COSTUMES BÍBLICOS: Poesia e Literatura de Jó a Cânticos dos Cânticos


Poesia e Literatura de Jó a Cânticos dos Cânticos


A lira, ou kinnor, como a harpa,
é frequentemente mencionada
 no livro de Salmos,
 como sendo uma característica
 da orquestra levítica que executava
 no pátio interno do Templo Sagrado.
Sobre , mais será dito quando se falar sobre a Sabedoria, mais adiante; no entanto, do ponto de vista puramente poético, esse livro já foi considerado uma das obras primas da literatura mundial, pela riqueza e energia da sua linguagem e pelo poder das idéias que expressa.

Nos Salmos, a poesia é colocada em prática para ser "o caminho que conduz às portas do céu" no culto e no ensino, fornecendo palavras inspiradas para as festas públicas e ocasiões na vida dos reis, para pessoas confessarem seus pecados ou pedirem cura, ou se regozijarem com um salvamento ou uma revelação.
O Cântico dos Cânticos, por outro lado, quase não menciona o nome de Deus, mas é uma resposta arrebatadora à criação divina e ao que constitui a sua glória máxima, o dom do amor entre homem e mulher. Sua presença na Bíblia é o sinal mais sutil de que o mundo de Deus não pode ser propriamente dividido em secular e sagrado, e que a santidade não pode ser indiferente à beleza.
Sabedoria
No AT, a Sabedoria é a voz da reflexão e da experiência, e não um simples mandamento ou uma pregação. Somos persuadidos, até provocados, a ver a ligação entre a ordem divina no mundo e as ordens que Deus dá às pessoas, e o absurdo de ir contra os princípios que ele embutiu em sua criação.
Variedade de formas A sabedoria assume várias formas. Um dos recursos favoritos é a comparação vivaz, às vezes expandida em parábola ou alegoria. Qualquer uma dessas três pode ser designada pela palavra hebraica mashal, que também pode ser traduzida por provérbio ou sarcasmo. Um enigma ou dito enigmático é outro meio de levar a pessoa a pensar. Num nível mais profundo haverá reflexão penetrante sobre a maneira como Deus governa o mundo e sobre o propósito da vida humana.
Tal como a poesia, a Sabedoria não está restrita aos livros que classificamos sob esta categoria (no AT, Provérbios, Jó, Eclesiastes), pois provérbios e ditos marcantes são parte de qualquer cultura, e Israel não era exceção. Nas narrativas temos, por exemplo, a fábula de Jotão (sobre as três árvores), o enigma de Sansão, e diversos provérbios. Nos Salmos e oráculos proféticos, o estilo didático da sabedoria aparece de tempos em tempos (p.ex. Sl 1; Is 28.23-29; Jr 17.5-11; Os 14.9). O que confirma a identificação da sabedoria como ingrediente distinto nas Escrituras é que o próprio Israel a ouvia como uma terceira voz ao lado da Lei e dos Profetas. Havia até um provérbio neste sentido: "Não há de faltar a lei ao sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta" (Jr 18.18).

Em provérbios, um sábio experimentado ensina aos jovens uma sabedoria que se baseia no temor de Deus.
Salomão De todas as pessoas que tiveram reputação de sábio, Salomão é o que mais se destaca. Essa reputação não se baseia somente em suas qualidades pessoais, mas também no fato de ter patrocinado o estudo e as artes.  A rainha de Sabá foi apenas um dos muitos visitantes que afluíram a Israel para ouvi-lo e pô-lo à prova. Os nomes e lugares de 1Rs 4.30-33 nos dão uma ideia do mundo intelectual que, por breve tempo, teve sua capital em Jerusalém. Essa abertura para eruditos estrangeiros é refletida em parte na autoria de Pv 30; 31.1-9, que são, ao que parece, obra de convertidos não-israelitas.
A sabedoria do Oriente A literatura de Sabedoria de Israel jamais deu a entender que se desenvolveu num vácuo intelectual. A riqueza das culturas vizinhas está sendo revelada com as descobertas relacionadas à sabedoria do Egito e da Mesopotâmia. Algumas de suas fábulas e alguns de seus ditos populares e preceitos foram conservados, e dizem respeito em grande parte às questões comuns da vida de que tratam os provérbios bíblicos: a disposição de aprender, a sobriedade, a sabedoria no falar, a bondade, a confiança no auxílio divino, a magnanimidade e a amizade. Aqui aparece uma boa dose de mera sabedoria secular, mas boa parte também é ensino sadio e baseado em princípios elevados, por mais que o material bíblico esteja num nível consistentemente mais elevado de fé esclarecida. Outro tipo de literatura destes países lida com os problemas do sofrimento e do sentido da existência, argumentando as questões de forma extensa em monólogos e diálogos poéticos habilmente escritos.
O fato de questões tão profundas estarem sendo discutidas em textos escritos, não só na época de Salomão, mas já uns 1.000 anos antes dele, aliado ao fato de que o Israel do tempo de Salomão estava longe de ser culturalmente atrasado, devia sepultar de vez a noção (ainda corrente em alguns meios) de que, naquele tempo, o estoque de sabedoria de Israel consistia em breves ditos populares que supostamente se transformaram aos poucos em unidades mais longas e de caráter mais religioso e que somente no seu período final assumiram a forma dos discursos concatenados de Pv 1-9, ou das indagações e reflexões de Jó e Eclesiastes. A datação destes exige critérios melhores do que um esquema de evolução religiosa.
Tratamento distinto Embora seja esclarecedor ver que um nível tão alto de debate existia desde tempos remotos, a maneira pela qual o AT trata estes temas continua distinta.
No livro de Jó, Deus é nitidamente o Senhor fiel e justo cujos caminhos, embora inescrutáveis, devem ser aceitos com fé até o fim. Jó não precisa concluir, como um dos sofredores babilônicos, que o que é mau na terra pode ser considerado bom no céu. Também não existe em Jó qualquer tentativa de aplacar a Deus com ofertas, muito menos a possibilidade de desistir e renunciar à fé nele.
E em Eclesiastes o aparente pessimismo do livro tem apenas uma semelhança superficial com o cinismo profundo que aparece na obra babilônica conhecida como Diálogo entre Mestre e Servo, no qual nada tem sentido ou valor e tudo é fruto do capricho. Eclesiastes efetivamente reduz tudo que o mundo oferece a um simples sopro, mas isto é feito exatamente porque fomos criados para algo maior que o tempo e o espaço: o temor de Deus, cuja avaliação de todos os atos e de "tudo o que está escondido" como sendo, ou bom, ou mau,confere sentido a toda a vida (Ec 12.13-14).

A verdadeira sabedoria é passar pela vida, guiado por Deus.
"Confia no Senhor de todo o teu coração", é o conselho que o sábio dá ao seu discípulo, no momento em que este se prepara para a jornada.
Esta expressão, temor de Deus, à qual Eclesiastes chega em sua conclusão, é o ponto de partida de Provérbios (1.7) e o pivô de toda literatura de Sabedoria (veja Jó 28.28; Sl 111.10; Pv 9.10). A filosofia secular tende a considerar o ser humano como a medida de todas as coisas e passa a duvidar se realmente é possível encontrar a sabedoria. Mas o AT com este lema da Sabedoria vira o mundo para o lado certo: coloca Deus como cabeça, sua sabedoria como o princípio criador e ordenador que permeia tudo; e as pessoas, por sua vez, disciplinadas e ensinadas por esta sabedoria, encontram vida e realização na vontade perfeita de Deus.

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Filipenses 1:9-11

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