leitores conscientes descobrirão que existem observações demais para serem lembradas se não forem anotadas. Portanto, anote-as para que você possa observá-las mais tarde. Você precisa completar este simples passo, a observação, antes de poder interpretar ou aplicar a passagem. O pastor e autor inglês John Stott disse:
Procurar a mensagem contemporânea [de uma passagem] sem primeiro lutar com o seu significado é experimentar um atalho proibido. Isto desonra a Deus (ignorando o Seu caminho escolhido para revelar a si mesmo em contextos culturais específicos), isto desvirtua o uso de Sua Palavra (tratando-a como um almanaque ou um livro de poções mágicas) e isto desvia o Seu povo (confundindo-os sobre como interpretar as Escrituras).
Quais são os meios que os observadores cuidadosos da Palavra de Deus devem usar para ler a Bíblia? Aqui está o mapa para a leitura de frases e parágrafos.

O lugar da observação na interpretação

A citação de John Stott enfatiza a importância de entender-se o significado da passagem para o público alvo original antes de entender o significado contemporâneo. Os três conceitos-chave são a observação, a interpretação e a aplicação. A ordem para estes conceitos são da maior importância. Se os leitores alterarem a ordem, eles correm o perigo de interpretar erroneamente a passagem. Primeiro, observe a passagem usando algumas das categorias discutidas abaixo. Segundo, interprete a passagem, que significa descobrir o que ela significava para o público original. Terceiro, aplique a passagem à situação contemporânea.
Observando as frases
Existe uma diferença entre frase e versículo. Alguns versículos possuem múltiplas frases. Algumas frases abrangem vários versículos. Há "sete coisas" que devem ser observadas na leitura das frases. Esta não é uma lista exaustiva, mas um meio de se começar a ler as sentenças mais atentamente.
  1. Repetição: Uma forma de o autor enfatizar um ponto importante é repetir uma palavra ou frase várias vezes. Por exemplo, João 1.9,10 diz: Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo, estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conheceu. João usou a palavra mundo quatro vezes em dois versículos. Então, ao observar o texto, anote: "A palavra mundo foi usada quatro vezes em dois versículos". Não se preocupe com a razão ou implicação desta observação; simplesmente faça a observação. 
  2. Contraste: O uso das palavras: "mas, ao contrário" e porém" significa um contraste. Paulo diz em Romanos 6.14: Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Quando você ver a palavra "mas" não se esqueça de anotar que os dois itens estão sendo contrastados. Em Romanos 6.14, "não estais debaixo da lei" e "debaixo da graça" estão sendo contrastados. 
  3. Comparações e metáforas: A descrição de Lucas sobre Jesus em Lucas 22.44 é um bom exemplo: E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra (ARA). Sermões têm sido pregados descrevendo o processo de hematidrose em relação a este versículo. Sem negar a condição médica em que pequenos vasos sanguíneos se rompem perto das glândulas sudoríparas e o sangue sai por essas glândulas, reconheça que Lucas 22.44 apenas diz que o suor de Jesus era "como" gotas de sangue". Isto significa que havia um relacionamento entre o Seu suor e as gotas de sangue. Parece mais provável que o relacionamento fosse sobre o tamanho das gotas de suor, e não sobre a cor. 
  4. Causa e efeito: Estude Romanos 12.2 e tente descobrir os relacionamentos de causa e efeito: E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. A primeira causa é uma mente renovada e o efeito é a transformação. A segunda causa é a transformação e o efeito é a capacidade de discernir a vontade de Deus. 
  5. Conjunções: Romanos 12.1 começa assim: Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus (NTLH). Este versículo começa com "portanto", o que deveria levar o leitor observador a perguntar: "Por que o autor diz portanto"? Isto se refere ao fundamento sobre o qual Paulo irá ensinar em Romanos 12--16, que é todo o texto de Romanos 1--11. 
  6. Verbos: Os verbos são onde as ações acontecem. Isto é verdadeiro em todo o Novo Testamento, mas especialmente nas epístolas. Além de simplesmente notar o verbo, também tente decidir se o verbo está na ativa ou na passiva. Um verbo na ativa ocorre quando o sujeito da oração está praticando a ação. Na oração "Eu chutei a bola", o sujeito (Eu) está praticando uma ação (chutar). Portanto, "bater" é um verbo na ativa. Na oração "Eu fui golpeado pela bola", o sujeito (Eu) não praticou a ação de golpear, mas recebeu a ação. Quando o sujeito recebe a ação, verbo está na passiva. Veja Efésios 1.11: nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade. "Havendo sido predestinados" está na voz passiva. Os cristãos foram passivos em receber a ação da predestinação. O verbo na ativa tem como sujeito Aquele que faz todas as coisas. Deus é o agente ativo, e os cristãos são os passivos. Lembrem-se de que você só está fazendo observações. Não pule prematuramente para a aplicação ou teologia. As pessoas devem treinar fazer observações e permitir que o texto fale por si mesmo.7. 
  7. Pronomes: Às vezes é difícil decifrar todos os pronomes em um texto bíblico, e muitas vezes os leitores não lhes dão valor. Sempre anote a quem o sobre quem o pronome está referindo-se. Leia Filipenses 1.27-30 e identifique a quem todos os pronomes se referem: Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer [eu] vá e vos veja, quer esteja ausente,[eu] ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus. Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele, tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e agora ouvis estar em mim. Aqui estão os pronomes de cada versículo e as suas definições:
VERSÍCULO
DEFINIÇÃO
Versículo 27
Eu = Paulo
Vos = os filipenses
Eu = Paulo
Vós = os filipenses
Versículo 28
Eles = os oponentes
Vós = os filipenses
Versículo 29
Vós = os filipenses
Nele = Cristo
Ele = Cristo
Versículo 30
Mim = Paulo
Mim = Paulo

