COSTUMES BÍBLICOS: DEUTERONÔMIO - Renovação da Aliança


DEUTERONÔMIO - Renovação da Aliança

Tratado de aliança hitita.
 (Tratado de Cades,
na foto, entre hititas
 e egípcios, é o exemplar
 mais antigo de tratado
 político por escrito)
 Os tratados hititas eram
 semelhantes à
aliança de Deus com Israel.
DEUTERONÔMIO - Renovação da Aliança
O livro de Deuteronômio (Devarim-Hebraico) é o livro da Lei, completando os rolos da Torá. Ele contém os três discursos de Moisés para a nova geração de israelitas que estava prestes a entrar na Terra Prometida. O livro termina com o cântico de Moisés (cap. 32), sua bênção (cap.33) e a transição da liderança a Josué (cap. 34). No hebraico, o texto começa com o título 'elleh haddebarim, que significa "as palavras".
No entanto, o título da LXX, Deuteronomion, é a origem do título em língua inglesa Deuteronomy (Deuteronômio). Seu conteúdo, muitas vezes, é considerado como uma "segunda lei", mas, na realidade, é uma expansão da lei original recebida no monte Sinai. É uma repetição de toda a Lei para a nova geração de israelitas, para memória perpétua em Israel.

(*)" Devarim ", significa "as palavras" e é encontrado em Deuteronômio 1:1.
No primeiro dia de Shevat (trinta e sete dias antes de sua morte ), Moshê começa sua repetição da Torá para os filhos de Israel reunidos , revisando os eventos que ocorreram e as leis que foram dadas no curso de sua jornada de quarenta anos do Egito ao Sinai para a Terra Prometida , repreendendo o povo por suas falhas e iniqüidades, e ordenando-lhes que guardassem a Torá e observassem seus mandamentos na terra que D'us lhes está dando como uma herança eterna , na qual eles cruzarão após sua morte.
Moshê relembra sua nomeação de juízes e magistrados para aliviar seu fardo de fazer justiça ao povo e ensiná-los a palavra de D'us ; a jornada do Sinai através do grande e temível deserto; o envio dos espiões e a subseqüente rejeição da Terra Prometida pelo povo, de modo que D'us decretou que toda a geração do Êxodo morreria no deserto. “Também contra mim”, diz Moshê, “estava irado D'us por sua causa, dizendo: Você também não entrará lá”.
Moisés também relata alguns eventos mais recentes: a recusa das nações de Moabe e Amom em permitir que os israelitas passassem por seus países; as guerras contra os reis emoritas Sichon e Og , e o estabelecimento de suas terras pelas tribos de Rúben e Gad e parte da tribo de Manassés ; e a mensagem de Moisés a seu sucessor, Josué , que levará o povo para a Terra e os liderará nas batalhas por sua conquista: “Não os tema, pois o Eterno, seu D'us, Ele lutará por você.”

