COSTUMES BÍBLICOS: A Bíblia como uma História


A Bíblia como uma História

A Bíblia como uma História
A Bíblia é, no fundo, uma narrativa. A criação nos é apresentada como uma narrativa. Os acontecimentos que envolvem o povo de Israel - seus ancestrais, sua história, os juízes, reis e profetas - aparecem na forma de uma crônica histórica. E Jesus Cristo é revelado, não tanto em proposições de natureza sistemática, mas muito mais numa comovente narrativa.
O problema da narrativa é sua ambiguidade. Ao contrário da doutrina, ela não confina as pessoas num único pensamento explicável, definindo unanimidade e não deixando que o indivíduo siga o seu próprio caminho. Ela admite tantas variedades de interpretação quantos forem os seus leitores.
Os pregadores - quando usam uma unidade narrativa - geralmente a usam para seus próprios fins. Ela se torna uma ilustração, algo inferior àquilo que querem ensinar. O que os pregadores geralmente não fazem com uma história é, simplesmente, contá-la - dar-lhe vida e expressão.
A "verdade santa", que é o objetivo de qualquer religião, é uma coisa viva. Ela quer um relacionamento com as pessoas que buscam um relacionamento com ela. E a narrativa é o ponto de encontro no qual os relacionamentos começam, amadurecem, podem ser completamente conhecidos, designados, lembrados e vividos.
Existem e já existiram religiões sem teologias. Mas nunca existiu uma religião sem uma narrativa. E uma narrativa ou história não é uma história enquanto não for contada. E esse contar da história é um dever crucial dos líderes da religião.
Quais são as histórias que os líderes da fé cristã precisam narrar? Em quais narrativas se oferecem oportunidade de um encontro com Deus?
"Encontro" em si implica ação dramática. Personagens com personagens entram num relacionamento no qual certos acontecimentos se destacam por serem significantes e expressivos. Estes são momentos da mais intensa interação, quando a presença de Deus, a nosso favor ou contra nós é sentida de maneira tão forte que todos os outros objetos, detalhes e gestos, são definidos por essa presença.
"(A história da criação) é ao mesmo tempo a mais conhecida e a menos conhecida de todas as histórias do Antigo Testamento. O que a maioria das pessoas conhece não é o texto, mas a vasta estrutura de doutrina que teólogos construíram sobre o texto. A história está escondida no alicerce, mas tudo que vemos é o que foi construído em cima dele."
Trevor Dennis 
Esses momentos, reunidos, formam a história da religião; e são lembrados e contados como narrativas, pois foram, a princípio, acontecimentos. São significantes; testificam, cada vez que são narrados, um relacionamento atemporal com Deus.
Mas estas mesmas histórias fundamentais também dão significado às experiências pelas quais as pessoas passam nos dias de hoje, naquilo que elas têm em comum. Elas descrevem e contêm uma quantidade enorme de sentimentos imediatos, impulsos involuntários, relacionamentos humanos instáveis, anseios espirituais.
Não é que a vida das pessoas lhes tenha sido explicada intelectualmente e elas conseguiram entender, mas é como se um pai amoroso e poderoso viesse e as abraçasse e confortasse.
A narrativa cria ordem onde só havia o caos. Pelo fato de a forma narrativa apresentar um ordenamento, pelo fato de ela reconhecer e usar os elementos desta existência como elementos próprios e convidar o ouvinte a que entre no mundo dela, ela consola esse ouvinte com todo sofrimento que ele tem, num mundo organizado e significante.
A narrativa consola. O ensino pode envolver a nossa mente; mas uma narrativa toma conta de todo o nosso ser - corpo, sentidos, razão, emoção, memória, riso e lágrimas.
Além disso, a narrativa insere as pessoas numa comunidade - no tempo presente e através dos tempos. É isto que acontece quando judeus recontam e revivem a história do êxodo na Páscoa, quando cristãos recontam e revivem a história da paixão de Cristo na Santa Ceia, quando Martin Luther King declama uma história para milhares de pessoas engajadas no movimento contra a discriminação dos negros - "Eu estive no topo da montanha! Olhei e vi a Terra Prometida! Talvez não chegue lá com vocês" - evocam a imagem do velho Moisés no monte Nebo enquanto todo Israel, nas campinas de Moabe, aguardava, pronto, a hora de fazer a travessia.
É isto que acontece: pessoas fragmentadas são restauradas outra vez de modo comovente, simplesmente ao ouvirem uma narração da história que lhes é comum.
As narrativas são tão antigas quanto a própria religião, porque é da natureza das religiões fazer narrativa acerca do mundo.

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Filipenses 1:9-11

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