Embora esta passagem tenha sido bem simples, algumas passagens do Novo Testamento são mais confusas. 
Observando os parágrafos
Há cinco itens aos quais se devem atentar ao observar os parágrafos. estes podem ser um pouco mais difíceis porque você tem de levar em consideração uma maior seção de material.
  1. Do geral para o específico: Às vezes um escritor da Bíblia introduz algo usando termos "gerais", e depois, ele fornece um exemplo específico. Por exemplo, Paulo exorta o seu público em Efésios 4.1: Rogo-vos, pois eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados. Este é um princípio genérico que eles devem seguir. Porém, no versículo seguinte, ele fornece quatro exemplos específicos: sejam humildes, gentis, pacientes e aceitem uns aos outros em amor. Estas quatro são maneiras específicas pelas quais viverem obedientemente ao mandamento geral. 
  2. Diálogo: Em João 21.15, Jesus faz uma a Pedro. O diálogo se alterna entre Jesus e Pedro (Jo 21.15-19). É importante reconhecer quem está falando. O autor escolheu retratar os eventos usando o diálogo. Muitas vezes João Batista está dizendo algo, mas alguns pregadores atribuem as palavras a Jesus (cf. Jo 3.27-30). Certifique-se de observar quem está falando! 
  3. Pergunta e resposta: em Romanos 6.1, Paulo diz: Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? Paulo espera que os seus leitores pensem sobre esta pergunta. Então ele propôs a questão e depois ofereceu a resposta no versículo seguinte: De modo nenhum! 
  4. Meios: Um elemento importante em muitas passagens é a comunicação de como algo aconteceu. Ao fazer isto, o autor está fornecendo os meios. Em Efésios 2.13, Paulo diz: Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. O meio, ou o instrumento que trouxe aqueles que estavam separados de Deus para perto dele é o "sangue de Cristo". Mateus descreve Jesus expulsando demônios, em Mateus 8.16, dizendo que Ele os expulsou com "uma palavra". A "palavra" de Jesus foi o instrumento ou o meio que expulsou os demônios. 
  5. Propósito: As declarações de propósito são vitalmente importante para a compreensão das passagens do Novo Testamento. Efésios 2.8,9 é uma das passagens mais conhecidas do Novo Testamento: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Entretanto, Paulo dá um propósito para a salvação trazida pela graça de Deus no versículo 10 (ênfase acrescentada): Poque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. O propósito é que aqueles que receberam a graça de Deus devem andar nas boas obras que Deus preparou para que eles praticassem. As palavras "para que" comunicam o conceito do propósito neste versículo. 

