COSTUMES BÍBLICOS: Ezequiel


Ezequiel

A glória retornará
Ezequiel ("Deus fortalece") foi transportado para o exílio na segunda deportação babilônica, em 597 a.C. Ele foi levado com Joaquim e outros cidadãos importantes de Judá (2Rs 24.10-16). Ezequiel recebeu o chamado para ser profeta em julho de 593 a.C., em seu trigésimo aniversário (Ez 1.1-3), e ministrou aos seus compatriotas exilados enquanto viveu em Tel-Abibe, no sul da Mesopotâmia, próximo a Nippur. Notas cronológicas no livro indicam que o ministério de Ezequiel estendeu-se até, no mínimo, 571 a.C. O profeta provinha de uma família sacerdotal, o que ajuda a explicar sua ênfase no pecado como impureza e profanação (Ez 5.11; 7.20; 20.43; 22.4; 36.29; 43.8) e seu interesse na reconstrução do futuro Templo (cap. 40--48). Ezequiel enfrentou sérias dificuldades pessoais em sua incumbência como profeta. Do momento de seu chamado até a queda de Jerusalém, ele sofreu um tipo de impedimento de fala que lhe permitia somente quando Deus desejava expressar-se por seu intermédio (Ez 3.26,27; 24.27; 33.22). A esposa de Ezequiel também morreu como sinal da queda iminente de Jerusalém (Ez 24.25-27).

Ezequiel estava sendo treinado para se tornar sacerdote, ansioso por servir a Deus no Templo como seu pai servira. Acabou sendo levado para o exílio na Babilônia, longe de Jerusalém.
Parecia o fim de todas as suas esperanças. Mas quando tinha 30 anos (idade em que provavelmente começaria seus deveres de sacerdote: Nm 4.3, e veja 1.1), Deus o chamou para ser profeta. O chamado foi acompanhado de uma visão que influenciou todo o seu ministério (assim como o de Isaías muito tempo antes). Ele viu a Deus em toda a sua tremenda majestade, um Deus que está acima e além do nosso mundo, que tudo vê tudo sabe. Foi uma visão de fogo e glória. E contra este brilho deslumbrante Ezequiel viu o pecado do seu povo em toda a sua sordidez.
Ele viu que o Juízo era inevitável, e durante seis anos esta foi a sua mensagem. Somente após a destruição da cidade e do Templo de Jerusalém, em 587 a.C., ele começou a enfatizar a intenção de Deus de "ressuscitar" (cap. 37) e restaurar o povo e aguardar a hora em que o ideal seria realizado: o novo Templo no qual o povo de Deus prestaria a ele um culto perfeito (caps. 40--48).
Ao proclamar a mensagem de Deus aos exilados, um grande peso de responsabilidade estava sobre Ezequiel. Ele se via como uma "sentinela", que devia avisar do perigo ou, caso deixasse de fazê-lo, assumir a responsabilidade. Um dos temas característicos é o da responsabilidade individual perante Deus.
Ezequiel foi um homem extraordinário, um vidente, uma pessoa criativa, alguém que havia sido treinado para apreciar e entender ritos e símbolos. Ele era cheio de paixão, dedicado, totalmente obediente a Deus. O espectador mais frio não conseguia ficar neutro ou impassível diante das importantes mensagens que Ezequiel dramatizava.

