COSTUMES BÍBLICOS: Caminhada até o Gólgota e a Crucificação de Jesus


Caminhada até o Gólgota e a Crucificação de Jesus

Rua de Jerusalém por onde Jesus
passou carregando a cruz.
Quando tudo estava pronto, o lúgubre cortejo teve início. Segundo o costume, o centurião encarregado do suplício ia à frente. Atrás dele, ia um mensageiro, que proclamava o motivo da condenação. Em seguida, andando com dificuldade, esgotado pela insônia, pela falta de alimento, pelas emoções dilaceradas, pela flagelação e pelo brutal tratamento, caminhava o Condenado, carregando a pesada cruz, vestido agora não com o manto, mas com as próprias vestes que, por zombaria, haviam posto nEle para coroação com espinhos. Cercavam-No os soldados - normalmente quatro - que seriam os seus carrascos e o vigiariam até Ele ser tirado da cruz, depois de morto.
Talvez, por segurança, um pelotão da guarda pretoriana também acompanhasse o grupo até o lugar do suplício. Dois malfeitores, talvez dois revolucionários do bando de Barrabás, também condenados à cruz, iam atrás do Mestre. De cada lado das estreitas ruas da cidade, apertava-se uma multidão ruidosa, que lançava aos condenados, sobretudo ao Messias, injúrias e insultos.
Tanto entre os judeus como entre os romanos, as penas capitais só podiam ser executadas fora da cidade, mas normalmente próximo a uma rua movimentada, para que o castigo servisse de lição aos demais. As profundas e sucessivas transformações da Cidade Santa tornam quase impossível reconhecer com exatidão o itinerário que Jesus percorreu.
Simão Cirineu
No momento em que o cortejo saía pela porta da cidade mais próxima ao local escolhido para a execução, entrava um judeu chamado Simão, que voltava do campo (Mc 15.21; Lc 23.26), onde provavelmente vivia, a pouca distância das muralhas. É chamado também Cireneu, porque era oriundo da Cirenaica, província situada na costa leste da África, ou talvez da própria capital, Cirene, cuja quarta parte da população era judaica. Os cireneus constituíam em Jerusalém um número grande o suficiente para ter uma sinagoga local (At 6.9).
Quando os soldados viram Simão, obrigaram-no a levar a cruz de Jesus durante o resto do percurso. Não o fizeram por compaixão, mas porque o Mestre estava extremamente fraco e temiam que não chegasse ao lugar do suplício se não o aliviassem do peso da cruz. É concebível que Simão tenha cumprido com certa repugnância e muito pesar aquela obrigação humilhante.
Ele não sabia que, por causa daquela humilhação, o seu nome se tornaria célebre. E talvez ainda tenha lhe valido uma grande recompensa, porque Marcos relata que Simão era o pai de Alexandre e de Rufo, dando a entender que estes cristãos eram conhecidos dos romanos (Mc 15.21). O apóstolo Paulo enviou uma saudação especial a um cristão distinto chamado Rufo, que pode ser o mesmo filho de Simão, o cireneu (Rm 16.13).
O lugar do suplício não estava distante das muralhas. Tendo já os judeus conseguido o seu objetivo, que era afrontar Jesus, expondo-o aos ultrajes do público, segundo o bárbaro costume da época, não se importaram quando o aliviaram do peso da cruz.
O Gólgota
por fim, o cortejo chegou ao lugar do suplício, o Gólgota, nome que significa lugar da caveira, segundo os próprios evangelistas, ou simplesmente caveira, segundo Lucas. O Calvário, como agora o chamamos, seguindo a tradição latina, não era um monte, como muitos imaginam, e sim uma protuberância rochosa, um pequeno outeiro, que deve ter recebido esse nome por causa da semelhança de sua forma com a de um crânio humano. Os evangelistas nos dizem expressamente que o Gólgota estava situado fora de Jerusalém (Mt 27.33), ainda que a pouca distância das construções da cidade.
O vinho com mirra
Por um antigo costume, tolerado pelos romanos, os judeus, no momento em que o suplício ia ter início, ofereciam ao condenado, para lhe aliviar o sofrimento, uma taça cheia de vinho misturado com mirra e incenso. Os antigos gostavam muito dessa mistura por causa de seu gosto aromático, mas também por ser um verdadeiro narcótico. Por isso o ofereciam aos condenados à morte. Esse costume fundamentava-se em um texto bíblico, interpretado ao pé da letra: Dai bebida forte aos que perecem, e o vinho, aos amargosos de espírito; para que bebam, e se esqueçam da sua pobreza, e do seu trabalho não se lembrem mais (Pv 31.6,7).
Em Jerusalém, as mulheres de estirpe nobre tinham o privilégio de preparar essa bebida, à qual Marcos, com a sua habitual precisão, dá o nome de vinho com mirra (Mc 15.23). Mateus diz que era vinho misturado com fel (Mt 27.34). Se as palavras deste fossem tomadas literalmente, a bebida não daria alívio aos sofrimentos do Salvador; seria apenas um novo ultraje contra Ele. Mas, entre os gregos, a palavra para designar o fel indica também qualquer substância amarga, uma das quais era a mirra.
Quando ofereceram a bebida a Jesus, Ele se contentou em molhar os lábios ressecados com ela. Não quis bebê-la. Aquele que queria resgatar o mundo com os próprios sofrimentos estava disposto a suportar o suplício sem nenhum tipo de alívio, encarando a morte em plena consciência. Desejava esgotar o cálice de amargura que lhe fora oferecido pelo Pai.

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Filipenses 1:9-11

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