INTERPRETAÇÃO E GÊNERO

Antes que os leitores habilitados possam interpretar um texto, eles devem considerar as regras de interpretação que se aplicam àquele texto. essas regras serão conhecidas pela compreensão do gênero da passagem que está sendo lida. Quando elas são levadas em consideração, é possível encontrar com segurança o princípio teológico que existe na base da passagem. Isso irá ajudar significadamente o processo de aplicação do texto na vida da pessoa.
Considerando o gênero
O que é gênero? O gênero se refere ao tipo de literatura. Encontramos diferentes gêneros (tipos de literatura) todos os dias. Fomos treinados para interpretá-los ou podemos logicamente deduzir como usá-los. Por exemplo, o modo como lemos um jornal depende da seção que estamos lendo. Se estivermos na seção de esportes, imaginamos que estamos recebendo os fatos sobre os eventos esportivos. Se estivermos lendo a primeira página de um jornal e encontrarmos uma história sobre um gato conversando com um cachorro, ficaremos compreensivelmente confusos. Mas se lermos a história do gato conversando com o cachorro na seção cômica, saberemos que a realidade é suspensa para este gênero de literatura e não pararemos para nos perguntar: "Espere aí! Isto é impossível! Gatos e cães não falam!" Não fazemos isto porque entendemos como gênero dos cômicos funciona. Infelizmente, a Bíblia foi escrita em gênero antigos com os quais a maioria das pessoas hoje não está familiarizada. Portanto, familiarizar-se com esses gêneros antigos e com as regras de interpretação deles ajudará bastante na leitura correta dos mesmos.

