COSTUMES BÍBLICOS: A vida oculta de Jesus-comentário


A vida oculta de Jesus-comentário




A VIDA OCULTA DE JESUS - Comentário
Verdadeiramente, tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador. (Is 45.15)
Quando pensamos que, de dez partes de sua vida, mais de nove Jesus passou na obscuridade, sem ensinar publicamente e revelar-se a ninguém, vem-nos à lembrança as palavras de seus irmãos:
Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui a vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes essas coisas, manifesta-te ao mundo. (Jo 7.3,4)
Jesus, porém, não pretendia revelar-se naquele momento, embora lhe sobrassem meios para manifestar-se, se quisesse. Não obstante, o comentário de seus irmãos não era uma objeção ao afastamento dele da Judeia nem à recusa dele para ora se revelar como Messias; porque nem mesmo seus irmãos criam nele (Jo 7.5).
Diante disto, alguém poderia perguntar: "Senhor Jesus, para isto tu descestes do céu? Para fugires ou para te esconderes em uma aldeia e trabalhares em uma carpintaria? Não estarias traindo com a tua vida a tua missão? Disseste: Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa (Mt 5.14,15)".
Contudo, quem ousaria pedir contas ao Filho de Deus? Quem se atreveria a aconselhá-lo, a deliberar sobre o que é melhor ou pior para ele?
Uma vez mais, descobrimos boas razões quando, com intenção pedagógica, pensamos sobre a vida oculta de Jesus. Tais razões parecem quase sempre animadas pelo desejo, tão louvável como reprovável, de justificar sua conduta. Será que ele queria, na verdade, como ele mesmo afirmou, dar-nos uma lição de vida cristã? Já se sabe que esta vida está escondida com Cristo em Deus (Cl 3.3) e que, para ser fecunda, necessita de ser precedida de um longo recolhimento. Mas erá que Jesus tinha necessidade de recolher-se antecipadamente, para que sua atividade apostólica alcançasse o devido fruto?
A alma de Jesus estava extremamente unida a Deus. Ele amava o povo de Nazaré e também o da Judeia. O valor de suas obras sempre foi infinito, e ele dava a seu Pai a mesma glória, fosse serrando a madeira , fosse pregando sua Palavra. Em tudo, Jesus glorificou o Pai. A missão mais elevada do Verbo encarnado era esta, precisamente esta: revelar ao mundo o Pai e glorificá-lo, atraindo o homem a um relacionamento estreito com o Criador por uma nova e eterna Aliança.
Quanto ao outro aspecto de sua missão, a de salvar a humanidade pecadora, de que outra maneira ele poderia realizá-la, a não ser aplacando a ira de seu  Pai, enquanto cumpria, como homem perfeito e representante de toda a humanidade, toda a vontade paterna?
E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito (Lc 2.51a). A quem ele obedecia? A Maria e a José, mas sobretudo a seu Pai celestial. E a vontade do Pai não foi outra, a não ser aquela manifestada, dia após dia, na vida concreta do Filho, em suas diversas fases. E mesmo que humanamente a vida dele nos pareça incompreensível ou diferente.