CONTEXTO

O livro foi escrito, provavelmente, por volta de 1406 a.C., ao final da peregrinação no deserto e logo antes da conquista de Canaã (Dt 4.44-49; 34.1-4). Esses acontecimentos deram-se pelo menos 40 anos após o êxodo do Egito (Nm 14.33,34; Dt 2.7,14; Js 5.6). A maior parte do livro foi escrita pouco antes da morte de Moisés, aos 120 anos (Dt 31.2). Uma vez que ele passou 40 anos no Egito (At 7.23), 40 anos em Midiã (Êx 7.7) e conduziu a nação por mais 40 anos no deserto (At 7.36), sua morte ocorreu cerca de 40 anos depois do êxodo.
Deuteronômio abrange o período de 70 dias entre o início dos acontecimentos do livro, no primeiro dia do décimo primeiro mês do quadragésimo ano após o êxodo do Egito (Dt 1.3), e a travessia do Jordão, no décimo dia do primeiro mês do quadragésimo primeiro ano após o êxodo do Egito (Js 4.19). O contexto de todo o livro é a nação acampada nas planícies de Moabe, antes de entrar em Canaã (Dt 1.1,5; 29.1; Js 1.2). O conteúdo foi ditado nas planícies de Moabe, a leste do Jordão, defronte de Jericó (Nm 36.13; Dt 1.1,5; 29.1; Js 1.2). E o público-alvo era a segunda geração, nascida durante a peregrinação no deserto, que aguardava a conquista de Canaã.
Deuteronômio foi escrito para incentivar a renovação da aliança pela segunda geração, a fim de que ela pudesse entrar em Canaã, conquistar os cananeus e obter prosperidade e paz na terra. Para alcançar esse objetivo, Moisés recapitulou os atos passados de Deus em favor de Israel (Dt 1--4.40), instruiu a segunda geração a honrar a aliança mosaica (Dt 4.41--26.19) e explicou o que Deus faria pela nação (cap. 27--34). Nessa terceira parte, Moisés prometeu que Deus abençoaria ou amaldiçoaria Israel com base em sua obediência ou desobediência (cap. 27--28), restauraria a nação no fim de tudo (cap. 29--30) e lhe daria um novo líder (cap. 31--34). Moisés afirmou, de forma persuasiva, que seus ouvintes deveriam "'ouvir' (50 vezes) e 'fazer', 'cumprir', e 'observar' (177 vezes) os mandamentos de Deus com 'amor' (21 vezes)". Moisés escreveu com o objetivo de dar orientação futura à nação, e isso fica evidente em Deuteronômio 17.14-23, onde ele dirige-se aos futuros reis. Ele também escreveu a fim de fazer uma ponte histórica entre o Israel da peregrinação no deserto e o Israel de Canaã, relacionando, assim, o recebimento da lei no Sinai à sua aplicação em Canaã.
Canaã, vista do monte Nebo 

Deuteronômio possui forma de sermão e apresenta uma divisão tripla. O primeiro sermão, situado nos capítulos 1--4, é retrospectivo e histórico. Ele tem por objetivo fazer com que Israel lembre-se do que Deus fez por ele, recitando atos divinos de salvação realizados em seu favor. O segundo sermão, localizado nos capítulos 5--26, é introspectivo, sentimental e de teor legal. Ele conclama Israel a amar a Deus de todo o coração, reverenciá-Lo e servi-Lo. Moisés explica o que Deus espera que Israel faça, expondo os princípios de Sua lei da aliança. O terceiro sermão, encontrado nos capítulos 27--34, é prospectivo e profético. Este convoca a nação a ter esperança, explicando o que Deus fará por Israel e fornecendo um último resumo das exigências da aliança.
O livro contém material narrativo e legislativo. No entanto, seu conteúdo é, em grande parte, persuasivo e composto por sermões, uma vez que representa uma exposição da lei (Dt 1.5). Toda a estrutura do livro pode ser comparada a um tratado de suserania e vassalagem, pois contém as seis partes encontradas em tratados hititas do século 15-13 a.C. Essas seis divisões são: preâmbulo (Dt 1.1-5), prólogo histórico resumido "o relacionamento passado entre as partes" (Dt 1.6--4.40), condições ou obrigações da aliança (Dt 4.41--26.19), "instruções internas e públicas" (Dt 27.2,3; 31.9,24,26), testemunhas da aliança divina (Dt 31--32; 32.1) e maldições e bênçãos que mostram como o suserano reagirá à submissão do vassalo aos termos do tratado (Dt 27--30). O fato de Deuteronômio ter esse formato reforça seu propósito central de incentivar a renovação da aliança, lembrando a segunda geração da importância desse tratado. Os vários subgêneros representados no livro incluem roteiros de viagem, exortações, hinos e poesias.