O livro

Ezequiel foi todo escrito na primeira pessoa, com exceção da nota em 1.2-3, e condiz com o homem.
A estrutura é equilibrada e clara, tendo a queda de Jerusalém como tema central. Ao contrário das profecias de outros grandes profetas, as de Ezequiel são meticulosamente organizados e datadas (1.1-2; 8.1; 20.1; 24.1; 26.1; 29.1; 30.20; 31.1; 32.1, 17; 33.21; 40.1).
A mensagem é consistente em todo o livro, e o mesmo vale para o estilo e a linguagem. Temas característicos e frases repetidas ocorrem do começo ao fim. A mensagem de Ezequiel, com suas parábolas encenadas ou ações simbólicas, é bem parecida com a de Jeremias, a quem pode ter escutado quando ainda jovem, em Jerusalém. E embora a maior parte do texto esteja em prosa, Ezequiel é muito mais visual do que os outros profetas. Com ele, a profecia se torna "apocalíptica" (veja o Apocalipse, o livro da Bíblia que mais se aproxima de Ezequiel e do qual tomou emprestado muitos dos seus símbolos).
Para muitos cristãos, Ezequiel é um livro obscuro e desconhecidos, com exceção de algumas passagens familiares: a extraordinária visão de Deus no cap. 1; o capítulo do atalaia (33); o vale dos ossos secos (37); a visão do Templo (40-48). Muitas das profecias parecem muito elaboradas e demasiadamente complicadas. Ele emprega linguagem chocante, e um de seus recursos estilísticos é a ironia. Porém, precisamos com urgência captar algo da visão que Ezequiel teve do Deus Todo-Poderoso. Precisamos ver o pecado como Deus o vê. Precisamos se lembrados da nossa própria responsabilidade. Precisamos saber que Deus é Deus.
Ler o AT também ajuda a entender o Novo. Devemos conhecer Ezequiel para entender o Apocalipse.
Ez 1--3
Visão e chamado de Ezequiel
Ezequiel é um livro de visões e ações simbólicas, a começar por esta grande visão de Deus.
Ez 1: "Eu tive visões de Deus"
Enquanto contemplava as planícies da Babilônia. Ezequiel viu o que parecia ser uma tempestade se aproximando: trovões, relâmpagos, nuvens negras. Depois, reconheceu as figuras de quatro querubins (veja 10.15), criaturas angélicas, que estavam em pé, tocando-se com as pontas das asas e formando um quadrado vazio. No centro deste, ardia um fogo; e acima dele, sob o azul dos céus, estava o Senhor da glória em forma humana, sentado num trono, cercado por um arco-íris resplandecente. Ao lado de cada querubim de quadro rostos estava uma roda, que girava como um rodízio (indo em todas as direções) e estava cheia de olhos. O Todo-Poderoso, o Deus de Israel, estava presente em todo seu poder na vasta Babilônia! Quem poderia ver isto e sobreviver?
Trigésimo ano (1) Provavelmente a idade do próprio Ezequiel. Se, como parece provável, um sacerdote assumia seus deveres aos trinta anos, aquele deve ter sido um ano de grande importância para o profeta. Mas estar qualificado para exercer seu ofício como sacerdote e, ao mesmo templo, estar no exílio, a centenas de quilômetros de Jerusalém e do Templo, deve ter sido uma experiência amarga.
Quebar (1) Geralmente identificando como o grande canal que saia do Eufrates ao norte de Babilônia, perto da cidade de Nipur.
Vs. 2-3 Anotação acrescentada para explicar o primeiro parágrafo de Ezequiel (v. 1). A data era 593 a.C. (veja introdução).