O gênero do Evangelho

Os primeiros quatro livros do Novo Testamento são os evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Os evangelhos devem ser abordados diferentemente das cartas e da poesia porque possuem diferentes regras de interpretação. Os quatro evangelhos são biografias da vida de Jesus de Nazaré. Entretanto, são biografias antigas, enão modernas. Qual a diferença?
Primeiro, as biografias antigas não davam muito detalhes sobre a vida inteira de uma pessoa. Por exemplo, se alguém escrevesse uma biografia da vida de Brad Pitt, ela provavelmente incluiria alguma informação sobre o seu nascimento em Oklahoma e sua criação em Missouri. Mas se esse livro pulasse grande parte de sua infância e juventude, e ainda pulasse o seu casamento com Jennifer Aniston, e, em vez disso se concentrasse em seu relacionamento com Angelina Jolie, o mesmo seria considerado (pelos padrões modernos) um relato inadequado de sua vida. As biografias antigas muitas vezes propositalmente se concentravam em um período da vida de alguém, em vez de cobrir igualmente toda a vida da pessoa. Comparando os quatro evangelhos, note como o nascimento de Jesus foi discutido somente em dois deles (Mateus e Lucas) e a Sua infância apenas em um evangelho (Lucas), mas a Sua vida adulta, a partir dos 30 anos de idade é o ponto focal de todos os quatro evangelhos, particularmente a última semana da Sua vida.
Segundo, as biografias não eram necessariamente cronológicas. Se a biografia de Brad Pitt anteriormente mencionada discutisse seus filmes fora de ordem (não cronologicamente), isto iria, novamente, ser considerado problemático pelos padrões modernos. Porém, embora as biografias antigas pudessem ser cronológicas, não se exigia que o fossem. Lucas diz que ele escreveu "ordenadamente" (Lc 1.3), contando que a palavra "ordenadamente" poderia referir-se a uma ordem cronológica, geográfica ou lógica.
Fazer as perguntas certas sobre a passagem que está sendo lida é uma das chaves para a boa interpretação. Há duas perguntas fundamentais a serem feitas ao lermos os evangelhos: 91) O que esta história comunica sobre Jesus? (2) Qual é o ponto primordial desta passagem? Ao tentar responder estas perguntas, tenha em mente as considerações a seguir.
  1. Contexto histórico: Quando alguém lê o Evangelho de João, há dois cenários a serem considerados: o cenário histórico original de Jesus e o cenário da Igreja de quando João escreveu (c.90 d.C.). Então, quando Jesus está falando para os Seus discípulos, para as multidões ou para os fariseus, lembre-se de que nenhum deles está por aqui atualmente. Reconheça que a plateia original das palavras de Jesus não existe mais. Por exemplo, quando Jesus lavou os pés dos discípulos, aqueles do cenário original sabiam que a lavagem dos pés só era feita pelos escravos gentios. Os pés sempre eram lavados por alguém inferior. Jesus estava virando as normas sociais de cabeça para baixo. Este contexto original na época em que as palavras de Jesus foram faladas não é necessariamente o mesmo contexto do público do Evangelho de João quando ele escreveu o evangelho cerca de 50 anos mais tarde. 
  2. Contexto literário: O contexto literário, que é o contexto imediato e mais abrangente da passagem, é superior a todos os outros fatores da interpretação. Às vezes os leitores se preocupam em comparar um evangelho com outro. Embora não seja errado comparar os evangelhos,certifique-se de permitir que a mensagem de Mateus fale por si mesma e que as pressuposições não sufoquem o significado de Mateus ao compará-lo com Marcos. Uma maneira de enfatizar o contexto literário é ler as histórias antes e depois da passagem a ser estudada para ver se um tema semelhante está presente. Por exemplo, João 2.1-11 parece apresentar Jesus oferecendo algo maior do que o judaísmo, quer seja uma lei superior ou uma purificação superior. João 2.12-25 apresenta Jesus como o novo centro de adoração. A conexão destas duas histórias mostra que João está tentando provar para o seu público que aquilo que Jesus estava oferecendo era superior ao que o judaísmo oferecia. Outra maneira de enfatizar o contexto literário é examinando como o caráter se desenvolve na história ou como a percepção de alguém sobre Jesus se multiplica (ou não se multiplica). Rastreando-se o caráter de Pedro pelo Evangelho de Marcos revelará que em certos momentos o entendimento de Pedro parece crescer e se desenvolver (cf.Mc 8.29) e em outros instantes o seu entendimento é deficiente (cf.Mc 8.32,33). Os autores podem usar diferentes ferramentas literárias: diálogo, repetição, ironia, desentendimento, contraste, e símbolos. A ironia é um contraste sutil entre o que é afirmado e o que é sugerido. Por exemplo, é irônico em Mateus 16.2,3 que os fariseus e os saduceus saibam como interpretar os céus, mas não sabiam como interpretar "os sinais dos tempos" (Mt 16.3), algo que é muito mais importante. O desentendimento é enfatizado frequentemente nos evangelhos de Marcos e de João. Ao ler João 3.1-10, Nicodemos não está entendendo o que Jesus está tentando comunicar. Note o contraste em João 3 e 4; existem diferenças entre o próspero Nicodemos e uma pobre mulher cujo nome não é citado. Uma ferramenta literária final é o uso da linguagem simbólica. Quando Jesus diz: Eu sou a videira verdadeira (Jo 15.1), Ele não quer dizer que é uma árvore de ramos longos que se espalham pelo chão. Ele está usando uma linguagem simbólica para expressar o relacionamento íntimo que Ele tem com o Pai. 
  3. Descrição versus prescrição: Além do contexto, a diferença entre descrição e prescrição pode ser o princípio mais importante para a interpretação dos evangelhos. Tudo nos evangelhos está descrevendo alguma coisa. O autor poderia estar descrevendo a situação geográfica para uma das mensagens de JESUS (cf Mc 6.39) ou descrevendo as palavras que Ele dissi. Porém, uma ordem dada por Jesus a alguém nos evangelhos não é diretamente uma ordem para os cristãos hoje. em Mateus 8.1-4, Jesus curou um homem que tinha uma doença de pele. Depois, Jesus lhe deu uma ordem no versículo quatro: Olha, não o digas a alguém mas vai mostra-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. Se tudo o que estiver descrito nos evangelhos for automaticamente um mandamento (i.e, uma prescrição) para os cristão de hoje então: (1) Nunca diga para ninguém se voce for curado de uma enfermidade. (2) Vá apresentar-se ao sacerdote (que poderia ser o pastor nos dias de hoje). (3) Obedeça aos mandamentos de Moisés em Levítico 14, que inclui trazer dois pássaros limpos, dois cordeiros, e uma ovelha para o "sacerdote". Este é um exemplo onde uma ordem (uma prescrição) dada nos evangelhos não é o mesmo que uma ordem direta para hoje. Lembre-se de que todas as ordens de Jesus foram dadas a um povo que vivia debaixo do concerto antigo (cf Hb 8.6-8). Mesmo assim, Mateus escreveu estas palavras nos anos 60 d.C. para a Igreja primitiva, que estava debaixo do novo concreto. Os evangelhos são relevantes para os cristãos hoje, mas, lembra-se do cenario original da vida de Jesus e do cenário da Igreja ajuda o leitor entender como equilibrar a descrição e a prescrição. Ao mesmo tempo, só porque "a descrição não é igual à prescrição", isto não significa que algo descrito nunca seja mandamento. Se um elemento descritivo for repetido vezes após vezes e for sempre retratado positivamente, então, ele poderá assumir uma força prescritiva. Há três passos para se decidir se uma descrição é um mandamento para os cristãos de hoje. Primeiro procure na passagem indícios sobre o que o autor está tentando comunicar, incluindo a história na narrativa dele. Segundo, examine o livro inteiro observando as conotações positivas negativas Terceiro, analise o contexto específico no livro que inclua a história. 