Destaque do hebraico שמעתי

Escutar. Hebraico, (Shema). A palavra hebraica shema é traduzida como "escutar" ou "ouvir". Ela aparece mais de 1.000 vezes na Bíblia hebraica, transmitindo a ideia de "perceber" ou "entender". Essa palavra capta a essência do livro de Deuteronômio, o qual enfatiza a necessidade que a segunda geração tinha de dar ouvidos à aliança mosaica a fim de obter sucesso na Terra Prometida. Shema é empregada em Deuteronômio 6.4-9 para enfatizar a necessidade dos israelitas de perceber a unidade de Deus, bem como o que significa amá-Lo e reverenciar Sua lei. Como cristãos, também devemos ouvir atentamente a Palavra de Deus a fim de que entendamos o que significa tornar-se o tipo de pessoa que Ele chamou-nos para ser conforme aplicamos Sua verdade em nossa vida.
Judeu no muro do monte do Templo, em Jerusalém, com um filactério amarrado na parte superior do braço esquerdo. O restante da alça dupla desce fortemente amarrado em forma de espiral, simbolizando a dor sofrida durante a escravidão no Egito.
Deuteronômio contém muitas características exclusivas. Primeiro, o livro faz quase 200 referências a terra quando os israelitas preparavam-se para conquistar e possuir a Terra Prometida. Segundo, ele é citado com frequência ao longo das Escrituras: 356 vezes no Antigo Testamento e 80 vezes no Novo Testamento. Deuteronômio é amplamente utilizado por Cristo, não apenas para validar Seu messiado e resumir a lei, como também para retrucar Satanás (Mt 4.4,7,10; Dt 6.16,13; 8.3).
Ao passo que outros livros do Pentateuco revelam novas leis, Deuteronômio ajuda o leitor a aumentar sua apreciação pela lei da aliança já existente. Apesar de o livro conter material legal, ele é diferente de Levítico no sentido de ser benefício para o povo, e não apenas para os sacerdotes. Especificamente, Deuteronômio instrui não apenas o público imediato, mas também os futuros líderes de Israel, além de servir como discurso de despedida de Moisés para a nação, revelando seu último desejo e testamento.

IMPORTÂNCIA TEOLÓGICA

Monte Nebo e o vale do Jordão. 
Monte Nebo é o local onde
Moisés foi enterrado.
Ao longo do livro de Deuteronômio, Moisés reuniu material para fomentar, no coração da segunda geração de israelitas, o desejo por uma renovação da aliança. Ele comunicou esse tema em três sermões poderosos. Primeiro, Moisés argumentou que a obediência à aliança, conforme a vontade de Deus, é justificada pelos Seus atos passados em favor de Israel (Dt 1.1--4.40). Segundo, ele explicou como a segunda geração deveria amar, reverenciar, servir e obedecer a Deus, pois é isso o que significa manter a aliança (Dt 4.41--26.19). Terceiro, Moisés usou, como incentivo adicional para a obediência à aliança (cap. 27--34), o que Deus prometera fazer por Israel.
A teologia de Deuteronômio enfatiza a entrega da lei como um ato da graça de Deus para que Israel estabelecesse uma comunidade de aliança marcada por retidão espiritual e justiça social. No processo, o livro retrata a história como teologia. É "Deus em ação", conforme Hill e Walton expressam tão bem. A história de Israel e as profecias de seu futuro tornam evidente que a graça eletiva de Deus foi derramada sobre esse povo.
Monte Gerizim à esquerda 
e Monte Ebal à direita. 
Moisés disse ao povo que,
no monte Gerizim, 
Josué colocaria metade
das tribos de Israel
e pronunciaria a bênção
de Deus (Dt 27.12) 
A referência cristológica mais direta no livro é a profecia de que Deus, um dia, levantaria um profeta como Moisés (Dt 18.15-18). Essa previsão do profeta vindouro fez com que as pessoas perguntassem a João Batista: És tu o profeta? (Jo 1.21). Não, respondeu ele, Este é aquele quem vem após mim (Jo 1.27), apontando para Jesus como Cordeiro de Deus (Jo 1.29). Desse modo, Jesus cumpriu a lei como sacrifício final por nossos pecados. Além disso, Moisés, à semelhança de Cristo, foi um remidor (Êx 3.10), um mediador (Êx 20.18-21) e um intercessor (Êx 32.7-35). Ele também se assemelhou a Cristo por ter desempenhado três papéis, a saber, de profeta (Êx 34.10-12), sacerdote (Êx 32.31-35) e rei (Êx 33.4,5). Por mais grandioso que Moisés tenha sido, ele foi apenas uma sombra daquele que viria; e, contudo, apareceu como uma das duas testemunhas na transfiguração de Cristo (Mt 17.1-3).

(O Texto tem pequenas películas(*) de artigo publicado originalmente em chabad.org sobre Devarim/Modificado e editado aqui por Costumes Bíblicos)

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