Seres viventes (5) Querubins (10.15), as figuras que estendiam suas asas sobre o propiciatório, isto é, a tampa da arca da aliança (Êx 25.18-22). Como filho de um sacerdote, Ezequiel devia estar familiarizado com as imagens de querubins que decoravam o Templo de Salomão. Criaturas aladas semelhantes, em forma de esfinge, aparecem frequentemente na arte babilônica.
V. 26 Em Is 6.1, o profeta diz categoricamente, "eu vi o Senhor". Ezequiel, por outro lado, deixa claro que não podemos ver Deus como ele realmente é. Assim, ele usa expressões como "havia uma coisa que parecia", "a aparência da glória". Compare Êx 24.9-11 e 33.18-23; também Dn 7; Ap 4.
Êxodo 24:9-11 
E subiram Moisés e Arão, Nadabe e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel.
E viram o Deus de Israel, e debaixo de seus pés havia como que uma pavimentação de pedra de safira, que se parecia com o céu na sua claridade.
Porém não estendeu a sua mão sobre os escolhidos dos filhos de Israel, mas viram a Deus, e comeram e beberam 
Êxodo 33:18-23 
Então ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória.
Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer.
E disse mais: Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá.
Disse mais o Senhor: Eis aqui um lugar junto a mim; aqui te porás sobre a penha.
E acontecerá que, quando a minha glória passar, pôr-te-ei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado.
E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas; mas a minha face não se verá. 
Dn 7 e Ap 4 
Vê na Bíblia
Ez 2--3: A tarefa que Deus deu a Ezequiel
O propósito da manifestação de Deus era fazer de Ezequiel seu mensageiro aos exilados, uma sentinela enviada para advertir o remanescente do rebelde povo de Deus (2.1-7; 3.16-21). E as palavras de Deus, por mais duras que fossem, eram-lhe agradáveis (2.8--3.3). Desse momento em diante seria a missão da vida de Ezequiel transmitir ao povo que Deus era o Senhor. Eles aprenderiam isto primeiro através dos terrores do juízo (7.4). Depois, veriam seu poder de restauração e renovação (36.8-11).
Filho do homem/homem mortal (2.1)
Ezequiel é chamado assim em todo o livro. Significa simplesmente "ser humano". Jesus frequentemente se descreveu como o "Filho do homem", numa clara alusão também a Dn 7.13-14.
SENHOR Deus (2.4) Ezequiel constantemente usa o título "Adonai" (Senhor), enfatizando o poder de Deus e seu relacionamento pessoal de aliança com o seu povo. Veja "Os nomes de Deus".
Sarças e espinhos...escorpiões (2.6) Retrato vívido da recepção hostil que ele teria.
2.10 Normalmente um rolo era escrito só de um lado; talvez a implicação seja que não havia mais espaço para Ezequiel acrescentar algo próprio.
3.7 Também o chamado de Isaías (6.9-12) e o chamado de Jeremias (1.17-19) foram experiências assustadoras.
Atalaia/vigia (317) Este conceito será explicado no cap. 33.
3.25-27 O significado parece ser este: Ezequiel ficaria mudo, exceto nas ocasiões em que Deus tivesse uma mensagem para ele transmitir. Será que ele foi proibido de falar ou realmente perdia a fala? Seja como for, isso dava maior ênfase aos pronunciamentos que fazia. Só quando chegaram notícias da queda de Jerusalém (24.27) ele voltou a falar normalmente.