Utensílios domésticos numa Vila em Nazaré
Naqueles trinta anos em que Cristo viveu oculto em um povoado insignificante da Galileia, o mundo deu muitas voltas, e grandes acontecimentos o abalaram. A paz de Augusto havia terminado. As legiões romanas avançaram de novo com todas as suas forças para conter os bárbaros invasores. A guerra acontecia, modificando as fronteiras e o perfil dos povos. Na Judeia, Arquelau multiplicava suas desordens, até que finalmente foi exilado, passando o seu território ao domínio imediato dos procuradores romanos. Sejano governava em Roma, enquanto Tibério preparava sua deposição. O Senado havia declarado que Augusto era deus. Mas o Deus encarnado estava em Nazaré, a cento e quarenta quilômetros de Jerusalém. Ele habitava em uma humilde casa na Galileia, feita de adobe. Muito próximo, a seis quilômetros de distância, estava Séfores, grande fortaleza de Herodes Antipas. O que Deus fazia ali?
Os evangelhos não dizem mais nada acerca de todos esses anos em que Jesus viveu anônimo. Eles não são uma biografia da vida de Jesus; são relatos que testemunham sobre o Verbo que se fez carne. Sua redação ficou condicionada pela finalidade exata e concreta à qual o livro se destinava, e esta finalidade não era outra a não ser a pregação das boas novas e a leitura edificante da Palavra de Deus.
Aos apóstolos, importava tão-somente o tempo que começa com o ministério de Jesus e vai até o dia em que ele morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus (At 1.22). Eles não se interessavam pela vida pessoal de Cristo, e, sim, por aquilo que possuía significado para a fé que eles tinham a responsabilidade de testemunhar e difundir.
Os evangelistas se preocuparam tão-somente em tornar evidente a relação entre a vida do Salvador e o Antigo Testamento. Assim, João pensava frequentemente no êxodo quando escreveu seu relato; Lucas não esqueceu Elias; Mateus reconheceu Cristo como o Moisés da Nova Aliança.
Portanto, compreende-se que nesses relatos, cujo caráter é muito mais teológico do que biográfico, não haja espaço para episódios demasiados. Os redatores do evangelho demonstram interesse especial pelas ações salvíficas que Deus realizou por intermédio de seu Filho e pela mensagem que este anunciou. Não há nada, pois, de estranho que em três linhas fiquem resumidos trinta anos da vida de Jesus. O que teria acontecido durante esses anos? Nada de excepcional. Esperar milagres nessa época é improcedente.
Com muita agudeza, Agostinho comentou:
Caso ele tivesse naquele período realizado milagres, não teria dado lugar para se crer que havia assumido uma verdadeira natureza humana e, operando maravilhas, teria destruído o que fizera com tanta misericórdia, que fora assumir nossa carne e tornar-se um de nós. Os milagres deveriam demonstrar um dia a divindade de Jesus, mas antes tinha de ficar totalmente fora de dúvida a sua humanidade, sua Encarnação.
Será que o milagre em Caná (Jo 2.11) não foi o primeiro que Jesus realizou? Sim, esse foi o seu primeiro milagre! Antes, portanto, não convinha que Jesus tivesse uma vida marcada por prodígios e maravilhas. Não convinha que ele, antes, realizasse milagres. E, por que teria ele de realizá-los?
Sua vida terrena, da qual tão-somente uma décima parte foi dedicada ao ministério público, foi muito breve. Assim mesmo, pode-se afirmar em seu contexto geral, contando todos os milagres que ele operou e as paixões que despertou, que a vida de Jesus foi - como poderemos dizer isto? - bastante normal.

Galileia. Jesus viveu na região onde está a maior reserva hídrica da Palestina.
João Batista, com o seu extraordinário ascetismo, destaca-se no evangelho com uma personalidade humanamente muito mais forte e chamativa. Em Jesus, não achamos nenhum traço demasiado marcante. Alguém poderia dizer que virtude mais se destacou nele? Ele não se sobrepôs como homem singular. Talvez, para que em sua humanidade prototípica coubessem todas e cada uma das características humanas, sua pessoa possuísse traços mais universais e policromáticos, mas sóbrios [gerando um ser singular, e ao mesmo tempo comum; alguém passível de nos identificarmos].
A vida terrena de Jesus foi curta. E, ao lermos o evangelho, temos a impressão de que ele, mesmo não ignorando o seu iminente fim, nunca teve interesse em viver mais intensamente, precipitando os acontecimentos; parecia deixar-se levar por eles. Jesus viveu, sim, na expectativa de sua hora, mas esta não se achava sujeita a ele, então jamais demonstrou ter pressa em antecipá-la.
Eis uma vida humana que, por sua soberania e placidez, demonstra ausência da tensão que costuma caracterizar a vida de todo grande homem! Eis uma vida humana que forçosamente nos remete ao plano divino!
Não seria absurdo pedir a um homem-Deus que fizesse mais coisas? Seus obscuros anos em Nazaré significaram uma preparação consciente e deliberada de sua vida pública, como um pintor que traça rapidamente um quadro magistral, graças às muitas horas que antes passou treinando  e tateando, acumulando destreza. Cristo é o Filho de Deus. Tanto sua vida pessoal como sua vida ministerial pública são a existência temporal do Filho de Deus. E ele está acima de todo louvor, de toda cordial aprovação que nós possamos lhe dispensar. 
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Filipenses 1:9-11

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