O DIA-A-DIA MINISTERIAL DE JESUS E DOS DISCÍPULOS
Com a volta dos peregrinos da Festa da Páscoa, começava uma nova fase do ano: o tempo da colheita. Ao som de cânticos, os ceifeiros agitavam as foices, cortavam a cevada e o trigo e os levavam para o pátio. As uvas começavam a amadurecer; os figos iam amolecendo e já podiam ser comidos, mas era necessário protegê-los dos ladrões e dos animais.
Quem não dormia no campo, para vigiar os montes de trigo, ficava de guarda, junto às vinhas. Os trabalhadores não cessavam de proferir exclamações de júbilo. Mas na metade do dia silenciavam por causa do calor e do mormaço. Ao entardecer, porém, o vento do ocidente trazia nova vida a todos e ao campo. A paisagem, ressequida, assumia um colorido cada vez mais cinzento e amarelado, quase esbranquiçado.
Durante essas semanas, como nos dois "silenciosos" meses do inverno, a vida pública descansa. O mesmo acontecia com as atividades praticadas por Jesus, que lhes dava um intervalo forçado todos os anos. Desta vez, porém, foi uma pausa determinada por outras circunstâncias que não as climáticas.
Considerado do ponto de vista de Jesus, o milagre da multiplicação dos pães foi uma última tentativa. O povo da Galileia não era susceptível a uma concepção mais elevada da missão messiânica. Os fatos demonstravam isso infelizmente. Por esse motivo, daí em diante, Jesus procurou evitar todo ajuntamento maior das multidões. Ele já não permanecia em um lugar, como até então fazia em Cafarnaum, por um espaço maior de tempo. Ao operar um milagre, fugia das aglomerações do povo.
Sua peregrinações seguiram um plano ziguezague inteiramente imprevisto. Os meses mais quentes do último verão que ele passou na Galileia foram empreendidos em viagens até as regiões dos gentios. Fez travessias aparentemente sem um objetivo especial pelo lago em outras excursões, entre as quais a subida ao monte da transfiguração.
Esquivando-se Jesus do contato das multidões, dedicou-se ainda mais à instrução e educação dos discípulos. Suas viagens às regiões dos gentios seriam, neste particular, de suma importância. Ao refugiar-se nessas áreas, Jesus ficou a sós; os fariseus não queriam expor-se ao perigo de contrair alguma impureza levítica, tendo de tratar com os gentios, e o povo simples geralmente não se apartava para muito longe de sua terra natal.
Assim foi que Jesus e seus discípulos atravessaram os limites da Palestina, seguindo para o norte, a partir do lago de Genesaré e pelo vale do Jordão. Os apóstolos que Jesus tinha conquistado junto ao lago, quando ainda ocupados com a pescaria, agora caminhavam com o Mestre pelas montanhas e podiam avistar lá embaixo, na planície, o rio, ora esgueirando-se por estreitas gargantas, ora correndo por campos pantanosos. À frente deles, erguia-se o Hermom que, na maior força do verão, ainda reluziam tanto as faixas de neve quanto as "costelas" de sua gigantesca encosta.
As águas, que iam sumindo na terra, por canais e furos subterrâneos, prorrompiam nos sopés das montanhas em grandes fontes que pareciam brotar das entranhas da terra. Junto às três maiores fontes de água, o tetrarca Filipe construíra uma cidade, e, para anular a influência judaica, o imperador romano dera a ela o nome de Cesareia de Filipo. Já seu pai, Herodes, mandara levantar um templo em honra ao deus Pã. Em todas as cercanias, o ar ressoava pelo ruído das águas que caíam nas grotas.
Os discípulos viviam como os galileus e os antigos negociantes de peixe. Eram espontâneos em seu contato com os gentios, mas não deixavam, entretanto, de estranhar a quantidade de templos e de estátuas de divindades gentias. Por suas vestes e fisionomia, os israelitas podiam ser imediatamente reconhecidos. E sabiam o que se dizia deles: "Esses homens que vêm aí não são ricos, pois sequer possuem animais para montar! Mas mendigos também não são".
De todos os lados, detrás das árvores e vinhas, dos centros das casas e esquinas, das janelas escuras, abertas nas paredes amareladas, muitos olhos os observavam.
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Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11