Narrativa histórica

A narrativa história do livro de Atos dos apóstolos é semelhante ao gênero dos evangelhos, mas existem fatores adicionais a serem considerados. atos foi escrito sobre um período de transição do judaísmo sob a antiga aliança para a era da igreja enter Atos 8 e 15. muitas das histórias inclusas em atos foram contadas por Lucas, não porque fossem normativas, mas porque não são normativas. Ele não incluiu as histórias normais corriqueiras que aconteciam durante aquele período, mas as histórias que eram extraordinárias.
ao aplicar os princípios de descrição versus prescrição a Atos dos apóstolos, muitos temas poderiam ser considerados mandamentos para os cristãos de hoje. O tema mais proeminente é o de missionária de Paulo e Barnabé quando foram enviados pela igreja de Antioquia. a maioria dos capítulos seguintes continua descrevendo a atividade missionária de Paulo. O tema de Paulo é sair intencionalmente para propagar o evangelho é repentino frequentemente. Portanto, um leitor com discernimento deverá enxergar que Lucas está tentando comunicar a necessidade da Igreja envolver-se na atividade missionária.
Parábolas e a Conclusão deste estudo⇨⇨⇨⇨ (Acesse para lê aqui: Parábolas)

Cartas

As cartas no Novo Testamento tinham a intenção de serem substitutas autorizadas dos autores que não podiam estar presentes para falar com destinatários face a face. Quando a igreja da Galácia uma carta de Paulo, sem dúvida, eles viam aquela carta como as palavras do próprio apóstolo. Já que eles não tinham mensagens de texto, e-mails, ou telefones celulares, era muito mais difícil comunicar-se de uma longa distância naquela época em relação a hoje. Portanto, as cartas forneciam uma oportunidade de comunicar-se sem estar presente pessoalmente.
O princípio fundamental para lembrar-se ao interpretar as cartas é que elas eram ocasionais. Isto significa que o autor está tratando de uma situação ou assunto específico ao escrever a carta. Por exemplo, quando Paulo escreve aos Filipenses, ele está tratando da preocupação que os filipenses tiveram quando ouviram que Paulo estava na prisão e que Epafrodito, a quem haviam enviado para ministrar a Paulo, estava enfermo. Esta foi a ocasião para que Paulo escrevesse aos Filipenses e deve ser mantida em mente quando se interpreta a carta.
Já que as cartas foram escritas para tratar de situações diferentes, às vezes parecem contradizer uma à outra. Entretanto, uma melhor perspectiva seria que o autor esteja procurando tratar das situações individualmente. Por exemplo, a igreja da Galácia lutava com certa forma de legalismo. Portanto, Paulo enfatizava a liberdade deles em cristo (cf Gl 2.4; 5.1,13). Os coríntios estavam deleitando-se em sua liberdade. Portanto, Paulo enfatizava a obediência para temperar seus extremos imorais.


Gálatas
1 Coríntios
Problemas
Lutavam com o legalismo
Deleitava-se na liberdade
Solução
Enfatizou a liberdade em Cristo
Enfatizou a obediência

PRINCÍPIOS E APLICAÇÃO

Para se aplicar uma passagem da Escritura adequadamente, ela deve ser interpretada corretamente. Uma vez que ela tenha sido lida cuidadosamente, todas as observações possíveis tenham sido anotadas, e o contexto e o gênero tenham sido levados em consideração, então a passagem está pronta para ser interpretada. A chave aqui é reiniciar o texto em termos que sejam menos temporais. O exemplo seguinte deverá ajudar.
O princípio básico de Filipenses 4.13 não é uma declaração generalizada de que Deus capacitará os cristãos a fazerem qualquer coisa que tentarem realizar. Em vez disto, dentro deste contexto de lutas e tribulações, os cristãos podem descobrir que Deus os capacitará a perseverá nos tempos difíceis e que precisam depender dele para suas necessidades materiais e físicas. Richard Melick diz: "Muitos que aplicam erroneamente este versículo saem da vontade de Deus para a vida deles. Eles esperam cobrir as suas ações por uma promessa generalizada de poder, mas o poder vem dentro da vontade de Deus".
Se um grupo de cristãos está ministrando fielmente nos subúrbios da cidade e sofrendo com suas necessidades, eles devem lembrar-se de confiar em Deus e depender do poder dele para sustentá-los. A desonestidade não é a resposta. A autossuficiência não é a resposta. A resposta é lançar-se pela fé nas misericórdias de Deus.

NÃO ESQUEÇA QUE: 
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Parábolas e a Conclusão deste estudo⇨⇨⇨⇨ (Acesse para lê aqui: Parábolas)

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