COSTUMES BÍBLICOS: A GENEALOGIA DE JESUS


A GENEALOGIA DE JESUS

A GENEALOGIA DE JESUS
CRISTO veio do Pai (Jo 16.28), mas nasceu de uma mulher (Gl 4.4).
Já os textos proféticos expressava essa dualidade, essas duas origens. O Esperado havia de descer do céu, assim como a chuva desce do céu, e havia de surgir da terra da mesma forma que um grão nasce da terra (Is 44.6-8). Ele é o Maravilhoso Conselheiro, o Deus forte, o Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz (Is 9.6b), mas nasceria como um menino, um filho [que Deus] nos deu (Is 9.6a). Seria, como o fruto da terra, o Renovo do Senhor (Is 4.2); a Primícia de Deus.
Os evangelhos percorreram e depois destacaram alternadamente um e outro aspecto. Jesus é o Christus, o Rei messiânico do mundo, e o Kirios, o Senhor dos céus e da terra; é o verdadeiro Salvador de Israel e o Emanuel que arma sua tenda no meio de Seu povo. Jesus mesmo disse: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo (Jo 8.23).
Falando da humanidade de Cristo, Paulo lembrou que Jesus nasceu da descendência de Davi segundo a carne (Rm 1.3), e os evangelhos de Mateus e Lucas iniciam com a genealogia humana do Mestre; maneira semítica de apresentar os hebreus, que tinham a sua ascendência e sua fecundidade como bênção do Senhor (Dt 7.12-13). A esterilidade, pelo contrário, constituía a mais dura maldição (Is 5.5,6) e era considerada unanimemente como um castigo de algum ignominioso pecado (Lv 20.20).
Quando Isabel, tantos anos estéril, concebeu finalmente, ela louvou ao Senhor por Ele ter apagado o seu opróbrio (Lc 1.25). E os vizinhos foram felicitá-la (Lc 1.58). O filho era a principal alegria de seus pais (Pv 23.24-25). Por isso, uma mulher, ao presenciar as maravilhas de Jesus, louvou o ventre que o concebeu e os peitos que o amamentaram (Lc 11.27). Seu louvor refletia a mentalidade de seu povo.
Para que entendêssemos que Deus não necessita de nossa intervenção, Jesus nasceu de uma virgem. Mas, para que nos convencêssemos de que Ele quis necessitar de nós, nasceu de uma mulher [necessitando dos cuidados de uma mãe]. E apesar do precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado (1Pe 1.19), gerado pelo Espírito Santo, sem a participação do homem, Jesus foi contado em uma família onde figuram nomes como o de Adão, de Perez, de Boaz, de Salomão. Perez, filho de Judá, foi fruto da relação dele com Tamar, sua nora; Boaz era filho de Salmon com Raabe, uma ex-prostituta, e casou-se com Rute, uma moabita convertida ao Deus de Israel; Salomão foi filho de Davi com Bate-Seba, a que foi mulher de Urias (Mt 1.6). Mateus não teve pudor algum em dizer isto. Porque em Cristo seria benditas todas as famílias da terra (Gn 12.3); o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19.10).
Lucas, em contrapartida, silenciou semelhantes detalhes, assim como omitiu outros nomes de reconhecidos pecadores. Trata-se, pois, de duas genealogias. Mas, na hora de buscar a consolação das Escrituras (Rm 15.4), preferimos apoiar-nos em uma explicação maravilhosamente fértil, como quase todas as que os antigos comentaristas apresentam: a genealogia de Mateus, que é descendente, traça a marcha de Deus até o homem para Jesus levar sobre si os pecados da humanidade; Lucas, pelo contrário, traça sua genealogia em sentido ascendente, por isso suas omissões refletem a eliminação dos pecados que Cristo, com o derramamento de seu sangue, obteve, e termina em Deus, assinalando assim também aos nossos olhos e ao nosso coração qual há de ser nossa última meta, nosso último repouso.