O Príncipe de Tiro é Satanás? (*CURIOSIDADE DO HEBRAICO BÍBLICO)

Vamos dar uma olhada para Ezequiel 28. Veja:
Juntamente com Isaías 14:12-15 , um locus comum para entender a suposta história de fundo de Satanás é Ezequiel 28:12-19. Tradicionalmente, os leitores pós-bíblicos entenderam que Ezequiel 28 se refere à rebelião celestial de Satanás contra Deus. No entanto, enquanto Ezequiel lamenta por alguém cuja riqueza e pecado são uma afronta ao Todo-Poderoso, o profeta não descreve o diabo. Em vez disso, Ezequiel 28 se refere ao rei de Tiro, e “Satanás” não aparece em nenhum lugar da passagem. Assim, se fundamentarmos nosso entendimento teológico apenas nas Escrituras, não teremos razão para postular uma pré-história angélica para Satanás com base em Ezequiel .
Em Ezequiel 28, Deus se dirige a um indivíduo, dizendo: “Você era o selo da perfeição, cheio de sabedoria e de perfeita beleza. Você estava no Éden, o jardim de Deus... Você era um querubim da guarda ungido” (28:12-14). Apesar de sua alta posição, o destinatário exibiu "injustiça" ( עול ; evel ) e "pecou" ( חטא ; hata ); portanto, Deus diz: “Eu te bani, querubim guardião…. Teu coração se ensoberbeceu por causa da tua beleza... [então] te lancei por terra” (28:15-17). Muitos leem esta passagem como uma referência à serpente “no Éden” – que a tradição iguala a Satanás – e então ligam a serpente satânica a um anjo expulso. No entanto, imediatamente antes dos versículos acima, Deus diz a Ezequiel para “levantar uma lamentação sobre o rei de Tiro ( מלך צור ; melech tsor )” (28:12). O profeta se dirige a um rei terreno, não a um rebelde primordial no céu.
Aqueles que veem a figura de Ezequiel 28 como Satanás podem responder: “Mas quando o rei de Tiro esteve 'no Éden, o jardim de Deus'? Isso não mostra que o profeta está falando sobre um ser espiritual que se rebelou no passado primordial? ” A menção de Ezequiel ao Éden não denota uma referência a Satanás , uma vez que o profeta também associa outros reis terrenos ao Éden mais adiante no livro. Logo depois de falar que o rei de Tiro estava “no Éden” ( בעדן ; b'eden), Ezequiel pergunta ao rei do Egito: “'Com quem você se parece em glória e grandeza entre as árvores do Éden? Você será derrubado com as árvores do Éden... com aqueles mortos pela espada.' Este é Faraó e toda a sua multidão, diz o Senhor Deus” (Ezequiel 31:18). Claro, Faraó nunca esteve literalmente entre as árvores do Éden, nem as árvores do Éden foram cortadas. Ezequiel coloca reis estrangeiros “no Éden” metaforicamente para ridicularizar sua auto-percepção de glória; comparar esses monarcas com entidades no Éden é uma hipérbole profética que destaca a inadequação dos governantes terrenos diante de Deus.
Existem outros problemas linguísticos e temáticos com a leitura de Ezequiel 28 como uma história sobre Satanás. Por exemplo, a profecia sobre Tiro começa no capítulo 26, no qual Ezequiel diz ao povo de Tiro que os babilônios “saquearão suas riquezas e saquearão suas mercadorias ( רכלה ; rekhullah )” (Ezequiel 26:12). Então, o capítulo 27 detalha todo o “ merchandising ” de Tiro ( רכל ; rachal ) com outras nações (27:3, 13-24). Ezequiel declara que, à luz da riqueza mercantil da nação, “Tiro… disse: 'Eu sou de perfeita beleza ( כלילת יפי ; kelilat yophi)'” (27:3). Após essas descrições de Tiro em Ezequiel 26-27, o profeta descreve seu rei exatamente da mesma maneira: “Você era o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e de perfeita beleza ( כליל יפי ; kelil yophi )…. Na abundância de tua mercadoria ( רכלה ; rekhullah )... pecaste” (28:12, 16). Ezequiel não está se referindo à “beleza perfeita” ou à “mercadoria” de Satanás, mas à de Tiro — tanto ao povo quanto ao rei.
Finalmente, Ezequiel chama o rei de Tiro de “querubim” ( כרוב ; keruv ) em 28:14-16. Se este “querubim” se refere à serpente enganosa no Éden ou a um Satanás pré-queda no céu, então seria extremamente estranho que Deus designasse “querubins” (כרובים; keruvim) para guardar o caminho para a Árvore da Vida após a expulsão de Adão e Eva (Gn 3:24). Se um “querubim” se rebelou contra Deus e se tornou Satanás, por que diabos (ou no céu) Deus confiaria a mais querubins a segurança do Éden? A única maneira pela qual o lamento de Ezequiel faz sentido linguístico, contextual ou teológico é se ele se referir ao rei de Tiro no presente do profeta, não a Satanás no passado pré-histórico. Ezequiel 28 não é uma história de Satanás, mas sim um exemplo da soberania de Deus sobre todos os povos da terra.
(*O texto é parte de um artigo publicado originalmente em Israel Bible Center na categoria "Bíblia Hebraica")

Continue seu estudo.

EZ 4 À 19
EZ 20 À 48
                                                                           
         

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