UMA SELEÇÃO PRÉVIA DE TRONCO E RAMOS

Aquele esmero com que os judeus retinham a lista dos seus antepassados era fruto de sua consciência de povo eleito e devia-se, sem dúvida, a uma clara inspiração divina. Haviam recebido a promessa do Messias, o qual tinha de nascer da descendência de Abraão. Formava, pois, um povo de eleição, um povo à parte.
Eis que os céus e os céus dos céus são do Senhor teu Deus, a terra e tudo o que nela há.
Tão-somente o Senhor se agradou de teus pais para os amar; e a vós, descendência deles, escolheu, depois deles, de todos os povos como neste dia se vê.(Dt 10:14,15)
Mesmo que na nova humanidade fundada em Cristo não haja distinção entre judeus e gentios (Gl 3.28), estes não passam de ramos silvestres enxertados no tronco de Israel (Rm 11.16-20). Em nosso critério atual, tão hostil a todo tipo de racismo, é custoso admitir isto, mas devemos reconhecer a necessidade de que assim Deus fez para salvar a integridade da Encarnação.
Cúpula da mesquita
 construída no local do templo
onde Jesus foi apresentado.
A encarnação exigia uma seleção prévia de tronco e ramos, e mui precioso caminho desde a terra até a flor, a fim de que a Encarnação se enraizasse verdadeiramente na carne. O Verbo se fez carne. Será que existem duas palavras mais contrárias em hebraico? Carne aqui significa a humanidade. Isaías, conforme esta acepção, promete que toda a carne verá a glória de Deus (Is 40.5). A carne é também a parte mais visível e frágil do homem, e o próprio Isaías no versículo seguinte nos assegura que a carne é como a erva. Logo, a carne é o fator mais oposto ao Verbo, ao Deus transcendente e invulnerável. Mas Cristo possuiu um verdadeiro corpo, e é anátema todo aquele que crer que seu corpo foi celestial e que passou pelo ventre de Maria assim como a água passa pelo cano.
Paulo, contrapondo o Adão terreno, fala-nos do segundo Adão, Cristo, como celestial (1Co 15.47). Mas esse adjetivo se refere unicamente à natureza divina ou à sua singular concepção pelo Espírito Santo nas entranhas de Maria, sem a participação viril. Mas o corpo de Jesus era carnal, passível, mortal, a fim de que todas as ações redentoras por meio de sua paixão e morte fossem verdadeiras. Como supor que Deus nos conduzisse nesse assunto a um engano? Sendo Ele a própria Verdade, não é admissível que em sua obra houvesse nada de mentira.
A humanidade é a massa que foi chamada para  ser fermentada pelo Verbo com o homem tornou-se um grandioso desenvolvimento de sua união hipostática. Deus se misturou com a nossa natureza, a fim de que, graças a essa mistura com o divino, nossa natureza se tornasse divina. O Pai predestinou os homens para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8.29).
Eis por que nos tornamos filhos do Pai: por sermos irmãos do Filho dEle, e não o contrário. A graça conferida hoje ao homem é a graça que Cristo obteve por nós.
Paulo utilizou a frase que à primeira vista é decepcionante: o Filho de Deus se fez semelhante aos homens (Fp 2.7). Tão-somente semelhante? A mais elementar exegese chega a esta conclusão: não se trata de uma semelhança, mas, sim, de uma realidade.
O próprio Paulo se apressa a dizer; o Filho de Deus aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo [...] e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz (Fp 2.7,8). Como Jesus ia morrer, como ia ser crucificado se estivesse desprovido da verdadeira carne? Como representaria os homens em seu sacrifício, se ele não fosse completamente homem? Na Encarnação, Deus tirou de um vencido um vencedor. O primeiro Adão foi vencido, o segundo Adão venceu. Ambos pertencem à mesma raça. Porque, assim o que santifica como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos (Hb 2.11).
Cristo é, certamente, o Soberano do Universo; Ele enche tudo (Ef 4.10). É o mistério de Deus (Cl 2.2), e a Cabeça da Igreja (Cl 1.18). É o Primogênito de toda a criação (Cl 1.15), a razão de todas as coisas, antes de todas (Cl 1.17) e a causa delas, porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na e terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele (Cl 1.16).
Temos de acrescentar que o Verbo que se fez carne goza sobre os homens de uma soberania muito singular, pois sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos (Ef 1.22,23) e que, entre todas as espécies criadas, é a humanidade quem tem vínculos mais estreitos e muito particulares com o Filho de Deus: Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão (Hb 2.16).

AS DUAS NATUREZAS DE JESUS

Os anjos confessam com júbilo que Jesus Cristo é o Senhor (Fp 2.10,11). Mas qual deles pode ser chamado "irmão" unicamente ou foi autorizado a hospedar em sua casa, no sossegado refúgio de seu coração, Jesus Cristo? Deus fez um dia o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1.27);[Não fisicamente, mas, em caráter e santidade, e, ou, com Suas características espirituais]. Muitos séculos mais tarde, Deus se fez um como nós... (Hb 4.15). Ele transformou o modelo em cópia, e a cópia, em modelo.
BELÉM. Cidade de Davi e de
JESUS
Deus se fez um de nós. A inteligência, os sentimentos, a sensibilidade de Jesus funcionavam da mesma forma como funcionam em nós; seu bendito corpo, ao longo de nove meses de gestação, durante trinta e três anos de vida, foi docilmente seguindo o trajeto comum imposto a todo corpo humano. Foi Cristo um homem com mãe e pátria, com seus costumes próprios, com suas fadigas e preferências particulares; um homem que merece crédito, este Jesus (At 2.32).
No entanto, ao mesmo tempo, devido à sua natureza também divina, Ele pôde perfeitamente representar todos os homens e recolher em si tudo quanto se achava disperso na humanidade; tudo quanto Adão havia perdido em sua queda. Por causa de sua encarnação, morte e ressurreição, nós que cremos nele e o recebemos como Senhor, temos o mesmo Espírito dele. E, agora, não existe nenhum pensamento ou sentimento seu que não devamos esforçar-nos para tê-los.
Então, como entender semelhante união de naturezas? Temos à mão analogias que podem ilustrá-la. Mas devemos lembrar que toda analogia consiste em uma semelhança; logo, é um bom meio de compreensão até certo ponto. Dessas analogias ou imagens, há umas mais claras e outras menos claras. Costuma-se citar o ferro incandescente, o cristal atravessado por um raio de Sol, entre outras.

JESUS DESCENDE TAMBÉM DE ADÃO

Ao nascer como homem, Cristo [o Verbo que era Deus e que estava com Deus desde o princípio - João 1.1,2] se submeteu à natureza humana de Adão; aceitou ter um relacionamento filial com seu Pai eterno como uma de suas criaturas. Por isto, Jesus foi nascido de mulher, nascido sob a lei (Gl 4.4), ou seja, Ele estava sujeito às nossas contingências humanas e não só penetrou na história, mas veio para mudar essa história manchada pelo pecado, libertando a humanidade em estado de escravidão por causa daquele que a havia sujeitado (Rm 8.20).
Enquanto homem, Cristo abriu mão de sua glória e de seus atributos divinos (não de seu caráter), e confiou em que o Pai, por meio de seu Espírito que nele habitava, lhe revelaria tudo o que seria necessário à sua vida terrena e ao seu ministério, bem como operaria os milagres que atestariam sua identidade e sua obra messiânica.
Nazaré. A cidade ainda guarda
muitas de suas características
do tempo de Jesus.
Para alguns da liderança dos judeus, era absurdo aceitar que Jesus, tendo sofrido tão grave humilhação, fosse o Filho de Deus, e mais o Emanuel. Mais do que um absurdo, foi um escândalo. Para eles, era inconcebível que Cristo, um indivíduo que nasceu de mulher, que tinha fome e sede, que necessitava da companhia de outros seres humanos, fosse o Messias esperado. A despeito de ele ter nascido de uma virgem, de ter operado tantos milagres, de ter morrido sendo inocente e ressuscitado ao terceiro dia, muitos não atentaram para o cumprimento das Escrituras e não creram naquele que abriu os olhos dos cegos, curou paralíticos e leprosos, libertou cativos por demônios, deu de comer a multidões e proporcionou às almas sedentas a água que salta para a vida eterna.

Filho de Davi

Entre os judeus, era verdade indiscutível que o Messias haveria de nascer da família de Davi. E tanto aos olhos de seus compatriotas como aos de seus discípulos, a descendência de Jesus como Filho de Davi era inegável e estava devidamente comprovada. Mas qual era, na época de Jesus, o significado exato da expressão Filho de Davi? Esse título supõe diretamente que aquele que o ostenta teria a dignidade do rei e o exercício das funções reais.
Era nesse sentido que as turbas o empregavam, e, quando Jesus entrou triunfante nas ruas de Jerusalém e no Templo na condição de Messias, as multidões que lhe deram glórias e hosanas diziam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! (Mt 21.9,15; Mc 11.10; Lc 19.38). Mas, contrariamente ao que as falsas e até extravagantes ideias anunciavam, a realeza de Cristo era, antes de tudo, espiritual e religiosa. Excluída as proezas e ruidosas conquistas militares.
A missão de Jesus como Rei era promover a paz de Deus com os homens e destes uns com os outros. E as pessoas que compreenderam esse propósito creram no Messias como o prometido Salvador, tão poderoso como compassivo, que é capaz de aliviar todas as dores da alma humana subjugada pelo pecado. Elas compreenderam bem esse caráter do Reino de Jesus, por isto muitos se apertavam ao seu redor e imploravam sua piedade, invocando-o como Filho de Davi. Assim é que, havendo Jesus realizado curas e milagres (Mt 9.27; 15.22; 20.30-31), aqueles que foram testemunhas perguntavam uns aos outros: Não é este o Filho de Davi? (Mt 12.23).

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Para que aproveis as coisas excelentes, para que sejais sinceros, e sem escândalo algum até ao dia de Cristo;
Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.
Filipenses 1:9-11

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